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Argentina dá sinal vermelho para o machismo no trânsito

Oliver Pieper | Maricel Drazer
28 de março de 2021

País passa a exigir do motorista conhecimentos sobre igualdade de gênero na hora de tirar carteira de habilitação. Estatísticas do trânsito desmentem os preconceitos mais arraigados.

Hora do rush na Avenida 9 de Julio em Buenos Aires, Argentina.
Na Argentina, revolução de gênero começa nas estradasFoto: Imago

"Mulher no volante, perigo constante": esse ditado se ouve de Buenos Aires a Ushuaia e passa de uma geração de homens para a próxima. Mas os homens argentinos deverão cada vez mais murmurar esse provérbio machista bem baixinho. Eles sabem que essa máxima está pronta para o lixo da história, pois justamente este país que cultiva o machismo tanto quanto o futebol e o tango resolveu por o pé no freio nessa questão. Começando pelas autoescolas.

Quando o jovem Ianis Fischbein, que acabou de completar a maioridade, fizer seu teste teórico em Buenos Aires, dentro de algumas semanas, ele terá que responder a perguntas que eram inimagináveis ​​há alguns anos. O garoto de 18 anos não terá que saber apenas qual é a velocidade máxima numa rodovia como também o que estereótipos podem causar no trânsito.

"Muitas brigas de trânsito são fruto da ignorância", diz. "Uma mudança de perspectiva já na hora de fazer a carteira pode levar a uma maior empatia entre a nova geração de motoristas."

Jovens como ele não apenas são a nova geração da Argentina como também, para o diretor da Agência Nacional de Segurança Rodoviária, Pablo Martínez Carignano, a prova de que ele estava certo com a reforma da carteira de habilitação. "Conduzir um veículo é muito mais do que obedecer sinais e regras de trânsito", afirma.

Prova teórica com questões sobre igualdade de gênero

Afinal, o trânsito é a interação social por excelência, argumenta Martínez Carignano. É por isso que, desde março, valem as seguintes regras para o exame de direção na Argentina: todos os candidatos têm que passar não só na tardicional parte teórica como também num módulo adicional sobre igualdade de gênero, com temas como masculinidade, patriacardo e feminicídio. "Queremos motoristas que possam conviver pacificamente e solidariamente nas vias públicas. Temos que por um fim à violência no trânsito, no machismo e em todos os estereótipos".

Os números corroboram a luta de Martínez Carignano contra o machismo no trânsito: 70% de todas as licenças emitidas na Argentina são para homens, mas eles são 85% dos mortos em acidentes, 90% dos flagrados após consumo de álcool e 100% dos que participam de "rachas" nas ruas.

"Todo dia ouvimos aqueles mitos de que as mulheres ao volante são lentas e medrosas e que um bom motorista tem que conhecer a lei da estrada. Isso é absurdo", diz o diretor da autoridade de trânsito argentina.

Outras mudanças no trânsito

Há muita coisa acontecendo no trânsito na Argentina. Sinais de trânsito e cartazes estão sendo redesenhados para serem neutros em questões de gênero e a comunicação já recebeu sinal verde para mudanças: o Ministério dos Transportes publicou um guia no qual recomenda o uso de uma linguagem inclusiva e com perspectiva de gênero.

Já estava na hora de algo mudar em seu país, diz a ativista Ana Falú. "No cotidiano testemunhamos uma hostilidade, em parte violenta, contra as mulheres no trânsito", diz a diretora da organização não governamental Ciudades Feministas. Segundo ela, as atuais iniciativas podem ajudar a "refletir sobre as desigualdades numa sociedade patriarcal como a Argentina".

O machismo nas ruas da Argentina produz também um dano colateral financeiro. "Um carro usado que foi dirigido por um homem vale menos no mercado do que o de uma mulher", diz Falú.

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