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Debate ideológico

Considerado degenerado pelos nazistas, o abstracionismo foi recuperado pela antiga Alemanha Ocidental, após a Segunda Guerra, enquanto a arte da antiga Alemanha comunista seguia o realismo socialista.

Gerhard Richter: 'Mao, 1968'Foto: AP

A partir da ascensão dos nazistas ao poder, em 30 de janeiro de 1933, artistas e intelectuais judeus ou oposicionistas foram sendo afastados dos cargos públicos. Adeptos da arte moderna foram obrigados a abandonar os museus.

Catálogo de 'Arte Degenerada'Foto: dhm

A Escola Bauhaus — um dos centros fundamentais de ensino e propagação do modernismo nas artes visuais e na arquitetura — foi fechada no mesmo ano, pouco após ter sido transferida de Dessau para Berlim.

Em detrimento da diversidade das tendências artísticas coexistentes no início do século 20, o Terceiro Reich impôs um neoclassicismo ideológico como padrão artístico e reprimiu o abstracionismo como "arte degenerada". Entartete Kunst: este era o título da exposição itinerante que aplicou às artes os preceitos da teoria racial nazista.

Em Munique, onde foi inaugurada em 1937, e nas outras cidades onde circulou, a exposição foi visitada por milhões de pessoas. O exílio dos judeus e da elite cultural crítica, o Holocausto e as destruições da guerra eliminaram a base humana e material do que fora a cultura alemã até então.

Arte abstrata realibitada

Com a divisão da Alemanha após o término da guerra, o Leste e o Oeste tentariam preencher, cada um a sua maneira, o vácuo deixado pelo nazismo. Na República Federal da Alemanha (RFA), o resgate das vanguardas repudiadas pelo Terceiro Reich parecia ser o ponto de partida ideal para um recomeço.

Kassel, cidade da 'documenta'Foto: AP

Em sua primeira edição, a documenta, exposição qüinqüenal de arte contemporânea internacional realizada em Kassel desde 1955, foi um marco decisivo na reabilitação das correntes modernas na República Federal da RFA.

A arte abstrata não apenas representava algo absolutamente antagônico ao nazismo, mas também uma linguagem considerada universal e uma vertente dominante nos outros países ocidentais.

Além disso, o abstracionismo fazia jus ao ceticismo do pós-guerra em relação à representação da superfície do real, e em conseguinte à mimese figurativa, e possibilitava uma introspecção, à medida que era visto como a linguagem adequada à interiorização, capaz de tornar visível o invisível.

O abstracionismo do pós-guerra se distanciou das tendências mais geométricas das vanguardas e inaugurou uma tendência informalista que recusava regras de composição fixas e priorizava um traçado espontâneo e a livre combinação de ritmos e estruturas.

Realismo socialista contra a "ditadura do abstrato"

Na República Democrática Alemã (RDA), a preocupação durante o pós-guerra era estabelecer uma linguagem artística que respaldasse o novo Estado comunista. O realismo socialista encontrou base teórica na argumentação desenvolvida durante a década de 30, no contexto do debate stalinista sobre o formalismo das vanguardas.

Realismo caracterizou arte da antiga Alemanha OrientalFoto: AP

Sua tônica era a condenação da pretensa motivação burguesa do expressionismo, do funcionalismo formalista da Bauhaus e da suposta alienação de outros movimentos de vanguarda.

Por conseguinte, a opção ocidental do pós-guerra também foi repudiada na RDA como "ditadura do abstrato" e "formalismo decorativo", traços supostamente incentivados pelos monopólios industriais, pelos Estados capitalistas e pelos mercados de arte das potências de ocupação da Alemanha Ocidental.

Em conformidade com o padrão soviético, no novo Estado no Leste alemão impôs-se o padrão de uma arte para as massas, não elitista, compreensível e próxima da vida e da realidade.

O realismo socialista, fundado na representação figurativa do progresso do socialismo e na heroicização da classe trabalhadora, determinou as artes de todos os países comunistas sob domínio soviético. Esta escola foi se tornando cada vez mais dogmática, a ponto de excluir artistas dissidentes.

Heterogeneidade de tendências

Na Alemanha Ocidental, já se fazia sentir uma ruptura no cenário artístico desde final dos anos 50, sobretudo em decorrência do questionamento do abstracionismo por outras correntes vindas dos EUA, como a pop art e o fotorrealismo, por exemplo.

Joseph Beuys marcou arte alemã do século 20Foto: AP

Assim como em todo o contexto internacional, as artes alemãs durante a década de 60 foram marcadas por grande diversidade e heterogeneidade de tendências, mistura de gêneros e rápida interação entre arte e mídia.

A obra de Joseph Beuys, que teve uma influência marcante sobre as gerações seguintes, revela de maneira muito própria o destaque do individual, característico de todas as vertentes.

Apesar da diferenciação de gêneros a partir dos anos 60 e embora os radicais experimentos pictóricos desde as vanguardas até a década de 50 tenham levado a pintura a seus limites, algo muitas vezes diagnosticado como crise, foi nela que se revelou uma importante geração de artistas plásticos alemães, entre os quais Gerhard Richter.

Com telas neo-expressionistas, expoentes da tendência tipicamente alemã dos Neue Wilden (Novos Selvagens, termo derivado do fauvismo francês) destacaram-se no início dos anos 80. A partir de meados da mesma década, o pós-modernismo levou a uma individualização radical dentro das artes e à coexistência de linguagens informais, realistas e conceituais.

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