Design orgânico
21 de agosto de 2007As mutações leguminosas tiveram sua primeira aparição pública numa feira do descolado bairro de Prenzlauer Berg, na parte oriental de Berlim. Ali, no meio dos agricultores de costume, que levam suas verduras à geração de consumidores yuppies, os pimentões, batatas, pepinos e cenouras de Uli Westphal, de 27 anos, chocaram. O motivo: à primeira vista, as verduras pareciam ter sido colhidas num outro planeta.
“A idéia dos mutatoes surgiu num dia em que eu estava fazendo compras. Há pouco mais de um ano, encontrei uma berinjela de cinco cabeças na banca de um agricultor. Mais adiante, achei alguns pimentões que pareciam vindos de um filme de ficção científica. Desde então, fiquei de olhos abertos para achados do gênero”, conta Westphal à DW-WORLD.DE.
O que está por detrás da coleção de mais de 500 curiosidades orgânicas, que Westphal fotografa e arquiva em seu website, é a idéia de denunciar a padronização artificial dos produtos que compramos nos supermercados. As mutações são todas naturais e não resultado de qualquer manipulação genética.
E são surpreendentemente estéticas, como confirmaram os visitantes da feira de frutas e verduras em Berlim. “Há gente querendo comprar meus legumes e alguns homens de negócios que compararam as verduras com esculturas de Henry Moore. Houve vendedores que trouxeram de livre e espontânea vontade alguns exemplares para mim”, diz Westphal.
Arte ou comida?
A fama dos mutatoes se espalhou rapidamente pela internet a partir do blog nova-iorquino swissmiss. “Sua banca não usual chamou minha atenção. Quando me aproximei e vi a placa – 'não está à venda' – fiquei intrigada. Considero sua coleção particularmente surpreendente por estar sendo exposta no contexto das bancas reais de comida normal”, diz Tina Roth Eisenberg, que esteve em Berlim para a “estréia” de Westphal.
Fato é que as mutações vegetais atraíram especialmente a atenção de designers gráficos e de moda. Fotos feitas por Westphal foram incluídas no website da grife de moda Diesel e o canal Discovery Channel ficou também interessado em usar as imagens. “Os designers se inspiram em qualquer coisa. Enquanto a maioria das pessoas nem registra esses legumes, eles podem vir a inspirar o próximo móvel ou determinar uma tendência da moda”, comenta Darius A. Monsef IV, do blog Colour Lovers.
Westphal se sente um pouco surpreso com tanto interesse por suas leguminosas. “Nas últimas semanas, várias centenas de blogs e websites falaram do projeto. É realmente fascinante ver os diferentes contextos nos quais meu projeto aparece. Há de tudo, desde designers industriais, indústrias químicas, fábricas de calçados, ativistas ecológicos e até sites pornográficos e fóruns para mulheres grávidas”, descreve o artista.
Atração para os olhos e a barriga
O aspecto fálico de algumas das espécies reunidas por Westphal chega a se tornar motivo de piada. Mas o artista não se incomoda muito com o fato de algumas pessoas verem seus legumes apenas como uma brincadeira.
“É claro que muita gente trata do projeto como se fosse uma piada, mas estou feliz por ter visto muitas discussões sérias também. Não acredito que pontos de vista carregados de humor sejam necessariamente negativos, pelo menos enquanto as pessoas não pararem de pensar”, reflete Westphal.
De fato, enquanto as fotos do artista parecem, à primeira vista, engraçadas, elas exercem uma crítica à cultura da cirurgia plástica para fins cosméticos e à insistência em tentar fazer com que a comida que consumimos – isso para não dizer a nossa própria aparência física – esteja de acordo com padrões artificiais de normalidade e beleza.
Os mutatoes lembram no espectador que deviações da norma são saudáveis. Mesmo que as mutações de Westphal pareçam bizarras, elas são certamente melhores do que os produtos padronizados que ocupam a maioria das prateleiras dos supermercados. A prova disso é o próprio artista. “Depois que encerro as sessões de fotografia, costumo comer os mutatoes”, conta ele. “E ainda não morri”, conclui.