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Arqueólogos dizem ter achado refúgio nazista na Argentina

23 de março de 2015

Complexo de ruínas na selva, perto da fronteira com Paraguai, teria sido erguido para abrigar líderes do regime alemão. No local, foram achadas moedas e porcelana do Terceiro Reich. Historiadores contestam teoria.

Imagem aérea da província de Misiones, na Argentina, perto da fronteira com o ParaguaiFoto: picture alliance/Arco Images GmbH

Arqueólogos argentinos investigam se um suposto refúgio encontrado na selva na província de Misiones, perto da fronteira com o Paraguai, foi construído durante a Segunda Guerra Mundial para abrigar nazistas, publicou o diário Clarín nesta segunda-feira (23/03). Historiadores, no entanto, questionam a autenticidade, por falta de evidências.

Cientistas do Centro de Arqueologia Urbana (CAU) da Universidade de Buenos Aires, em conjunto com o museu arqueológico Andrés Guacurarí, de Misiones, trabalham no parque Teyú Cuare, onde foram descobertas algumas ruínas. Os estudiosos suspeitam que as estruturas de pedras, que remontariam à década de 1940, foram construídas para ser um esconderijo nazista, em preparação para uma derrota na Segunda Guerra Mundial.

"[A localização] tem a virtude que permite estar no Paraguai em menos de dez minutos. O local é defensável, protegido e inacessível. Um lugar para viver em paz, um lugar de refúgio. E acho que o que encontramos é um local de refúgio para a hierarquia nazista", afirmou o diretor do CAU, Daniel Schávelzon, ao Clarín.

Segundo Schávelzon, a hipótese ainda não está confirmada, mas é sustentada por objetos encontrados no local, que incluem moedas alemãs de entre 1938 e 1944, além de porcelana da Alemanha da mesma época. E há uma enorme suástica esculpida em uma das paredes.

O complexo de ruínas descoberto conta com muros de até três metros de espessura e é composto por três edifícios: um para a habitação, outro planejado para depósito e um terceiro, que até então havia permanecido semioculto, construído para ser um posto de vigilância.

Por anos, uma placa dizendo "Caminho para Casa de Bormann" mostrava a rota em direção às ruínas no centro do sítio arqueológico. Apesar das evidências que provam a morte de Martin Bormann em 1945, a lenda local conta que o braço direito de Adolf Hitler se estabeleceu em uma casa no parque provincial Teyú Cuare após a queda do Terceiro Reich.

Schávelzon admitiu que a data da construção e os objetos alemães encontrados não são indícios suficientes para atribuir ao local uma origem nazista. "Mas não há outra explicação para alguém construir estruturas que exigiam bastante esforço e custo em um lugar inacessível, com materiais que não são típicos da arquitetura local", pondera.

Historiadores questionam descoberta

A falta de provas e documentação sobre as ruínas, no entanto, forçou os historiadores a questionarem a verdade e a origem da casa escondida nas profundezas da selva.

"Havia muitos alemães na Argentina durante a Segunda Guerra", disse o historiador Daniel Stahl, da Universidade de Jena, em entrevista à DW. "Houve comércio. Portanto, não é de forma alguma estranho que moedas alemãs e bens deste período tenham surgido na Argentina. Essas teorias [de refúgios nazistas] não são cientificamente comprovadas."

Da mesma forma, o autor e historiador Uki Goni, baseado em Buenos Aires, rechaçou categoricamente que as ruínas sejam um esconderijo nazista. "Esta é apenas mais uma parte do mito", disse Goni, em entrevista à DW. "Nós não temos nenhuma prova de que essas moedas não foram colocadas lá por alguém que estava ansioso para conseguir atrair mais alguns turistas para poder ganhar mais um pouco de dinheiro."

Adolf Eichmann, um dos arquitetos do Holocausto, entrou na Argentina em 1950 com um passaporte falsoFoto: picture-alliance/akg-images/IMS

Argentina foi refúgio

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, líderes dos regimes de Alemanha, Itália e da Ustase croata foram capazes de viver tranquilamente na Argentina, graças à complacência do então presidente do país, Juan Perón.

Segundo a organização internacional de direitos humanos Centro Simon Wiesenthal, aproximadamente 300 criminosos de guerra e milhares de colaboradores do Terceiro Reich chagaram à Argentina no fim da guerra.

A estimativa supera em muito os 180 criminosos nazistas contabilizados pela Comissão de Esclarecimento das Atividades do Nazismo na Argentina (Ceana), inaugurada depois que o governo do presidente Carlos Menem providenciou a abertura de registros oficiais.

O primeiro a ser encontrado na Argentina foi Adolf Eichmann, um dos arquitetos do Holocausto, que entrou no país em 1950 com um passaporte falso emitido pela Cruz Vermelha. Gerhard Bohne, responsável pelo programa de eutanásia do regime nazista, Walter Kutschmann, ex-chefe da Gestapo na Polônia, e Josef Schwammberger, comandante das SS, são outros criminosos nazistas que foram capturados na Argentina.

PV/efe/dw

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