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Aproximação com Cuba acentua polarização entre democratas e republicanos

18 de dezembro de 2014

Com apoio dos exilados cubanos, rejeição incondicional a uma normalização com o regime Castro é antiga bandeira dos conservadores dos EUA. Clinton, provável candidata democrata à presidência, defende decisão de Obama.

Foto: picture-alliance/dpa/F. Erichsen

A iniciativa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de restabelecer as relações diplomáticas com Cuba atinge um ponto nevrálgico da política partidária americana. A polarização se faz sentir especialmente entre os possíveis candidatos à sucessão na Casa Branca em 2016, como a democrata Hillary Rodham Clinton e diversos políticos republicanos.

A ex-secretária de Estado, correligionária de Obama, apoia os planos de uma normalização, depois de mais de 50 anos de cisma entre os dois Estados. "Apesar das boas intenções, nossa política de isolamento, mantida há décadas, só fortaleceu a posse de poder pelo regime Castro", comentou, num comunicado.

"A melhor forma de mudar é expor o povo aos valores, informações e confortos materiais do mundo externo. A meta do engajamento crescente dos EUA, nos próximos dias e anos, deveria ser encorajar reformas reais e duradouras para o povo cubano", defendeu Clinton.

Republicanos atacam Obama

A inesperada decisão do presidente encontrou respaldo até mesmo de instituições conservadoras, como a confederação de agricultores American Farm Bureau Federation (AFBF).

A Câmara de Comércio dos EUA (USCC), com tradição como importante lobby de apoio aos candidatos presidenciais do Partido Republicano, saudou as medidas previstas – que incluem a abertura de uma embaixada em Havana e o relaxamento das restrições econômicas e de viagem – por "ajudarem a livre empresa a florescer".

Hillary Clinton (d) e secretário de Estado John Kerry: aposta democrata no fim da anacrônica Guerra FriaFoto: MANDEL NGAN/AFP/Getty Images

Mas esse aplauso não é partilhado por boa parte dos principais políticos conservadores do país. O governador da Flórida, Jeb Bush – que nesta semana anunciou planos para "explorar ativamente" sua participação nas eleições presidenciais de 2016 –, criticou a decisão de Obama, que minaria os esforços de criar "uma Cuba livre e democrática".

Segundo o republicano, desse modo seriam premiados ditadores "com um desastroso histórico nos direitos humanos". Antes do anúncio do presidente democrata, Jeb Bush havia reforçado publicamente seu apoio ao embargo comercial contra o Estado insular.

Lindsey Graham, igualmente cogitado como candidato republicano em 2016, aventou que as ações de Obama poderiam afetar as relações entre os Estados Unidos e o Irã – além de serem o prenúncio de "um capítulo mais danoso para a segurança nacional americana". Graham foi secundado em sua opinião pelo senador John McCain, que enfrentou e foi derrotado por Obama no pleito de 2008.

Outro possível concorrente à presidência, o senador da Flórida Marco Rubio, de ascendência cubana, condenou a retomada de relações como apaziguamento do regime comunista e "um tremendo golpe para as esperanças de todos os oprimidos ao redor do planeta".

Para Rubio, o acordo de troca de prisioneiros políticos, que trouxe perspectiva de uma distensão cubano-americana, é "inexplicável", já que "a Casa Branca concedeu tudo e ganhou pouco".

Na opinião do governador do Wisconsin, Scott Walker, Havana não realizou mudanças internas suficientes que justifiquem essa guinada na política de Washington. Para o senador texano Ted Cruz, a administração Obama estaria sendo "manipulada por ditadores brutais, cuja única meta é manter o poder".

Júbilo em Havana por perspectiva de fim do embargo americanoFoto: Reuters/Stringer

De olho nos eleitores do exílio cubano

A virulência da rejeição republicana a qualquer tipo de acordo com Havana é ditada, por um lado, pela manutenção da linha dura anticomunista, defendida pelo partido há décadas e remanescente da Guerra Fria; mas também pelo afã de garantir para si o apoio dos cubanos exilados do sul da Flórida.

Formada em grande parte por refugiados da Revolução Cubana de 1959 e seus descendentes, essa comunidade reúne cerca de 70% dos 2 milhões de cubano-americanos, constituindo uma força eleitoral respeitável.

No dia seguinte ao anúncio presidencial, dezenas se reuniram em protesto na Calle Ocho, no coração do bairro Little Havana, em Miami. "É uma traição. Essas conversações só vão beneficiar a Cuba", resumiu um dos irados manifestantes.

Porém, mesmo em meio àqueles tradicionalmente conservadores e opositores incondicionais do regime dos irmãos Fidel e Raúl Castro, vem ocorrendo uma sensível variação de opinião.

Senador cubano-americano Marco Rubio, eventual candidato republicano em 2016: "não" radical a aproximação com regime CastroFoto: picture-alliance/dpa

Segundo um estudo realizado pelo Pew Research Center em 2013, menos da metade dos eleitores cubano-americanos registrados votam nos republicanos, enquanto, uma década atrás, a percentagem era de 64%. No mesmo período, o apoio aos democratas dobrou, passando de 22% para 44% da comunidade dos exilados.

Ainda assim, Melquíades Rafael Martinez – que fugiu ainda adolescente do comunismo caribenho, tornando-se o primeiro senador de origem cubana dos EUA –, aponta os riscos de um apoio aberto aos planos de normalização para a eventual candidata democrata Hillary Clinton: "É melhor ela torcer para que eles executem a coisa direito. Senão, vai se arrepender por ter tomado essa posição."

AV/ap/afp/rtr

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