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"Arte imaterial" alemã em Veneza

(sv)13 de junho de 2005

Pavilhão alemão no evento celebra o efêmero através da "obra imaterial" de Tino Sehgal. Leão de Ouro a Thomas Schütte surpeende em mostra tida como "feminina por excelência".

Tino Sehgal: obras efêmeras e sem registrosFoto: DW-TV

Ele se recusa a ser chamado de artista performático ou conceitual. Insiste na afirmação de que sua arte é imaterial e proíbe quaisquer registros fotográficos ou em vídeo de seu trabalho. Inclusão em catálogos de exposições? Nem pensar.

Já a compra de uma dessas obras que flutuam entre "teatro, esculturas vivas e interação grotesca", segundo um jornal alemão, é completamente viável. O preço varia de oito a 40 mil euros. Sendo que toda a negociação é feita sem papel ou assintura, apenas através de uma declaração verbal registrada em cartório.

O artista é Tino Sehgal, hoje com 29 anos e a estrela do pavilhão da Alemanha na Bienal de Veneza. Nascido em Londres, criado em várias cidades, filho de pai indiano e mãe alemã, Sehgal vê a arte que produz como mercadoria, mas um tipo de mercadoria isenta de matéria-prima.

Suas encenações acontecem apenas dentro de espaços fechados de museus, são atos ritualizados e visam provocar um diálogo entre os envolvidos. E uma reflexão sobre a arte ou mesmo sobre qualquer outro assunto.

"Isso é tão contemporâneo"

Pavilhão alemão na Bienal de VenezaFoto: DW-TV

A seqüência da encenação é semelhante em todas as suas obras. Em This is so contemporary, "exposta" em Veneza, dois seguranças começam de repente a cantarolar a frase isso é tão contemporâneo e a dançar em torno de espectadores geralmente atônitos com a representação que começa de repente. O ato dura cerca de 40 segundos. Logo depois, os seguranças retornam a seus postos de trabalho, não sem antes anunciar o que foi aquilo: "Tino Sehgal, 2004-2005".

Durante menos de um minuto, a obra de arte foi apresentada. "Para mim, o mais importante é criar uma forma diferente de produção artística. Me interessa criar situações nas quais o público tem o poder de colocar minha obra em funcionamento. Sem esse público, sem sua presença, a obra não existe", explica o artista.

A "conversa" é o que importa

Tino SehgalFoto: DW-TV

Sehgal trabalhou quase três meses ensaiando a "montagem" desta obra. Escolheu a dedo o grupo de pessoas aptas a representar no pavilhão alemão. Entre eles estão aposentados, estudantes, donas de casa e, last but not least, os próprios espectadores, que acabam interagindo com os "atores" da obra após a encenação. Esta conversa que acaba sendo tricotada espontaneamente é, para o artista, parte integrante da obra.

Outra obra de Sehgal em Veneza, This is Exchange (Isto é Intercâmbio) convida o visitante a emitir opiniões sobre a economia de mercado e paga pelos testemunhos. "A economia de mercado é um conceito bastante aberto, tanto que até mesmo uma opinião é um produto que pode ser comprado. Eu pago por ela e as pessoas estão também dispostas a produzi-las e a entregá-las. Não importa que elas não sejam palpáveis, basta que haja um acordo entre as partes para que tudo se converta em algo negociável", diz o artista.

Transferência de subjetividade

Uma discussão sobre a economia de mercado, porém, que não faz uso de quaisquer objetos concretos, mas apenas de protagonistas efêmeros. Uma espécie de obra de arte temporária, que vem e desaparece em seguida e tem como premissa discutir os modos de produção contemporâneos e o excesso de bens materiais produzidos.

Vender um produto imaterial é, para Sehgal, a essência do mercado de arte do ponto de vista econômico. "Ele é o primeiro mercado, no qual são oferecidos produtos que nem ao menos se esforçam para reafirmar um valor de uso imediato. Trata-se apenas de uma transferência de subjetividade", teoriza o artista em entrevista ao semanário Die Zeit.

Premiação inesperada

Thomas Schütte, premiado com o Leão de Ouro na Bienal de VenezaFoto: dpa

Mesmo que a mídia tenha se concentrado na arte "viva", não convencional de Tino Sehgal, o Leão de Ouro da Bienal foi concedido ao já conhecido artista alemão Thomas Schütte, cujas esculturas de figuras femininas em ferro ou bronze estão expostas no Giardini della Biennale.

Uma premiação um tanto sui generis numa mostra que teve duas curadoras espanholas e um alto percentual de mulheres na lista de artistas. Afinal, como observa o diário Frankfurter Rundschau, "um artista que, sob a perspectiva da discussão sobre gênero, assume a posição mais reacionária de todas: a do homem, que forma corpos de mulheres".

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