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Arábia Saudita é grande rival do Irã no Golfo Pérsico

Chamselassil Ayari (ca)27 de maio de 2013

Irã e Arábia Saudita travam batalha pela supremacia regional. Iraque, Líbano, Barein e, em particular, Síria são palcos dessa crescente rivalidade. A queda dos regimes locais poderia favorecer os sauditas.

Foto: REUTERS

O conflito entre a Arábia Saudita, que é uma monarquia sunita, e o Irã, de maioria xiita, pode ser visto no exemplo da Síria: enquanto os sauditas exigem a renúncia do ditador Bashar al-Assad, fornecendo armas à oposição com a ajuda do dinheiro saudita, Teerã, por outro lado, presta ajuda ao regime sírio, enviando, segundo relatos e avaliações de especialistas, até mesmo tropas especiais para sufocar a revolta. Além disso, a milícia xiita libanesa Hisbolá, que é em grande parte financiada pelo Irã, luta ao lado do regime Assad.

O fato de a democracia não ser o motivo do apoio saudita ao governo sírio pode ser constatado no vizinho Barein, cuja população é, em sua maioria, xiita: no início de 2011, a Arábia Saudita enviou até mesmo tropas e tanques para reprimir uma revolta popular apoiada predominantemente por xiitas contra a autocrática família governante sunita. Teerã reagiu com protestos – e incitou abertamente os xiitas do Barein a darem prosseguimento ao levante.

Revoluções árabes intensificaram rivalidade

A rivalidade entre sauditas e iranianos pela supremacia regional não é algo novo. A novidade, no entanto, está no fato de essa rivalidade se fazer sentir cada vez mais abertamente em um número cada vez maior de vizinhos. "A Primavera Árabe somente acelerou um desenvolvimento que temos observado desde 2003", disse Guido Steinberg, especialista em Oriente Médio do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

Rei Abdullah, da Arábia Saudita, mantám boas relações com OcidenteFoto: AP

Há numerosas razões para essa rivalidade: tanto a Arábia Saudita quanto o Irã são potências geopolíticas na região. A Arábia Saudita segue o wahabismo, uma compreensão particularmente conservadora do Islã sunita, o país vê-se como um reduto sunita e guardião dos mais importantes lugares sagrados do Islã.

O Irã, por sua vez, possui também uma formação estritamente islâmica, sendo o único Estado xiita desse tipo. Em termos de área, ambos são pesos-pesados na região e estão entre os maiores exportadores de petróleo do planeta. E enquanto a Arábia Saudita, juntamente com os demais Estados do Golfo, formam uma aliança estratégica com os EUA, o Irã mantém cooperações com países como Rússia, Coreia do Norte ou Venezuela.

Desconfiança sobre a crescente influência iraniana

Um dos principais motivos para a atual rivalidade entre sauditas e iranianos foi, de acordo com Steinberg, a invasão do Iraque pelos EUA e a subsequente queda do ditador Saddam Hussein, o arqui-inimigo do Irã. "Os sauditas não viram isso, de forma alguma, como uma libertação do país, mas como a entrega do Iraque para o Irã", afirma Steinberg.

De fato, desde a queda de Saddam Hussein, a influência iraniana no Iraque aumentou consideravelmente – a população de maioria xiita vivenciou um aumento considerável. Líderes políticos xiitas, como o primeiro-ministro Nuri al-Maliki, mantêm laços estreitos com Teerã. Partidos políticos são patrocinados com dinheiro iraniano. Milícias e combatentes, que fazem parte das forças de segurança iraquianas, foram parcialmente treinados no Irã.

Não só a Arábia Saudita, mas também muitos outros países vizinhos observam com desconfiança o aumento de poder por parte do Irã. "Muitos sunitas e seus governos veem isso como a ascensão de uma religião rival", disse Steinberg. Assim, o rei da Jordânia, Abdullah 2°, alertava já em 2004 para o perigo iminente do crescimento xiita na região – referindo-se, além do Iraque, à Síria e ao Líbano, onde há décadas o Hisbolá, apoiado pelo Irã, forma uma espécie de Estado dentro de Estado.

Steinberg: conflito pode se alastrar para outras naçõesFoto: DW/S. Amri

Estas preocupações também têm origem na política interna: em muita nações de predominância sunita na região também há minorias xiitas – somente na Arábia Saudita, de acordo com estimativas, esta minoria representa de 5% a 10% da população. Teme-se que o Irã possa instrumentalizar essa minoria.

Um exemplo típico dessa perspectiva é um comentário publicado pelo site da emissora Al Jazeera, que tem sua base no Catar: O Irã quer "com todas as forças propagar a vertente xiita", alegava o comentário. "Ele defende e apoia xiitas em todos os países com o objetivo de tornar o Irã uma potência não somente na região, mas também em nível internacional."

"Guerra fria" no Oriente Médio?

Tais temores são reforçados pelo programa nuclear iraniano. A Arábia Saudita responde a isso com mais e mais compras de armamentos. Segundo estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz (Sipri), de Estocolmo, os gastos militares sauditas aumentaram 12% no ano passado.

Não há provas de que a Arábia Saudita possui armas nucleares, "mas assim que os iranianos conseguirem construir uma bomba, os sauditas irão reagir imediatamente", profetiza Steinberg e fala de uma "guerra fria" na região. Do ponto de vista da Arábia Saudita, tal guerra já começou há bastante tempo. Vivencia-se hoje "uma guerra fria do Irã contra os países árabes", comentou o influente jornal Asharq Al-Awsat, impresso simultaneamente em 12 cidades de quatro continentes e que é financiado com dinheiro saudita.

Rivalidades históricas e religiosas

Além da rivalidade histórica entre árabes e persas, interesses geoestratégicos mesclam-se no conflito entre sauditas e iranianos, bem como a concorrência por vezes hostil entre as vertentes islâmicas dos sunitas e xiitas, que já dura quase 1.400 anos. "O conflito religioso precisa sempre de um catalisador político", afirmou o especialista em Oriente Médio Steinberg. Pelo lado saudita, isso pode ser visto no jornal Asharq Al-Awsat.

Aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do IrãFoto: Sajad Safari/AFP/Getty Images

Já o aiatolá Khomeini pretendia exportar o modelo xiita da revolução islâmica por meio da violência armada, escreveu o diário, acrescendo que as atuais lideranças iranianas seguem o mesmo objetivo "por meios sutis".

No entanto, a Arábia Saudita também partiu para a ofensiva religiosa: o país apoia a minoria sunita no Líbano e, na Síria, a oposição, de maioria sunita. O plano por trás disso: quanto mais o Irã for enfraquecido – por exemplo, por meio de uma queda de Assad –, mais forte será a Arábia Saudita, mesmo que dentro da vertente sunita, o país tenha de concorrer com Estados como o Catar ou a Turquia.

Segundo Steinberg, os sistemas políticos de base religiosa no Irã e na Arábia Saudita acirram ainda mais o conflito – ambos procuram justificar seu direito à liderança do mundo islâmico. "Se nada mudar fundamentalmente nestes sistemas, o conflito certamente irá durar mais tempo ou mesmo se expandir para outras nações."

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