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PolíticaFrança

Aproximação com ultradireita racha conservadores na França

13 de junho de 2024

Grupo que se opõe a aliança com Le Pen expulsa presidente da própria sigla, mas ele se recusa a sair. "Nós dizemos as mesmas coisas, então vamos parar de inventar uma oposição imaginária", disse, ao justificar coalizão.

Uma mulher loira de meia idade em primeiro plano e, ao fundo, um homem mais jovem de terno e gravata
A deputada Marine Le Pen, ícone da ultradireita francesa; o partido dela, o Reagrupamento Nacional, é pivô de um racha entre conservadoresFoto: Sarah Meyssonnier/REUTERS

O pouco que restava da centro-direita que sustentou a França desde 1958 acabou de se fragmentar nesta quarta-feira (12/06) com a recusa de Eric Ciotti, do partido conservador Os Republicanos (LR), em aceitar a expulsão do partido que ele mesmo presidia até então e a insistência dele na manutenção da aliança com o Reagrupamento Nacional (RN), sigla da ultradireitista Marine Le Pen.

A aliança havia sido anunciada por Ciotti no dia anterior, após a vitória do RN nas eleições europeias e a subsequente convocação de um novo pleito para a Assembleia Nacional pelo presidente francês Emmanuel Macron.

"Nós dizemos as mesmas coisas, então vamos parar de inventar uma oposição imaginária", afirmou Ciotti na terça à emissora de TV TF1. "Isso é o que a grande maioria de nossos eleitores quer. Eles estão nos dizendo: 'façam um acordo.'"

A movimentação escandalizou correligionários de Ciotti e surpreendeu observadores políticos ao quebrar com o que, até então, era considerado um tabu no país.

Em reação, a secretária geral do LR, Annie Genevard, anunciou a expulsão de Ciotti. Ela assumiu a presidência da sigla interinamente ao lado do eurodeputado François-Xavier Bellamy.

"Ele realizou negociações secretas sem consultar nossa família política e ativistas. Quebrou, portanto, com os estatutos e a linha do LR", disse Genevard, acrescentando que o partido seguiria um caminho independente, com seus próprios candidatos nas eleições ao Parlamento francês, em vez de embarcar em uma aliança incerta com nacionalistas da ultradireita.

Ciotti, porém, rebateu que a decisão da executiva do partido era inválida e que fora realizada em violação flagrante dos estatutos do partido.

"Nenhuma das decisões tomadas nessa reunião tem consequências legais. Eu sou e continuo sendo presidente eleito do nosso partido", escreveu Ciotti no X (antigo Twitter).

Sabotagem

Antes da reunião que determinou a expulsão dele, Ciotti orientou funcionários que estavam na sede do partido a saírem e fecharem o imóvel, de modo a sabotar o encontro. Com isso, os membros da executiva tiveram que caminhar por 500 metros até um local improvisado para deliberar sobre o caso.

O LR tem atualmente 62 de 577 deputados, controla o Senado e também um bom número de prefeituras. Ainda não se sabe, contudo, quem serão os candidatos do partido à Assembleia Nacional, nem quantos dos atuais deputados estão dispostos a se aliarem à ultradireita para manter seus mandatos.

Macron: "Estão dando as costas à herança conservadora da França"

Ao comentar a aliança de Ciotti com a ultradireita, Macron disse que membros do LR estavam dando as costas para a herança conservadora da França, incluindo ícones como Charles de Gaulle, Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy.

O presidente francês Emmanuel MacronFoto: Michel Euler/AP Photo/picture alliance

"Estamos vendo as máscaras caírem desde a noite de domingo", afirmou, aludindo às movimentações dos partidos à direita e à esquerda desde que anunciou novas eleições legislativas. "Diria que esse é um julgamento da verdade entre os que querem que seus próprios interesses floresçam e os que querem que a França floresça."

Em reação ao fiasco nas eleições europeias, Macron dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para a Assembleia Nacional, desencadeando uma corrida por alianças entre os partidos.

As movimentações ocorrem até mesmo na ultradireita: sobrinha de Le Pen, a eurodeputada Marion Marechal vai deixar seu partido, o anti-islã Reconquista, para se juntar à tia. A sigla teve 7% dos votos nas eleições presidenciais de 2022 e 5,5% dos votos na eleição europeia.

Na esquerda, as duas principais forças, a França Insubmissa (LFI) e o Partido Socialista (PS) disseram ter chegado a um acordo que incluirá verdes e comunistas.

A decisão de Macron de convocar eleições antecipadas – a serem realizadas em 30 de junho e 7 de julho – é considerada uma tacada arriscada. Se perder, Macron terá que governar até o fim de seu mandato, em 2027, ao lado de um primeiro-ministro de oposição – na semi-presidencialista França, o presidente depende de um primeiro-ministro apontado pelo Parlamento para assegurar a governabilidade.

ra (EFE, dpa, ots)