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Arquivos da Stasi

27 de outubro de 2009

Quando o tema é a antiga Alemanha Oriental, é quase inevitável falar sobre a Stasi, o órgão de espionagem do regime comunista. Desde 1992, vítimas de espionagem têm acesso aos relatórios de espionagem e observação.

60 quilômetros de arquivos ainda são desconhecidosFoto: AP

"Stasi" é a abreviatura para "Ministerium für Staatssicherheit" (Ministério de Segurança do Estado – MfS), o serviço secreto da antiga República Democrática Alemã (RDA). Esse órgão de espionagem vigiava a população através de um imenso aparato técnico e de pessoal.

Tratava-se também de um monstro estruturado militarmente, cujo serviço de inteligência para o exterior (HVA) tentava investigar e infiltrar-se no "inimigo da classe operária", sobretudo na República Federal Alemã – às vezes com mais, às vezes com menos sucesso.

A Stasi sempre esteve nas manchetes, mesmo 20 anos depois de sua dissolução. Um dos casos mais espetaculares foi o desmascaramento em 1974 de Günter Gillaume, que trabalhava como assistente pessoal do então premiê alemão Willy Brandt, e que durante anos vendeu segredos do governo de Bonn às lideranças da RDA em Berlim Oriental.

A maior parte dos arquivos do HVA foi aniquilada. Dessa forma, a opinião pública jamais conhecerá o verdadeiro raio de ação do serviço secreto da antiga RDA. Por outro lado, as vítimas de espionagem podem ter acesso aos documentos que restaram.

Administração Gauck

Gauck (d) em 1992: primeiro diretor do arquivo deu nome ao órgãoFoto: dpa

Em janeiro de 1992, o encarregado do governo alemão para a administração dos arquivos da Stasi iniciou seus trabalhos. A Lei sobre os Documentos do Serviço Secreto da ex-RDA garante a cada cidadão alemão o direito de saber se a Stasi colheu informações a seu respeito. Se esse for o caso, ele pode exigir o exame e a entrega de documentos.

Devido ao seu longo nome, o escritório responsável pela administração dos arquivos do serviço secreto da antiga Alemanha Oriental recebeu o nome de Gauck Behörde (Agência Gauck), em referência ao seu primeiro diretor, o pastor de Rostock e defensor dos direitos humanos Joachim Gauck.

Desde o início, o interesse pelos arquivos da Stasi foi imenso. Passadas 48 horas de sua abertura, os 100 mil formulários de petição para a Administração Gauck se esgotaram. Até nos jornais eles foram impressos. Era algo de inédito: pela primeira vez os cidadãos de um Estado tinham acesso aos relatórios de espionagem e observação de um serviço secreto sobre eles.

110 quilômetros de papel

Patinadora Witt recebeu privilégios da StasiFoto: AP

A peça central da Agência Gauck são os arquivos com a herança da Stasi: pastas, fichas, filmes, documentos sonoros e microfichas. Segundo a atual encarregada do órgão, Marianne Birthler: "Temos mais de 110 quilômetros só em papel. Desses, 50 quilômetros foram arquivados pela Stasi. Eles não dispõem de verbetes, palavras-chave ou algo semelhante".

Quanto aos outros 60 quilômetros, eles não são acessíveis. "Trata-se de todas as pastas retiradas dos escritórios dos oficiais, que se foram amarradas em grupos e dispostas em prateleiras. Não tínhamos ideia do que havia lá dentro, nem em relação às pessoas, nem aos temas", esclarece Birthler.

Entrada de pedido

O pedido de acesso aos arquivos não é feito somente por indivíduos. Segundo as diretrizes legais, o exame dos documentos é garantido também a instituições públicas, cientistas e jornalistas, para a verificação, por exemplo, de políticos, funcionários públicos, juízes, personalidades ou no caso de processos de reabilitação de vítimas da Stasi.

Até hoje, cerca de 6,4 milhões de pedidos foram feitos à administração. Desde 1992, por volta de 1,6 milhão de pessoas examinaram seus arquivos da Stasi. O processo é relativamente simples: dá-se entrada com um pedido na administração central em Berlim ou num dos 14 escritórios espalhados pela Alemanha. Em seguida, o nome do requerente é pesquisado. Ele marca então uma hora numa sala de leitura, onde poderá examinar seus arquivos.

Órgão de esclarecimento

O interesse pública se dirige principalmente ao casos que envolvem personalidades, como a história da atual deputada federal Vera Lengsfeld, que foi espionada por seu próprio marido. Katarina Witt, a patinadora artística de maior sucesso na antiga Alemanha Oriental, também recebeu privilégios da Stasi.

O órgão responsável pelos arquivos também se dedica ao esclarecimento de casos de cooperação com a Stasi. Segundo dados da Agência Gauck, 59 membros do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, trabalharam de forma inoficial para a Stasi, entre eles, o presidente do partido A Esquerda, Gregor Gysi.

A administração explicou ainda que 34% dos informantes da Stasi exercem atualmente cargos influentes em empresas e associações comerciais. Até hoje, cerca de mil funcionários informais que a Stasi mantinha na antiga Alemanha Ocidental não foram desmascarados, informou a autoridade.

Autor: M. Marek / M. Fürstenau / C. Albuquerque
Revisão: Augusto Valente

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