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PolíticaAzerbaijão

Armênia e Azerbaijão anunciam paz em Nagorno-Karabakh

10 de novembro de 2020

Após combates violentos, países selam acordo que inclui envio de tropas de paz da Rússia para região disputada. Manifestantes armênios protestam e invadem sede do governo. Azeris festejam pacto como vitória.

Azeris festejam acordo de paz em Nagorno-Karabakh
Azeris festejam acordo de paz em Nagorno-KarabakhFoto: Gavriil Grigorov/ITAR-TASS/imago images

A Armênia, o Azerbaijão e a Rússia anunciaram nesta terça-feira (10/11) um acordo para pôr fim ao conflito armado na região separatista de Nagorno-Karabakh, após mais de um mês de confrontos violentos. 

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, anunciou nas primeiras horas do dia o acordo, que foi confirmado pelo presidente azeri, Ilham Aliyev, e pelo Kremlin. 

"Esta não é uma vitória, mas não há derrota até alguém considerar a si próprio derrotado. Isso deverá se tornar o começo de uma nova era de nossa unidade nacional", afirmou Pashinyan.

"O pacto trilateral se torna um ponto crucial para a resolução do conflito", afirmou Aliyev durante uma videoconferência com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. 

Pelo acordo, o Azerbaijão manterá áreas em Nagorno-Karabakh que conquistou durante o conflito. A Armênia também concordou em se retirar de várias áreas adjacentes.

O líder russo disse que tropas de paz serão enviadas para as linhas de frente em Nagorno-Karabakh e no corredor que separa a região da Armênia. Pashinyan descreveu o acordo como "indescritivelmente doloroso para mim e para o nosso povo", enquanto Aliyev disse que significava uma capitulação do inimigo.

O líder armênio de Nagorno-Karabakh, Arayik Harutyunyan, disse que o acordo era inevitável depois da perda da cidade de Shusha, a segunda maior da região, e que aceitou o acordo para acabar com a guerra o quanto antes.

O anúncio ocorreu depois de seis meses de conflitos e de avanços das tropas azeris na região, que é internacionalmente reconhecida como sendo do Azerbaijão, mas que é comandada por armênios étnicos desde 1994.

Autoridades do Azerbaijão disseram que haviam tomado dezenas de assentamentos na região disputada, um dia depois de declarar vitória na batalha pela segunda maior cidade no enclave. 

O Azerbaijão afirma ter retomado desde o dia 27 de setembro, data de início dos conflitos, grande parte do território que havia perdido em uma guerra travada entre 1991 e 1994, que deixou em torno de 30 mil mortos e levou milhares a fugirem da região. A Armênia, porém, nega os ganhos territoriais alegados pelo país vizinho. 

Há temores de que milhares de pessoas tenham perdido suas vidas após o fracasso de três tentativas de impor um cessar-fogo na região. O maior poder de fogo por parte do Azerbaijão prejudicava a adesão a um acordo de paz. 

No domingo, o governo azeri disse que suas tropas tomaram a cidade de Shusha, localizada no topo de uma montanha sobre a cidade de Stepanakert, considerada como a capital do enclave pelo governo local de etnia armênia. O presidente Aliyev divulgou uma lista de 48 assentamentos que teriam sido tomados por suas tropas nesta segunda-feira.

O ministério da Defesa do Azerbaijão divulgou um vídeo com a bandeira do país tremulando sobre as ruas desertas de uma cidade que, segundo afirma, seria Shusha, mas o governo armênio nega que a localidade tenha sido conquistada.

Uma força militar russa com 1.960 soldados e 90 veículos armados de transporte será enviada em uma missão de cinco anos, que pode ainda ser ampliada, para manter a paz na região. O Ministério da Defesa da Rússia comunicou que os primeiros aviões de transporte já deixaram o território russo.

O anúncio do pacto gerou comemorações no Azerbaijão e revolta na Armênia, onde centenas de pessoas invadiram o Parlamento e pediram a renúncia do governo. Vários gabinetes foram vandalizados e janelas foram quebradas. A imprensa local afirmou que o presidente do Parlamento, Ararat Mirzoyan, teria sido agredido pelos manifestantes. 

Armênios invadem residência do primeiro-ministro do país para protestar contra o acordo de pazFoto: Stanislav Krasilnikov/ITAR-TASS/imago images

Outro grupo se dirigiu à residência do primeiro-ministro. Vídeos em redes sociais mostravam um grande número de manifestantes dentro do edifício após o anúncio do cessar-fogo, mas o paradeiro de Pashinyan ainda era incerto. Através do Facebook, ele criticou os protestos e pediu união à população. "Neste momento difícil, devemos permanecer lado a lado", afirmou.

Os confrontos em Nagorno-Karabakh elevaram os temores de uma guerra mais ampla na região, pois a Turquia apoia o Azerbaijão e a Rússia mantém um pacto de defesa com a Armênia, além de uma base militar no país.

Conflitos em Nagorno-Karabakh

Nagorno-Karabakh é parte do território do Azerbaijão, mas é povoada e controlada por armênios étnicos desde que uma guerra entre azeris e armênios se encerrou na região há 26 anos.

O conflito entre 1988 e 1994 deixou 30 mil mortos e centenas de milhares de refugiados. Desde então, as hostilidades estavam em grande parte congeladas, apesar de confrontos esporádicos.

A recente escalada de hostilidades, a mais grave desde o fim da guerra, teve início em 27 de setembro passado e matou centenas de pessoas em poucas semanas.

Localizadas no Cáucaso, Armênia e Azerbaijão são duas ex-repúblicas soviéticas. A Rússia mantém uma aliança militar com os armênios, mas atualmente tem boas relações com o governo azeri e não tem interesse numa escalada no conflito na região. Já o Azerbaijão é apoiado pela Turquia.