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Apagando a memória

7 de agosto de 2009

Em termos de arquitetura moderna, a antiga Alemanha Oriental tinha muito a oferecer. Mas o encerramento desse capítulo da história alemã levou a uma exclusão dessa contribuição cultural e à demolição de muitos edifícios.

Do Palácio da República, sede do Parlamento socialista, só sobrou o subsoloFoto: picture-alliance/ dpa

A Alemanha está em clima de comemoração este ano. Primeiro foram os 60 anos da Lei Fundamental da República Federal da Alemanha, agora são os 90 anos da Bauhaus, a renomada e influente escola de arte fundada em Weimar em 1919.

O que poucos sabem é que, enquanto a Bauhaus costuma ser celebrada como uma grande ruptura na história da arte, um antigo estudante da escola, Selman Selmanagić, criou na antiga República Democrática Alemã (RDA) um modernismo arquitetônico inconfundível que, em decorrência das frequentes demolições no Leste alemão desde a queda do Muro de Berlim, vem sendo apagado da paisagem urbana.

Até meados dos anos 1960, a RDA se caracterizava por construções arquitetônicas que atraíam atenção internacional e, naturalmente, representavam extraordinários testemunhos de época.

As construções revelam os espaços e as circunstâncias de vida das pessoas que viviam na RDA. Trata-se de mudos testemunhos de época, que teriam muito a contar sobre a vida na Alemanha comunista – caso não tivessem sido demolidos.

Foto: Wikepedia

O Estádio da Juventude do Mundo foi um projeto dos arquitetos Reinhard Lingner e Selman Selmanagić para o bairro de Mitte, em Berlim. O edifício levou apenas 120 dias para ser construído, sendo inaugurado em 20 de maio de 1950. Por ironia do destino, aproveitou-se na construção muito material proveniente do Stadtschloss, o palácio barroco implodido em Berlim Oriental no pós-guerra. Agora, o palácio deverá ser reconstruído, sendo que o estádio já foi demolido nos anos 1990. A demolição ocorreu na época em que a Alemanha se candidatou para sediar os Jogos Olímpicos de 2000, que acabaram sendo realizados em Sydney, na Austrália.

No terreno onde se situava o estádio, está sendo construído atualmente um edifício novo, que abrigará o Serviço Federal de Informações.

Foto: Leibniz-Institut für Regionalentwicklung und Strukturplanung Erkner, Wissenschaftliche Sammlungen

O centro comercial e gastronômico Ahornblatt, localizado na Fischerinsel, uma ilha no rio Spree, em Berlim, é considerado um dos projetos mais experimentais da RDA. O edifício expressionista de Ulrich Müther, que lembrava uma folha de seis pontas, era um ponto alto da arquitetura da RDA, absolutamente singular em todo o mundo. Apesar de inúmeros protestos, ele foi demolido em 1999, cedendo espaço a um prédio de escritórios com hotel. Para muitos especialistas, sua demolição foi um sacrilégio irreparável.

Foto: wikipedia

O cinema International, situado na Karl Marx Allee, também em Berlim, era uma das maiores salas de exibição da RDA. O edifício parece levitar sobre uma graciosa base. Bem em frente, fica o famoso Café Moskau. O complexo, construído entre 1961 e 1963, foi erguido em resposta à Exposição Internacional de Arquitetura no Hansaviertel, um bairro de Berlim Ocidental projetado por diversos arquitetos modernos e construído entre 1959 e 1967.

Atrás do cinema, se localizava o Hotel Berolina, também já demolido. No edifício que o substituiu, está instalada hoje a subprefeitura do bairro de Mitte.

Foto: Leibniz-Institut für Regionalentwicklung und Strukturplanung Erkner, Wissenschaftliche Sammlungen

Um projeto arquitetônico com caráter quase utópico era o complexo comercial de Hermsdorf, um centro de prestação de serviços que despertava a impressão de bem-estar social. Como se seus mentores quisessem provar ao mundo que o socialismo era um regime de convivência livre e democrática. Típicos da RDA são também os arranha-céus ao fundo, montados a partir de módulos pré-fabricados, uma forma de construção comum na Alemanha comunista. Como que para romper com a monotonia e a uniformidade, os prédios foram dispostos de forma variada.

Foto: Berlinische Galerie Landesmuseum für Moderne Kunst, Fotografie und Architektur Architektursammlung

O cinema Odeum, com o café e lanchonete Esplanade, se localiza no bairro berlinense de Pankow. As linhas claras, a construção leve e as janelas amplas conferem ao edifício um flair de metrópole. Este projeto, que testemunha o fim da necessidade material do pós-guerra e uma postura cosmopolita, ficou durante décadas à sombra do Muro de Berlim. Hoje o cinema está praticamente irreconhecível.

Foto: AP

Do Palácio da República não sobrou nada. O edifício representativo na Schlossplatz sediava desde 1976 a chamada Câmara Popular, o Parlamento da RDA. Mas também abrigava um centro cultural bastante frequentado. Em 2003, o Bundestag – câmara baixa do Parlamento alemão – aprovou sua demolição, não muito depois de o edifício ter sido inteiramente reformado a fim de eliminar todos os componentes de amianto, material tóxico de isolamento. Protestos na Alemanha e no exterior não repercutiram entre os políticos. Uma comissão do Bundestag avaliou 880 petições contra a demolição, mas todas foram rejeitadas. Entretanto, pelo menos o subsolo do antigo edifício será inteiramente mantido.

Autor: Christoph Richter

Revisão: Rodrigo Rimon

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