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Arquitetura ou revolução?

Carlos Albuquerque15 de novembro de 2005

Com a prorrogação do estado de emergência, os franceses procuram arrumar a casa através de medidas como a renovação urbana e o serviço civil voluntário.

O fim do urbanismo moderno?Foto: Alessandro Escudero

Para promover o arrefecimento das revoltas e a (re)integração dos filhos de imigrantes, o presidente francês, Jacques Chirac, propôs nesta segunda-feira (14/11) a prorrogação do estado de emergência por mais três meses e a criação de um serviço civil voluntário, que até 2007 deverá ocupar mais de 50 mil jovens, oferecendo-lhes acompanhamento e formação.

Por sua vez, o presidente da União Européia, José Manuel Barroso, anunciou uma ajuda de 50 milhões de euros para a periferia das grandes cidades francesas, que pode elevar-se, a longo prazo, a um bilhão de euros, anunciou Barroso no domingo (13/11) em Bruxelas.

A destruição do espaço público

Destruição no espaço público de Clichy-sous-BoisFoto: AP

Conjuntos habitacionais como os de Clichy-sous-Bois, onde começaram as revoltas, fazem parte da história do urbanismo ligado ao desenvolvimento industrial.

Foi através das idéias do arquiteto suiço radicado na França Le Corbusier que se desenvolveu na própria França, a partir de meados dos anos 20, a idéia da unidade de habitação baseada nos principios do lazer, transporte, moradia e trabalho, acreditando-se que a arquitetura poderia evitar a revolução.

Após a Segunda Guerra Mundial, estes princípios foram adotados tanto por países capitalistas como socialistas para suprir a necessidade de moradia de uma mão-de-obra necessária para a rápida industrialização. Com a ausência do fator "trabalho", os outros princípios perdem o sentido e estes conjuntos habitacionais tornaram-se focos de turbulência social.

O urbanismo moderno já havia sido enterrado pelo crítico de arquitetura norte-americano Charles Jencks em um dia de julho de 1972, quando um conjunto habitacional construído nos anos 50, na cidade de St. Louis, foi implodido. As revoltas na França dão-lhe definitivamente o golpe de misericórdia, e a destruição do espaço público tornou-se a sua principal característica.

O que a França fez de errado

Conjunto habitacional no subúrbio de ParisFoto: AP

Em entrevista à DeutschlandRadio, o professor de Sociologia Urbana e Regional da Universidade Humboldt de Berlim Hartmut Häussermann afirma que não se deve comparar os conjuntos habitacionais franceses com os alemães.

Segundo o professor, enquanto os subúrbios franceses, mal servidos de transporte público, estão isolados do centro e seus habitantes vivem quase como em guetos, os grandes conjuntos habitacionais das cidades alemãs possuem boa infra-estrutura e conexão de ônibus ou metrô.

Os franceses também falharam na política de integração, já que a maioria dos revoltosos sempre foram considerados franceses, não precisando assim de política de integração nenhuma. O professor da Humboldt afirma também que são justamente esses jovens que precisam das melhores escolas, uma idéia já implantada no Reino Unido.

Paradoxalmente, o fato de comunidades como os turcos na Alemanha formarem grupos étnicos, facilitaria a sua integração no seu novo país. Este modelo, porém, só funciona em estruturas sociais saudáveis, salienta Häussermann. Em uma situação como a da França, estes grupos étnicos se tornariam classes étnicas, o que aumentaria ainda mais as revoltas.

Menos escadas, mais portas de frente

Demolição de conjunto habitacional da antiga Alemanha OrientalFoto: dpa - Report

A França, antes de começar a investir milhões na melhoria de fachadas e praças, deveria dar uma olhadinha na vizinha Alemanha e aprender com a experiência de renovação urbana dos conjuntos habitacionais pré-fabricados da antiga Alemanha Oriental.

Durante os anos 90, milhões de euros foram investidos na renovação dos antigos prédios socialistas, os chamados plattenbauten. Seus moradores, sem trabalho, abandonaram tais áreas, agora caracterizadas não pela destruição mas pelo abandono do espaço público. A nova política é a destruição de tais conjuntos e o fechamento de escolas e creches.

Reestruturações urbanas, como as que tem passado a França nos últimos dois séculos, parecem ter aumentado ainda mais os conflitos sociais, expulsando, ao longo do tempo, a população pobre para os fundos da cidade.

Os governantes franceses do pós-guerra deveriam ter escutado os conselhos do arquiteto inglês Sir Balthazar Gerbier que, já em 1663, afirmava que "muitas escadas e portas de fundo provocam ladrões e prostitutas".

Os habitantes de Clichy-sous-Bois não são ladrões nem prostitutas, mas dividem com eles a marginalidade dos arranha-céus localizados nas saídas de Paris, chamadas ironicamente de Portas, onde escadas não faltam.

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