Aquecimento global é "inequívoco", diz relatório dos EUA
3 de novembro de 2017
Documento elaborado por agências federais do país aponta "influência humana" nas mudanças climáticas. Afirmações contrastam com ações do presidente Trump contrárias à proteção climática.
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O governo americano divulgou nesta sexta-feira (03/11) um extenso relatório que aponta que o aquecimento global é "inequívoco" e "muito provavelmente" causado pela "influência humana" . O tom alarmista do documento, que foi elaborado por 13 agências federais dos EUA, contrasta com ações do presidente Donald Trump, como o incentivo ao consumo de combustíveis fósseis e a retirada do país do Acordo de Paris.
"Não há nenhuma alternativa convincente para o aquecimento global do último século que seja baseada na mesma extensão de evidências", diz o estudo, cujos autores incluem cientistas de agências como a Agência de Proteção Ambiental e a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera.
Mesmo com esse tom, o documento passou pelo crivo da Casa Branca antes de receber autorização para a publicação. Ao todo, mais de 50 cientistas participaram do estudo, que aponta ainda que a média global do nível dos oceanos deve aumentar "pelo menos vários centímetros nos próximos 15 anos devido ao aquecimento global”.
O relatório ainda aponta que "o clima global deve continuar a mudar ao longo deste século". "A magnitude das mudanças climáticas além das próximas décadas dependerá principalmente da quantidade de gases de efeito estufa emitidas globalmente", aponta o estudo.
O documento também afirma que a Terra vem experimentando picos de temperatura por três anos seguidos e que seis dos últimos 17 anos foram os mais quentes já registrados no planeta. Por fim, aponta que catástrofes naturais, como furacões e enchentes, custaram 1,1 trilhão de dólares aos EUA desde 1980 e que a tendência é que esses fenômenos se tornem cada mais comuns.
Contraste com posições de Trump
Segundo o jornal Washington Post, a existência e a divulgação do relatório mostram que o establishment científico do governo "continua a operar mesmo com a ação de membros do governo no sentido de minimizar e depreciar" esse tipo de pesquisa.
Membros do governo Trump como o Secretário de Energia, Rick Perry, e o chefe da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, regularmente questionam a extensão da "influência humana" nas mudanças climáticas. O próprio Trump já chegou a classificar no passado o aquecimento global como uma "boataria" inventada pelos chineses.
"Este é um relatório do governo federal cujo conteúdo passa completamente por cima das suas políticas e também passa completamente por cima das declarações de altos membros da administração", disse ao WSP Phil Duffy, diretor do Woods Hole Research Center.
Já o jornal New York Times apontou que cientistas disseram que as conclusões do relatório criaram uma situação incomum em que "as políticas do governo caminham na direção oposta à ciência que ele produz".
Ainda segundo o jornal, o relatório já provocou críticas de céticos, que apontaram que as conclusões são o produto "de remanescentes do governo Obama".
JPS/ots
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Patrimônios mundiais ameaçados pelo aquecimento global
O que a Mata Atlântica, a estátua da Liberdade e a grande barreira de corais australiana têm em comum? Esses destinos turísticos podem desaparecer ou sofrer profundas mudanças por causa das alterações no clima.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Mata Atlântica, Brasil
Um dos paraísos protegidos pela Unesco, a Mata Atlântica já enfrenta ameaças como o desmatamento, a caça indiscriminada e a ocupação irregular. Localizada próximo ao litoral, a região também corre riscos com enchentes, secas, deslizamentos de terra e outros eventos climáticos potencializados pelo aquecimento global.
Foto: picture-alliance/dpa
Floresta tropical de Bwindi, Uganda
Quase a metade dos gorilas que ainda vivem livres na natureza em todo o mundo estão em Uganda. São cerca de 880 animais. Mas o aumento da temperatura leva a população que vive em áreas vizinhas à floresta a ocuparem áreas mais frescas. Para os gorilas sobra menos espaço para viver. O contato também aumenta os riscos de disseminação de novas doenças.
Foto: Rainer Dückerhoff
Lago Niassa, Malaui
Altas temperaturas fazem com que a água do gigantesco lago Niassa evapore. O período de chuvas tem se tornado mais curto e a seca se estende cada vez mais. Com isso, o lago tem cada vez menos água. Este é um problema tanto para o ecossistema quanto para os pescadores que vivem do que retiram do lago e as empresas que oferecem mergulhos para turistas.
Foto: DW/Johannes Beck
Vale da Lua, Jordânia
Gargantas estreitas, penhascos e uma vista espetacular são alguns dos pontos altos deste patrimônio mundial. Mais de 45 mil pinturas rupestres, algumas com até 12 mil anos, são uma atração turística. Mas a água na região está ficando ainda mais escassa devido às mudanças climáticas e ameaça animais e plantas que vivem nesta área.
Foto: picture-alliance/dpa
Ilhas Chelbacheb, Palau
Não é surpresa que as 400 ilhas Chelbacheb recebam mais de 100 mil turistas por ano. Os vilarejos antigos, lindas lagunas e recifes de corais fazem de lá um paraíso no Oceano Pacífico. Ainda assim, com a temperatura do mar subindo e a água ficando mais ácida, os corais são danificados e ficam brancos, causando seu extermínio.
Foto: Matt Rand/ The Pew Charitable Trusts
Ilha de Páscoa, Chile
As estátuas Moai na ilha chilena atraem a cada ano 60 mil visitantes. A erosão da costa e a elevação do nível do mar ameaçam as estátuas.
Foto: picture-alliance/dpa/Maxppp/G. Boissy
Estátua da Liberdade, Estados Unidos
A Estátua da Liberdade sofre com tempestades cada vez mais fortes e o aumento do nível do mar. Em 2012 , o furacão Sandy danificou a infraestrutura da ilha onde fica a estátua. Alguns acreditam que é apenas uma questão de tempo até que a estátua em si seja avariada.
Foto: picture-alliance/United Archives/WHA
Cartagena, na Colômbia
A colombiana Cartagena de Índias fica a apenas 2 metros acima do nível do mar. Principalmente o belo centro histórico e portuário da cidade fundada em 1533 estão ameaçados.
Foto: Getty Images
Veneza, na Itália
Embora o fenômeno da "acqua alta" não seja novidade em Veneza, ele está ocorrendo com cada vez mais frequência. E como um dos pontos mais baixos da cidade é a Praça de São Marcos, esta área especialmente turística é uma das mais comprometidas. Em longo prazo, o aquecimento global tende a agravar o problema.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiorde Ilulissat, Groenlândia
Os icebergs derretem e se partem. Quando o permafrost, o solo permanente gelado, descongela, desaparecem com ele também os sítios arqueológicos. Turistas visitam o fiorde para vivenciar o "Marco Zero" da mudança climática. Para o gelo, o efeito é devastador, mas isso não impede mais e mais pessoas de irem até lá para ver icebergs antes que desapareçam para sempre.