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Aplicativo alemão alerta usuários sobre impurezas em drogas

Helen Whittle
12 de abril de 2024

Serviço de redução de danos informa sobre os últimos resultados de análises de entorpecentes na Alemanha e em outros países. Teste público de drogas lançado ano passado em Berlim tem alta procura.

Pílulas de ecstasy cor de rosa e com imagem de uma caveira gravada
Potencialmente letal: a demanda por serviços de análise de drogas supera em muito a capacidade de testes em BerlimFoto: Pond5 Images/IMAGO

"Acho que o que aprendemos é que a retenção de informações sobre as drogas está, na verdade, causando danos, porque as pessoas vão consumir drogas do mesmo jeito", diz Philipp Kreicarek, de 35 anos, criador do KnowDrugs, aplicativo que fornece informações sobre os últimos resultados de análises de pureza de drogas, substâncias psicoativas e também dá dicas sobre o uso mais seguro.

Kreicarek se formou na faculdade de serviço social e trabalhou em um serviço de aconselhamento sobre drogas, concentrando-se na redução de danos em casas noturnas e festas. Naquela época, os frequentadores de raves e clubes noturnos recebiam informações sobre pílulas potencialmente perigosas em postos de informações ou consultando sites específicos.

Ele percebeu que muitos simplesmente não estavam cientes de certos riscos. Por exemplo, as drogas para raves, como as pílulas de ecstasy, agora estão altamente concentradas. Às vezes, é provável que contenham até três ou quatro doses em um único comprimido, ou até mesmo uma substância totalmente diferente. Kreicarek pensou, então, que uma melhor maneira de alcançar as pessoas poderia ser por meio de um aplicativo.

"Acho que certos tipos de overdose podem ser evitados com informações honestas", afirma à DW. "Em geral, acho que o conhecimento sobre substâncias psicoativas permite que as pessoas tomem decisões informadas e sigam práticas de uso mais seguras, o que ajudará a reduzir os danos."

KnowDrugs pode ser baixado de forma gratuita, e os usuários não são obrigados a enviar nenhum dado pessoal. Atualmente, ele tem cerca de 80 mil usuários ativos mensais, 87% dos quais estão na Alemanha, principalmente em Berlim. Também é popular em Budapeste, Varsóvia, Londres e Paris.

Kreicarek trabalha em estreita colaboração com centros de aconselhamento sobre dependência e com o novo serviço Drug-Checking Berlin, que o notifica se houver um aviso sobre uma droga específica ou um lote de comprimidos. Essa informação é então emitida para os usuários do aplicativo por meio de uma notificação push.

Kreicarek gostaria que houvesse testes de pureza nas próprias ravesFoto: Sophia Kembowski/dpa/picture alliance

No início deste ano, circularam rumores de que o opioide altamente potente fentanil havia sido encontrado em drogas usadas em raves em Berlim – temores que o Drug-Checking Berlin conseguiu dissipar. O fentanil não foi encontrado em mais de mil amostras analisadas na capital alemã, embora tenha sido detectado em amostras de heroína confiscadas pela polícia em outras partes da Alemanha.

Kreicarek diz que gostaria de ver o serviço de teste de drogas expandido para incluir a verificação de pureza no local em casas noturnas e festivais. "As pessoas que podem obter drogas dentro de uma boate não estão sendo alcançadas neste momento", lamenta.

Patrocínio do governo

A análise de drogas nem sempre foi tão simples. Em 1995, a Eve & Rave, uma associação que promove a cultura rave, introduziu o teste de pureza de drogas nos local das festas em Berlim.

Seus membros foram então acusados pela promotoria pública de posse de drogas ilegais. Embora nenhum deles tenha sido realmente condenado, foi preciso esperar até 2016 para que a administração de Berlim colocasse em prática seu próprio projeto de teste de drogas.

Após anos de disputas legais e pressão de especialistas e ativistas, Berlim lançou em junho de 2023 seu primeiro serviço gratuito e anônimo de teste de pureza de drogas, financiado pela secretaria de Saúde da capital alemã.

Agora, toda terça-feira, as pessoas podem levar pílulas, comprimidos, líquidos e pós para teste em três centros de aconselhamento. Após uma breve consulta, durante a qual são discutidos hábitos de consumo e práticas de uso mais seguras, uma amostra é coletada para análise química, e os resultados são anunciados por telefone ou pessoalmente alguns dias depois.

De junho a dezembro do ano passado, 1.286 pessoas solicitaram o serviço de teste de drogas, mas 566 (44%) delas tiveram de ser recusadas. Um total de 1.092 amostras foram analisadas em 2023, das quais 494 (45,2%) continham concentrações perigosamente altas de agentes psicoativos, estavam contaminadas com substâncias tóxicas ou eram falsas. Em alguns casos, por exemplo, descobriu-se que o pó ou os cristais vendidos como MDMA, ou ecstasy, eram na verdade de cetamina. Ambos são psicodélicos, mas seus efeitos podem variar.

Os serviços de análise de drogas levam a uma redução na quantidade de drogas consumidas e a um risco menor de overdoses, de acordo com um estudo de 2021 realizado pela The Loop, organização sem fins lucrativos do Reino Unido que oferece teste de drogas na comunidade e em eventos. O estudo também constatou que substâncias de baixa qualidade ou mal rotuladas tinham maior probabilidade de serem jogadas fora ou consumidas com mais cautela, e que os usuários de drogas tinham menor probabilidade de misturar substâncias.

Desde 1º de abril, alemães podem ter até três plantas de maconha em casaFoto: Emmanuele Contini/NurPhoto/picture alliance

O serviço de análise de drogas de Berlim está sendo avaliado atualmente por um instituto do hospital universitário Charité, e seu relatório deverá ser disponibilizado no final deste ano.

"Já se pode dizer que a análise de drogas atingiu vários usuários que nunca tiveram contato com o sistema de apoio à dependência antes", diz Harrach. "Isso se aplica a 84% dos usuários a partir de 2023."

Todas as drogas devem ser descriminalizadas?

A Alemanha tornou-se recentemente o mais recente país da UE a legalizar a posse e o consumo de cannabis. A nova lei, que entrou em vigor em 1º de abril, permite que os adultos cultivem até três plantas de cannabis em suas próprias casas e armazenem até 50 gramas de maconha.

Mas muitos ativistas acham que isso deve ser apenas o começo. Philine Edbauer, cofundadora da iniciativa My Brain My Choice (MBMC), acredita que o uso e a posse de drogas deveriam ser descriminalizados.

Edbauer argumenta que o estado atual das pesquisas científicas tem pouco a ver com a percepção do público sobre os perigos das drogas ou com o que ela chama de "a promoção do medo de muitos políticos".

Ela exalta aplicativos como o KnowDrugs e acredita que o serviço de análise de drogas em Berlim ajuda a tornar o uso recreativo de drogas mais seguro, ao mesmo tempo em que conecta as pessoas com profissionais de saúde que podem lhes dar conselhos que podem salvar vidas.

"Isso é muito valioso", elogia Edbauer. "Tornar os serviços de saúde realmente acessíveis e reduzir o estigma de buscar ajuda ou apenas fazer perguntas."

"A realidade é que as pessoas usam drogas de qualquer maneira", acrescenta. "A moralidade está desempenhando um papel importante demais na regulamentação das drogas, em vez de se ouvir os cientistas ou deixar de lado a punição no comércio de drogas e adotar estratégias que realmente funcionem."