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Arca de Noé Botânica

15 de junho de 2010

Banco genético numa ilha do Ártico já contém mais de 500 mil sementes e no futuro deverá armazenar todas as espécies vegetais do planeta. E talvez seja a chave para a sobrevivência da humanidade.

Banco de sementes árticoFoto: AP

Na ilha ártica de Spitsbergen, na Noruega, a quase 1.500 quilômetros do Polo Norte, estão armazenadas mais de meio milhão de sementes de todo o mundo. Em um abrigo subterrâneo do Svalbard Global Seed Vault (Banco Mundial de Sementes de Svalbard), sob camadas de permafrost, o material está protegido de guerras, catástrofes ou da mudança climática global.

Local mais seguro do mundo

A "Arca de Noé botânica" é mantida pelo governo norueguês e pela Global Crop Diversity Trust (Fundo de Diversidade Global de Plantas Cultiváveis) desde 2008, na confiança que, mesmo no caso da pior catástrofe, ali estaria a base para um recomeço da humanidade, assim como um importante elemento para a segurança alimentar.

Ao escolher-se o local, o interior da montanha próxima a Longyearbyen, 130 metros acima do Mar Ártico, ele foi considerado o "mais seguro do mundo".

Vista da Ilha de Spitsbergen, NoruegaFoto: DW/Irene Quaile

Tão maior foi a inquietação internacional quando, no ano seguinte à inauguração, a entrada do abrigo foi danificada pelo derretimento do permafrost. Os reparos ainda estão em curso, porém isso não representa qualquer perigo para os grãos armazenados, assegura Roland von Bothmer, professor de Genética Botânica na Universidade de Agricultura da Suécia.

Ele é uma das poucas pessoas a terem acesso à caixa-forte, aberta apenas poucas vezes ao ano. Trajando vestimentas térmicas, a descida é feita por um túnel de concreto de cerca de 100 metros de comprimento até uma porta de aço, ao longo do percurso o gelo cintila nas paredes. Von Bothmer esclarece tratar-se de uma antecâmara cuja segunda porta só é aberta depois de fechar-se a da entrada.

Backup global

A caixa-forte é como um gigantesco freezer. Para padrões árticos, o armazém que a antecede é relativamente temperado, pois o permafrost tem uma temperatura natural de -6ºC a -5ºC. O local só será utilizado quando o depósito principal estiver repleto, algumas prateleiras já estão preparadas. O professor Von Bothmer demonstra:

"Aqui temos amostras de sementes embaladas a vácuo, vindas da Dinamarca e de Nova Délhi. Elas foram secas, o componente líquido é de apenas 5% a 6%. Elas são trazidas numa caixa escura; nós as registramos e colocamos a caixa no tesouro."

As informações sobre os grãos armazenados são acessíveis a qualquer pessoa, através da internet. O material permanece propriedade de quem o armazenou, geralmente um banco de sementes ou autoridades públicas de agricultura.

Geralmente os países possuem seus próprios bancos de sementes, porém as duplicatas em Spitsbergen formam uma espécie de "backup global".

Biodiversidade ameaçada

"O mais importante é armazenarmos as duplicatas em segurança, para, caso necessário, podermos devolvê-las aos proprietários, por exemplo, se os originais se perderem. No mundo inteiro acontecem problemas. Considere o Haiti, ou os deslizamentos de terra, outras catástrofes, guerras civis."

Contudo, mesmo sem catástrofes, a agrobiodiversidade já está ameaçada, explica o especialista da Universidade da Suécia, que realiza projetos próprios de coletas de sementes em regiões como o Quirguistão ou o Tadjiquistão.

"Há 10 mil anos ocorre uma seleção natural e outra influenciada pelo ser humano. A cevada e o trigo, por exemplo, foram 'domesticados' há 10 mil anos. E por todo o mundo se desenvolveram novas variedades, adaptadas às condições locais. Isso se perde quando os agricultores preferem cultivar variedades modernas, com histórico genético muito restrito."

Roland von Bothmer tranca a porta do bancoFoto: DW/Irene Quaile

Todas as espécies do mundo

No banco de sementes propriamente dito, reinam -17ºC. "A meta é chegarmos a -18ºC, que consta ser a temperatura ideal para conservar grãos vivos a longo prazo. Mas isso ainda vai demorar anos."

"Eis aqui as prateleiras com recipientes numerados", prossegue o professor, "alguns da Síria, outros dos Estados Unidos". O galpão comporta cerca de 520 mil amostras e não está nem mesmo cheio até a metade. "Quando todos os três armazéns estiverem em funcionamento, teremos lugar para todas as espécies que existem no mundo."

Os operadores da "Arca de Noé botânica" estão seguros de que os frutos de seu trabalho não serão visíveis apenas em caso de uma catástrofe global. Von Bothmer lembra que a Cúpula Mundial da Alimentação de 2009 constatou ser preciso elevar em 70% a produção mundial de alimentos até 2050. Ao mesmo tempo, as áreas agricultáveis desaparecem.

Também a mudança climática exige que se preserve para o futuro uma ampla gama de recursos genéticos, alerta o geneticista. "Em muitas regiões o clima está ficando mais seco, em outras choverá mais; novas doenças e pragas surgirão. Precisamos da biodiversidade para melhorar a resistência, para que se vençam essas novas circunstâncias. O interesse aumentou nos últimos anos, tanto do ponto de vista político como do cultivo agrícola. E isso também se deve ao Banco Global de Sementes."

Autoria: Irene Quaile (av)
Revisão: Carlos Albuquerque

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