Arábia Saudita entra para grupo de direitos da mulher da ONU
Elizabeth Schumacher fc
26 de abril de 2017
Escolha de um dos países de pior registro de igualdade de gênero do mundo para Comissão sobre o Status da Mulher causa indignação. "É como tornar um incendiário o chefe de bombeiros da cidade", diz ONG.
Anúncio
Grupos de defesa dos direitos se mostraram indignados após o anúncio da ONU, nesta terça-feira (25/04), de que a Arábia Saudita foi eleita para a Comissão sobre o Status da Mulher da organização.
Ativistas criticaram o fato de um país com um dos piores registros de igualdade de gênero do mundo tenha um representante no comitê, que é formado por 45 membros e tem como missão justamente promover os direitos femininos.
O país ultraconservador impõe uma severa segregação de gênero. As mulheres não podiam votar em eleições locais até 2015, e a violência doméstica foi proibida somente em 2013. A Arábia Saudita é o único país do mundo em que mulheres são proibidas de dirigir.
"Escolher a Arábia Saudita para proteger os direitos das mulheres é como transformar um incendiário em chefe de bombeiros da cidade", afirma Hillel Neuer, diretor da UN Watch – uma organização não governamental que foi elogiada pelo ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por seu trabalho de monitoramento do organismo internacional.
No Twitter, Neuer acusou as potências mundiais de aceitarem subornos ou fazer negócios secretos para votar na Arábia Saudita na eleição para a comissão: "A discriminação dos sauditas contra as mulheres é grosseira e sistemática, na lei e na prática. Cada mulher saudita deve ter um tutor masculino que toma todas as decisões importantes em seu nome, controlando a vida da mulher desde seu nascimento até a morte."
No entanto, nem todos viram a eleição da Arábia Saudita como algo ruim. Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, afirmou que isso era um aceno a Riad: suas recentes ações para melhorar a vida das mulheres devem continuar.
O político holandês de extrema direita, Geert Wilders, que recentemente chamou os marroquinos de "escória" e tentou acabar com a imigração de muçulmanos na Holanda, tirou vantagem da situação para promover a agenda de seu partido.
A ação não foi diferente da estratégia pré-eleitoral de Wilders ao sugerir que sua retórica anti-muçulmana era, em parte, para proteger os direitos das pessoas LGBT na Holanda.
A Arábia Saudita recebeu 47 votos do Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC) para representar os países da Ásia e do Pacífico na Comissão sobre o Status da Mulher entre 2018 e 2022. De acordo com a UN Watch, matematicamente, isso significa que pelo menos 15 democracias liberais votaram na Arábia Saudita na votação secreta.
Dez mulheres que fizeram história
Ao longo da história, houve várias pioneiras, seja na ciência ou na luta pelo voto feminino e o direito à educação. Conheça algumas mulheres que se destacaram no seu tempo.
Foto: Hilary Jane Morgan/Design Pics/picture alliance
Primeira rainha-faraó
Após a morte de seu marido, o faraó Tutmés 2º, Hatschepsut assumiu o trono em 1479 a.C., como rainha-faraó tanto do Alto quanto do Baixo Egito. As duas décadas em que esteve no poder foram de paz e de prosperidade econômica. Seu sucessor, Tutmés 3º, no entanto, tentou apagar todos os vestígios da primeira rainha-faraó da história.
Foto: picture alliance/dpa/C.Hoffmann
Mártir francesa
Na Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França, Joana d'Arc, uma filha de camponeses de 13 anos, teve uma visão. Santos pediram a ela que salvasse a França e trouxesse Carlos 7º ao trono. Em 1430, ela foi presa durante uma missão militar. No julgamento, em que virou heroína da França, foi condenada a morrer na fogueira. Mais tarde, seria reabilitada e, em 1920, canonizada por Bento 15.
Foto: Fotolia/Xavier29
Catarina, a Grande
Com um golpe audacioso, Catarina 2ª derrubou o odiado marido do trono e se proclamou imperatriz da Rússia. Ela provou sua capacidade de governar ao dominar todo o território russo e liderar campanhas militares até a Polônia e a Crimeia. Graças a isso, Catarina é a única governante do mundo com o epíteto "a Grande".
Foto: picture alliance/akg-images/Nemeth
Monarca perspicaz
Quando Elisabeth 1ª ascendeu ao trono britânico, ela assumiua supremacia sobre um país em revolta. Ela acabou conseguindo apaziguar a guerra religiosa entre católicos e protestantes, e trouxe uma era de prosperidade ao império britânico. A cultura viveu seu auge com Shakespeare e os navios britânicos derrotaram a armada espanhola.
Foto: public domain
Feminista radical
Em 1903, Emmeline Pankhurst (1858-1928) fundou o movimento feminista no Reino Unido. Na luta para que as mulheres pudessem votar, fez greve de fome, incendiou casas e foi condenada. Em 1918, conseguiu que mulheres a partir dos 30 anos pudessem votar. Morreu em 1928, ano em que começou a vigorar na Inglaterra o sufrágio universal para as mulheres.
Foto: picture alliance/akg-images
Revolucionária alemã
Num tempo em que as mulheres ainda não podiam votar, Rosa Luxemburg estava à frente do revolucionário movimento social-democrático alemão. Cofundadora do movimento de esquerda Liga Espartaquista e do Partido Comunista da Alemanha, tentou acelerar o fim da Primeira Guerra Mundial com greves em massa. Após a repressão da revolta espartaquista, em 1919, ela foi assassinada por militares alemães.
Foto: picture-alliance/akg-images
Grande pesquisadora
Marie Curie (1867-1934) foi uma das pioneiras na pesquisa da radioatividade, o que inclusive lhe rendeu um Nobel de Física, em 1903, mas também os sintomas da então ainda desconhecida doença provocada pela radiação. A descoberta dos elementos Rádio e Polônio lhe valeu o Nobel de Química em 1911. Após a morte do marido, Pierre, ela assumiu sua cátedra, tornando-se a primeira professora na Sorbonne.
Foto: picture alliance/Everett Collection
Diário revelador
"Sua Anne". Assim Anne Frank termina o diário que escreveu entre 1942 e 1944. Na última foto, a garota de 13 anos ainda sorri despreocupada. Dois meses mais tarde, em julho de 1942, ela se mudaria para o esconderijo em Amsterdã. Ali ela viveu na clandestinidade até ser deportada para Auschwitz, onde morreu em março de 1945. Seu diário é um dos mais importantes testemunhos do Holocausto.
Foto: Internationales Auschwitz Komitee
Primeira Nobel africana
"A primeira verde da África" escreveu um jornal alemão referindo-se a Wangari Maathai. Desde os anos 1970, ela se engajava tanto pelos direitos humanos quanto pela preservação do meio ambiente. Com a ONG Movimento Cinturão Verde ela plantou árvores para frear a desertificação. Em casa, no Quênia, ela muitas vezes foi ridicularizada. Mas, em 2004, seu trabalho foi coroado com o Prêmio Nobel da Paz.
Foto: picture-alliance/dpa
Símbolo do direito à educação
Ela tinha 11 anos em 2009 quando falou à imprensa sobre os horrores do Talibã no Paquistão. Quando sua escola para meninas foi fechada, ela lutou pelo direito à educação. Em 2012, sobreviveu a um atentado à bala. Já recuperada, escreveu a autobiografia "Eu sou Malala". Em 2014, com 17 anos, ganhou o Nobel da Paz por defender os direitos de meninas e mulheres.