Berlinale 2007
13 de fevereiro de 2007O Festival Internacional de Cinema de Berlim costuma buscar um equilíbrio entre o mainstream da indústria cinematográfica (com várias estrelas de Hollywood circulando pela capital alemã) e um espaço aberto a descobertas de autores novos e estéticas não convencionais. Este ano, o cinema coreano parece ser o darling dos organizadores, estando presente nas três principais mostras (Competição, Panorama e Fórum) e tendo um bom destaque na mídia local.
Até mesmo um olhar "pelo buraco da fechadura" para ver um pouco mais da sociedade norte-coreana é permitido ao espectador através de Crossing the line (Cruzando a linha). Dirigido por Daniel Gordon, o filme documenta a biografia de James Dresnok, um norte-americano que, estacionado na fronteira entre as duas Coréias no auge da Guerra Fria, em 1962, resolveu trocar de lado e fugiu para a Coréia do Norte.
Embora tenha sido um entre quatro desertores do Exército norte-americano que optaram pela vida sob o regime comunista no início dos anos 60, Dresnok é o único que ainda vive no país. Apesar de extremamente convencional na forma, o filme é um raro testemunho da vida desses estrangeiros singulares na Coréia do Norte.
Documentários biográficos
Perfis de artistas são outra tendência observada no festival de 2007. Vários longas de ficção ou documentários tentam reconstruir a trajetória de astros como Edith Piaf (La vie en rose), celebridades como o estilista Karl Lagerfeld (Lagerfeld Confidentiel) ou até mesmo de cineastas. Von einem der auszog - Wim Wenders frühe Jahre (De um que se mudou - Os primeiros anos de Wim Wenders), dirigido por Marcel Wehn, procura estabelecer uma relação entre a biografia do diretor alemão e o início de sua carreira no cinema.
Já Tout refleurit (Tudo refloresce), do francês Aurélian Gerbault, é um retrato intimista (e muitas vezes doloroso) da profissão do cineasta a partir de testemunhos do trabalho do diretor português Pedro Costa. Nos sets de filmagem, à mesa de montagem ou simplesmente andando de ônibus por Lisboa, o diretor descreve as reviravoltas da construção de uma seqüência, sua resistência em prever com antecedência o que vai compor seus filmes, a interação com os protagonistas e a riqueza contida na realidade para o processo de construção de seus filmes.
E para o espectador que não está necessariamente em busca das inovações estéticas do cinema japonês ou do último drama húngaro, restam ainda as 15 horas remasterizadas de Berlim, Alexanderplatz, a grande obra de Rainer Werner Fassbinder. Para "resistentes", o clássico de 14 episódios pôde ser visto em apenas dois dias, em sessões de dez da manhã às três da madrugada do dia seguinte.
Talentos, escolas e prêmios
Criado há cinco anos, o Talent Campus é um dos caçulas entre os ciclos do Festival Internacional de Cinema de Berlim. Reunindo este ano 350 participantes com as mais diversas formações, a seção tem entre seus pontos fortes a veiculação digital do cinema pela internet. Entre os profissionais do Working Campus está, entre outros, o diretor alemão Tom Tykwer (Lola, Corra, Lola e O Perfume).
Para os sedentos de novidade, a Berlinale deste ano criou o Cinema Culinário: Coma, Beba e Veja Filmes, um evento gastronômico que acompanha sessões de filmes que giram em torno do assunto.
E também como estratégia de marketing para a indústria do cinema, surgiu não faz muito tempo o selo Berliner Schule, uma "escola" que, teoricamente, reúne o trabalho de alguns cineastas que passaram pela Academia de Televisão e Cinema de Berlim (DFFB). Isso, mesmo que muito pouco una as obras desses diretores – entre eles Christian Petzold, Thomas Arslan e Angela Schanelec – como os próprios não cansam de repetir nas entrevistas que têm dado durante o festival.
Grande possibilidade de premiação no festival tem Die Fälscher (Os Falsários), produção alemã dirigida por Stefan Ruzowitzky. Correto, embora sem qualquer inovação formal ou narrativa, o longa, bem ou mal, toca mais uma vez na principal ferida da história alemã: o nazismo.
Um Urso de Prata para os pequenos Michel Joelsas (ator principal) ou Daniela Piepszyk (atriz coadjuvante) – o Mauro e a Hanna de O ano em que meus pais saíram de férias, do brasileiro Cao Hamburger – seria sem dúvida justo. Mesmo que no contexto da indústria do cinema isso não seja muito provável.