A história de amor entre a alemã Lea Ferno, de 31 anos, e o Brasil começou há sete anos. Estágios no Rio, em São Paulo e em Brasília mudaram o rumo de sua carreira e vida amorosa, além de lhe ensinarem a ter paciência.
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"Se eu não tivesse morado no Brasil, minha vida seria muito mais monótona. Foi lá que descobri o que eu queria fazer da vida. Eu estudava Estudos Latino-Americanos em Colônia e comecei a me interessar pelo Brasil e pelo português. Eu achava o idioma e sua melodia muito bonitos e pensei que tinha que ir para o país para aprendê-lo. Então, consegui dois estágios, um no Rio, por três meses nos estúdios da emissora alemã ZDF, e outro em São Paulo, também por três meses, na fundação alemã Friedrich Ebert.
Essa experiência em São Paulo, em 2010, me marcou para sempre. Eles trabalhavam com projetos sociais. Tinha uma ONG que fazia uma revista escrita por adolescentes e seminários com jovens do Brasil inteiro. Eles eram tão engajados, num país marcado pela pobreza e pela desigualdade. Eu me identifiquei, me deu vontade de ajudar.
Tanto que hoje, sete anos depois, trabalho com algo parecido aqui na Alemanha. Estou na organização Kindernothilfe e dou apoio a projetos sociais com crianças no Brasil. Em novembro, viajo para lá a trabalho. Fico muito feliz em fazer algo que para mim faz sentido e para um país com que me identifico.
Ao mesmo tempo em que quero ajudar, respeito muito o Brasil, não acho que sei mais que as pessoas de lá. Aliás, aprendi muito com os brasileiros. Sempre achei impressionante a paciência. Na fila ou no trânsito, por exemplo. Uma vez o ônibus errou o caminho, e ninguém ficou com raiva. Aprendi que muitas vezes a raiva só atrapalha e que é melhor deixar para lá. Em outros momentos, eu pensava: ‘Gente, agora é hora de reclamar.' É um país mais caótico, mas sempre se consegue escapar com o jeitinho brasileiro, a flexibilidade.
Eu queria aplicar mais isso. Agora que faz tempo que morei lá, já voltei a ser alemã em muitas coisas. Mas quando tenho que andar de trem e reclamo dos pequenos atrasos, penso nas pessoas que passam horas a caminho do trabalho no Brasil e, muitas vezes, fazem isso sem reclamar. E ainda tenho o jeitinho brasileiro todos os dias em casa: meu namorado, um baiano que conheci em Brasília.
Como alemã, gosto muito de planejar, e ele – e conheço mais brasileiros assim – não entende muito bem por que aqui a gente tem que marcar as coisas com antecedência. Por que não se pode simplesmente visitar um amigo espontaneamente, dizer: "Vou passar na sua casa.” Eu preciso desse planejamento, gosto dessa Vorfreude (expectativa), e talvez tenha sido justamente o que me fez organizar várias idas ao Brasil.
Desde os primeiros estágios, no Rio e em São Paulo, eu sempre quis voltar para o país. Fui algumas vezes de férias e consegui um estágio em Brasília em 2012, na Unaids. Entre os amigos que fiz lá, estava uma menina que trabalhava como empregada doméstica e estudava à noite. Fiquei impressionada com essa força de vontade dela. Acho que os brasileiros lidam muito bem com as dificuldades, enquanto aqui muitas vezes se reclama por bobagem.
Tenho contato com pessoas que conheci no Brasil até hoje. Encontrei muita gente simples e acolhedora na rua. As pessoas têm tanta energia. Aliás, tem muita energia em tudo. Também adoro a cultura, a música – MPB, samba, Seu Jorge, Vanessa da Mata – e a dança – forró, samba de gafieira. Conheci meu namorado num grupo de dança. E adoro um simples prato de arroz, feijão, salada e carne e as lanchonetes com sucos frescos.
O país tem tantas riquezas diferentes, com sua mistura cultural, sua natureza. O Brasil tem muitas cores fortes, o verde brilhante, muito sol. Eu gostava de pegar na mão a terra vermelha, que não temos aqui. E tem tantos lugares incríveis, como as praias de Ilhéus, os rios e ilhas do Pará. Uma vez escalei a Pedra da Gávea à noite para ver o nascer do sol. Foi lindo.
Pode até ser que se eu tivesse feito um estágio num projeto social na África, por exemplo, e não no Brasil, minha vida fosse diferente agora. Mas não sei, tem muitos países que acho interessantes, mas não como o Brasil. Talvez minha alma seja um pouco brasileira, sempre me senti em casa lá. Do que mais sinto falta são as pessoas, a alegria, a espontaneidade, o calor. Apesar de todos os problemas do país, acho que dá para ter uma vida muito boa no Brasil. Quem sabe ainda vou morar lá algum dia."
Na série Como o Brasil mudou minha vida, a DW conta a história de alemães que viveram no país.
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O que é típico brasileiro?
O Brasil tem muitas facetas. É difícil dizer que algo é tipicamente brasileiro. Mesmo assim, há características que chamam a atenção de quem é de fora. Veja o que jornalistas estrangeiros no Brasil acham dos brasileiros.
Foto: picture-alliance/dpa
O atraso faz parte do dia a dia
Ao marcar um encontro com um brasileiro, pode-se ter quase certeza de que ele vai se atrasar pelo menos alguns minutos, se não mais de uma hora. Isso é normal, e raramente alguém fica aborrecido. E, quando sabe que o outro não será pontual, você também se acostuma a chegar tarde: o atraso já é levado em conta. Resta a pergunta: Não seria mais fácil todo mundo aparecer no horário combinado?
Foto: Fotolia/olly
O famoso "jeitinho brasileiro"
O termo "jeitinho brasileiro" se refere à forma criativa de resolver problemas e superar obstáculos. Quando você pensa que já tentou de tudo, vem o brasileiro e acaba achando uma solução – por mais inconvencional que ela seja! Pena que, como tudo na vida, o jeitinho não é só usado para coisas boas.
Foto: Colourbox
Cerveja, só geladíssima
Para um brasileiro, a cerveja tem que estar "estupidamente gelada". E, enquanto em muitos outros países, cada um compra a sua garrafinha de 330 ml ou 500 ml, no Brasil as pessoas pedem uma garrafa grande e dividem a cerveja em copos. E, para admiração do turista, a garrafa é colocada num porta-cerveja para não esquentar. Algo impensável na Alemanha!
Foto: Getty Images/AFP/M. Hippenmeyer
Sem arroz e feijão não dá!
A paixão por arroz e feijão de quase todo brasileiro é um fenômeno engraçado. Muitos comem isso todo dia e, e mesmo quando há outras opções na mesa, se servem de arroz e feijão. O estrangeiro pensa: "Deve ser um instinto de sobrevivência!" Quando o brasileiro tem que passar um tempo sem o amado arroz e feijão, parece até que foi privado de uma necessidade básica.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Tondini
Todo brasileiro sabe sambar
Na música brasileira há uma grande variedade de estilos: forró, sertanejo, axé... Mas, no exterior, o Brasil é famoso principalmente pelo samba. Pensa-se que todo brasileiro samba em todas as ocasiões festivas. Seja isso verdade ou não, o fato é que o samba é um dos maiores símbolos brasileiros e até virou produto de exportação. Há centenas de escolas de samba no Japão e na Europa.
Foto: Reuters/S. Moraes
O país do Carnaval
Quando se pensa no Brasil, para muitos a primeira coisa que vem à cabeça é o Carnaval. Pela televisão, a cada ano, espectadores do mundo inteiro admiram as imagens do Sambódromo com os dançarinos e suas fantasias espetaculares. Sem dúvida, o Carnaval é a maior festa popular do Brasil. Porém, de acordo com vários estudos, mais da metade dos brasileiros afirma não gostar muito de cair na folia.
Foto: Reuters/R. Moraes
Paciência e otimismo
É incrível a paciência e o otimismo que o brasileiro tem em relação ao futuro ou quando algo não funciona. Em vez de criar cenários sombrios, ele confia que "vai dar tudo certo" e espera até as coisas se ajeitarem. Um estudo do Instituto Gallup World Poll realizado em 138 países apontou que os brasileiros são o povo mais otimista do mundo.
Foto: imago/Schreyer
Comunicativos e alegres
Os brasileiros realmente sabem como aproveitar a vida: gostam de bater um papo, se reunir, fazer churrasco... É o jeito sociável e extrovertido deles que faz turistas e imigrantes amar o país. Mesmo que muitos brasileiros sejam assim, é claro que há exceções: pois ser comunicativo e alegre não é só uma questão da cultura, mas também de cada personalidade.
Foto: Fotolia/Andres Rodriguez
Educados até demais
O brasileiro é educado e não muito direto. Muitas vezes, prefere ficar calado para evitar irritação e embaraço. Ele não gosta de enfrentar situações desagradáveis e, por isso, às vezes se torna um desafio obter um claro "sim" ou "não" dele. Bom, ser educado não é ruim, mas, se for demais, atrapalha!
Foto: Imago/K. M. Höfer
Viciados em redes sociais
WhatsApp, Facebook, Snapchat. Quem tiver, por exemplo, amigos brasileiros e amigos alemães nas redes sociais, provavelmente vai notar uma diferença no comportamento online. Enquanto o alemão evita mostrar muito da vida privada na internet, o brasileiro é bastante ativo. Um estudo de 2012 apontou que os brasileiros são o povo mais viciado em Facebook.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kahnert
Brasileiro é machista
Numa festa, uma mulher pode estar certa de que alguém vai flertar com ela se não tiver um namorado ao lado. Até certo ponto, tudo bem, mas em geral ele não se conforma com uma rejeição, ficando chato e insistente. Em situações assim, fica evidente que no Brasil há uma cultura de dominação masculina. Embora nos últimos anos já tenha mudado muito, o machismo ainda está impregnado na sociedade.
Foto: Fotolia/snaptitude
Democracia racial?
Seja descendente de italiano, alemão, japonês ou africano, no Brasil, todos vivem juntos e se sentem brasileiros em primeiro lugar. Em países europeus, onde a integração de imigrantes é difícil, isso parece um milagre. Só que, além da aparência, há sim desigualdade no Brasil. Estudos mostram que negros são discriminados. E a maioria dos pobres no Brasil são negros; e a maioria dos ricos, brancos.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Quem é a mais bela de todas?
Unhas perfeitas, visitas semanais ao salão de beleza, horas em frente ao espelho. A mulher brasileira adora cuidar do próprio corpo e se arrumar. Segundo um estudo internacional da empresa de cosméticos Avon, ela se importa mais com a aparência do que qualquer outra mulher no mundo.
Foto: picture-alliance/dpa
Orgulho e vergonha ao mesmo tempo
A atitude do brasileiro em relação à própria nacionalidade é um pouco paradoxal: por um lado, ele adora o país, tem orgulho da cultura, da natureza, de tudo. Por outro lado, nota-se certo "complexo de vira-lata". É uma expressão criada pelo escritor Nelson Rodrigues, que significa que o brasileiro se acha inferior em comparação com outras nacionalidades e não tem muita fé no próprio país.