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Fotografia

Carlos Albuquerque15 de setembro de 2008

Para os críticos, artista alemã Vera Lutter reinventou a fotografia ao resgatar a técnica da câmera escura. Na Galeria Max Hetzler de Berlim, a arquitetura atemporal de Veneza pode agora ser vista através de suas fotos.

Campo San Moisé, Veneza, VI: 3 de Março de 2006; 142,2 x 224,1 cmFoto: Vera Lutter
Corte Barozzi, Veneza, XXXI: 10 de Dezembro de 2005; 169,2 x 106,4 cmFoto: Vera Lutter

Com um dos mais antigos aparelhos fotográficos, a câmera escura, a artista alemã Vera Lutter produz fotos de grande formato em preto e branco que resgatam sua fascinação pela arquitetura, por meios de transporte e pelas estruturas industriais. Através de um orifício na janela de um quarto ou de um contêiner, adaptados por Lutter como câmera escura, a fotógrafa capta imagens de outdoors, interiores e cenas urbanas de cidades americanas, como também de aviões, zepelins e imensas escavadeiras na Alemanha.

O tempo de exposição das imagens projetadas no papel fotográfico pregado na parede de sua "câmera" pode durar várias semanas. O trabalho é essencialmente sobre a passagem do tempo, como declarou a própria artista.

Seu interesse se voltou recentemente para a arquitetura atemporal de Veneza. A Galeria Max Hetzler de Berlim mostra até 18 de outubro próximo, as novas fotografias de Veneza da artista alemã que, para críticos como Peter Wollen, reinventou a fotografia por criar uma nova sensibilidade do tempo e do espaço.

Transformar experiência em obra de arte

San Marco, Veneza, XXXVII: 14 de dezembro de 2005; 141,1 x 234,3 cmFoto: Vera Lutter

Vivendo nos Estados Unidos desde os anos 90, Lutter estudou escultura em Munique e foi somente em Nova York que passou a se dedicar à fotografia. Em entrevista a Wollen, a artista explicou que a idéia da câmera escura surgiu por sua fascinação da cidade vista através das janelas de seu quarto. Lutter decidiu transformar a experiência em obra de arte: o espaço interno tornou-se câmera; um orifício na janela serviu de lente e seu corpo foi substituído por papel fotográfico pregado na parede, afirmou.

O resultado são projeções negativas em preto e branco. Os tons no papel aparecem ao reverso. O céu azul se torna escuro, o contorno dos objetos aparecem claros. A imagem em si é invertida e de cabeça para baixo. Controlando a distância focal que no caso de Lutter é a distância entre o orifício e a parede, ela controla o tamanho da imagem.

Em geral, Lutter usa folhas de papel fotográfico de cerca 1,40 metro de comprimento por 2,30 a 2,80 metros de largura, juntando-as em trítico, quando necessário. A própria fotógrafa revela suas fotos. E cada uma delas é uma cópia única.

Experiência subjetiva de visão de mundo

Campo Santa Sofia, Veneza, XXIX: 21 de dezembro de 2007; 2 painéis, 254 x 284,5 cmFoto: Vera Lutter

No trabalho da fotógrafa alemã, o movimento é função da luz e do tempo de exposição dos objetos fotografados que pode durar de horas até semanas. "O trabalho é essencialmente sobre a passagem do tempo, não sobre idéias de representação", afirmou a fotógrafa.

Desta forma, um corpo ou objeto em movimento aparece como uma mancha ou como uma imagem fantasma translúcida. Pessoas não aparecem nas fotos de Lutter. Esta também não é sua intenção, explicou.

"Sou o oposto de um fotógrafo de retratos. Se a interação com seres humanos fosse meu interesse, eu encontraria outra forma de expressão", afirmou Lutter. De certa forma, suas imagens lembram o Santo Sudário. Não foi à toa que a fotógrafa já pensou em fotografar pessoas mortas – uma idéia macabra, admitiu.

Desde o início de seu trabalho, sua intenção não foi fazer fotografia, mas um trabalho conceitual que repete e transforma o que ela vê. Talvez por transmitirem uma experiência tão subjetiva de visão de mundo, suas fotos parecem reduzir-se a espaço e tempo – para Kant, a condição da possibilidade de todos os fenômenos.

Resgate da perspectiva central

Ca del Duca Sforza, Veneza I: 8 de janeiro de 2008; 3 painéis, 279,4 x 426,7 cmFoto: Vera Lutter

Nas fotografias de Veneza, Lutter captou diferentes perspectivas da cidade entre a maré alta e baixa durante o longo tempo de exposição. A arquitetura veneziana parece flutuar sobre o solo a se decompor, comentam os organizadores da mostra. Como poucas outras, a obra fotográfica de Lutter explora as propriedades do claro-escuro. Antes de serem retratados como documentos de determinada época, a técnica escolhida por Lutter permite observar o caráter dos edifícios.

Outro ponto importante é o resgate da perspectiva com ponto de vista central, a partir do observador – como a câmera escura, um conceito medieval que rege toda sua obra, explica a fotógrafa. Segundo a maioria das fontes, a câmera escura foi desenvolvida na Europa no fim da Idade Média e aperfeiçoada no Renascimento.

De forma semelhante à usada por Lutter, as primeiras câmeras escuras eram tão grandes como um quarto. Seu tamanho foi se reduzindo com o correr dos séculos. Diz-se que artistas como Canaletto a utilizaram para pintar suas vistas de Veneza.

Além da mostra na galeria berlinense, fotografias tiradas por Lutter em Veneza também podem ser vistas no contexto da exposição Veneza - de Canaletto e Turner até Monet, em cartaz até 25 de janeiro de 2009 na Fundação Beyeler, em Basiléia.

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