Argentina diz que ameaças a Messi motivaram cancelamento
6 de junho de 2018O presidente da Associação de Futebol Argentina (AFA), Claudio Tapia, disse nesta quarta-feira (06/06) que o cancelamento do amistoso da seleção do país com Israel foi motivado por ameaças feitas contra o atacante Lionel Messi e outros jogadores.
"O acorrido nas últimas 72 horas, as ações, as ameaças que aconteceram, nos levaram a tomar a decisão de não viajar. A minha responsabilidade, como presidente, é a de lutar pela saúde e a integridade física de toda a delegação", disse Tapia, sem especificar quais foram as ameaças.
O dirigente também pediu desculpas pelo cancelamento. "Quero pedir desculpas a todos os argentinos que vivem na comunidade israelense, a todos os israelenses que esgotaram os ingressos tão rapidamente. Pedir desculpas aos meninos de diferentes religiões que seriam parte de ações que iriam realizar como contribuição para a paz", disse.
O cancelamento da partida, anunciado na terça-feira pela AFA, irritou membros do governo israelense, que acusaram os argentinos de se renderem às ameaças e à pressão de grupos palestinos que vinham pedindo que a Argentina boicotasse o amistoso. A partida estava marcada para ocorrer neste sábado (09/05) em Jerusalém.
A escolha do local da partida vinha revoltando grupos palestinos. A queixa era que a ministra da Cultura e do Esporte israelense, Miri Reguev, transferiu o jogo de Haifa para Jerusalém para atender fins políticos, com objetivo de "normalizar" a anexação da cidade pelos israelenses.
Reação israelense
Nesta quarta-feira, Reguev disse que a transferência do jogo "é somente uma desculpa, não o problema". Ela também apontou que o amistoso da seleção local contra a Argentina foi cancelado por causa de ameaças de morte contra o atacante Lionel Messi e parentes.
"Isso é um novo tipo de terrorismo, que ameaçou Messi e sua família. É o mesmo tipo de terrorismo que há anos assassinou atletas na Olimpíada de Munique", disse a representante do governo, em entrevista coletiva. Reguev se referiu ao sequestro dentro da Vila Olímpica de 11 integrantes da delegação de Israel nos Jogos, que acabaram mortos, assim como um policial, por integrantes de grupo palestino denominado Setembro Negro.
A ministra também exibiu, durante uma coletiva de imprensa, diversas imagens que ela apontou terem sido utilizadas na campanha de boicote ao amistoso. Foram apresentadas fotos de camisas da Argentina manchadas de tinta vermelha, assim como imagens utilizadas para acusar os sul-americanos de apoiar a ocupação israelense e violações de direitos humanos.
Antes do anúncio do cancelamento, grupos de torcedores pró-palestinos na Espanha se reuniram nas cercanias da concentração do time argentino em Barcelona e exibiram camisas da seleção manchadas com tinha vermelha.
O presidente de Israel, Reuven Rivlin, por sua vez, disse estar muito preocupado com o que considera a "politização" da seleção argentina. "É realmente uma manhã triste para os torcedores, incluindo alguns dos meus netos, mas há valores que são ainda maiores que Messi. A politização por parte da Argentina me preocupa muito", disse Rivlin, em comunicado divulgado pelo seu gabinete.
O ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, também lamentou a suspensão e afirmou que a Argentina cedeu à pressão dos "inimigos de Israel" e das "vozes antissemitas".
"É uma pena que as estrelas do futebol argentino tenham cedido à pressão dos inimigos de Israel, cujo único objetivo é prejudicar o direito básico de Israel à autodefesa e provocar sua aniquilação. Não cederemos às vozes antissemitas e apoio terrorista", escreveu em sua conta do Twitter.
Resposta palestina
Um dos palestinos que organizou a campanha do boicote, Fadi Quran, da plataforma Avaaz, disse à DW acreditar que a decisão de boicotar a partida partiu dos próprios jogadores argentinos, em solidariedade aos palestinos.
"Acreditamos que o principal motivo do cancelamento deste jogo foi que a equipe argentina foi informada dos fatos", disse Quaran. "A decisão foi tomada como uma postura moral e ética. Acho que é uma distorção israelense tentar classificá-la como sendo devido a ameaças."
A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) divulgou nota celebrando o cancelamento da partida. "Obrigado à Argentina e a seus valentes, assim como ao seu distinto time de futebol, por escolher cumprir com os princípios do direito internacional e por rejeitar se submeter a qualquer forma de intimidação e tática de extorsão", disse o secretário-geral da OLP, Saeb Erekat.
JPS/efe/dw
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