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Argentina fecha acordo com FMI para adiantar fundos

29 de agosto de 2018

Medida visa recuperar a confiança nos mercados, afirma Macri. Em meio a grave crise cambial, acordo de junho com o FMI previa empréstimo de US$ 50 bilhões, repassados em três anos. Após anúncio, peso despenca ainda mais.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri
"Decisão visa eliminar qualquer incerteza criada diante do agravamento do contexto internacional", diz MacriFoto: Reuters/M. Brindicci

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, anunciou nesta quarta-feira (29/08) que chegou a um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um adiantamento de fundos, na tentativa de superar a complicada situação que seus mercados financeiros enfrentam.

Em vídeo institucional divulgado pela presidência, Macri afirma que, nas últimas semanas, "houve novas expressões de falta de confiança nos mercados, especificamente sobre a capacidade [argentina] de conseguir financiamento para 2019".

"Por isso quero anunciar que acordamos com o Fundo Monetário Internacional uma antecipação de todos os fundos necessários para garantir o cumprimento do programa financeiro do próximo ano", explicou o presidente, sem dar detalhes sobre valores a serem adiantados.

Macri destacou que essa decisão "visa eliminar qualquer incerteza que poderia ter sido criada diante do agravamento do contexto internacional". "Vamos acompanhar este apoio com os esforços fiscais necessários, trabalho em que estamos avançando muito bem", acrescentou.

Em meio a uma crise cambial que agitou a economia do país, a Argentina recorreu ao Fundo Monetário Internacional no início de maio para tentar conter a desvalorização de sua moeda, o peso, que vem sendo muito afetado pela alta inflação.

Em junho, após semanas de negociações, Macri chegou a um acordo com o FMI para um empréstimo de 50 bilhões de dólares ao país, que seriam desembolsados em três anos. Em troca, o governo argentino se comprometeu a reduzir o déficit primário e as taxas de inflação.

O primeiro lance do empréstimo, no valor de 15 bilhões de dólares, foi repassado à época do acordo, visando reforçar as verbas orçamentárias e as reservas do Banco Central.

Nas últimas semanas, por fatores externos, como a crise da lira turca e a alta de taxas nos Estados Unidos, e internos, como o escândalo de corrupção que afeta empresários e funcionários do governo argentino, a queda do peso voltou a acelerar, acumulando uma desvalorização de 82% ante o dólar desde o início do ano.

A forte volatilidade cambial já afetou o crescimento do país e aumentou os preços ao consumidor. Nos primeiros sete meses de 2018, a inflação acumulou um aumento de quase 20%, enquanto o governo havia prometido uma alta máxima de 15% para o ano. A economia está a um passo de entrar em recessão.

"Sei que essas situações tormentosas geram angústia e preocupação em muitos dos senhores. Sei e entendo, mas saibam que estou tomando todas as decisões necessárias para resolver isso", garantiu Macri nesta quarta-feira.

O anúncio do presidente, contudo, não surtiu bons efeitos. Nesta quarta-feira, o peso perdeu 8,15% de seu valor, sofrendo sua maior queda num único dia desde dezembro de 2015. A moeda argentina atingiu a marca recorde de 34,50 pesos por dólar, o que significa uma queda de mais de 45% no decorrer do ano.

Em relação a terça-feira, a cotação da moeda americana subiu 2,60 pesos, mesmo depois de o Banco Central da República Argentina ter leiloado 300 milhões de dólares para atender à demanda e desacelerar o aumento da moeda.

O governo de Macri segue agora um plano rigoroso de ajustes para cumprir os compromissos firmados com o FMI, que incluem uma redução do déficit fiscal de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018 e de 1,3% em 2019.

Já em relação à inflação, a Argentina concordou em reduzir a taxa para 17% até o final de 2019, e posteriormente para 13% em 2020 e 9% em 2021. A inflação anual no país chegou a 25% no ano passado.

Foi a primeira vez em 15 anos que os argentinos recorreram ao FMI, uma instituição que ficou marcada no país: muitos ainda a culpam pelas políticas que, após os sucessivos empréstimos dos anos 1980 e 90, levaram ao colapso econômico nacional entre 2001 e 2002.

EK/ap/efe/dpa/rtr

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