Arte digital
26 de junho de 2010Hoje em dia, graças a softwares gráficos facilmente manejáveis e impressoras coloridas, criar uma imagem com a ajuda de um computador não provoca nenhuma dor de cabeça. Nos começo dos anos 1960, no entanto, artistas e cientistas viam-se frente a uma tarefa difícil, quando tentavam, nos então enormes computadores, criar imagens.
Quando um desses pioneiros da arte digital, o japonês Hiroshi Kawano, anunciou que doaria todo seu arquivo ao Centro de Arte e Mídia, os diretores da instituição reagiram com entusiasmo. "Isso é incrivelmente importante para a história dos primórdios da arte digital", diz Margit Rosen, curadora do ZKM, sediado em Karlsruhe, na Alemanha, e a partir de agora o proprietário oficial e simbólico do arquivo de Kawano.
Tesouro da arte digital
Hiroshi Kawano, nascido em 1925, guardou todo o material relevante para a criação de sua arte. Tudo permaneceu armazenado, detalhada e ordenadamente, em seu pequeno apartamento na periferia de Tóquio. "Quando visitei Kawano ano passado no Japão, ele me mostrou seu escritório e sua sala de visitas, lotados de livros, revistas, programas, fitas, todo tipo de documentação. Só tinha lugar para um colchãozinho no corredor", conta Rosen.
O arquivo do artista é formado de mais de 80 obras de sua própria autoria, bem como de programas necessários para a criação das mesmas, além de impressões computadorizadas, livros didáticos e manuais de uso de computadores, sem contar um volume surpreendente de correspondências com outros pioneiros da área em todo o mundo. "É como se tivéssemos herdado toda a obra de um pintor, inclusive tintas, pincéis e o papel utilizado", compara Rosen.
Matemática + Filosofia = Arte
No início dos anos 1960, Hiroshi Kawano, ainda professor de Filosofia em Tóquio, conheceu os textos do filósofo alemão Max Bense, que propagava, entre outros conceitos, a ideia de uma beleza mensurável por regras científicas. Ao mesmo tempo, Kawano ouviu dizer que havia pesquisadores usando o computador para compor música.
A partir daí, ele começou a experimentar para ver se seria possível "programar a beleza" através de um computador. "Embora não fosse um professor de ciências naturais, mas sim de Filosofia, eu quis combinar essas duas abordagens. Transpor minhas ideias para a prática foi uma tarefa difícil", afirmou Kawano durante uma cerimônia de homenagem a ele em agradecimento à doação de seu arquivo ao ZKM.
Cooperação inusitada
Ao contrário dos PCs de hoje, os então enormes computadores só eram disponíveis a instituições de pesquisa ou a grandes empresas. E o acesso aos mesmos era ainda assim limitado. Para usar esses computadores, era preciso dominar programas complexos, para então copiá-los em centenas de cartões, a serem lidos depois pelo computador.
Em busca de auxílio, Kawano se dirigiu naquele momento ao centro de informática de sua universidade. "Você é o primeiro que quer fazer algo parecido, me disseram na época. Minha ideia de usar o computador para a arte era tão nova, que eles ficaram ávidos em me ajudar", lembra o artista. Sua primeira obra criada no computador data do ano de 1964, uma das primeiras do gênero no mundo.
Novo e singular
Os esboços do artista, datados dos anos 1960, não são tão simples como parecem hoje, mas sim o resultado da programação de complexos algoritmos matemáticos. E embora Kawano tenha estabelecido diretrizes de como a imagem deveria ficar, ele não podia prever com exatidão o que seria impresso.
O artista japoonês Yoshiyuki Abe, que refletiu intensamente sobre a arte digital, vê a força da obra de Kawano pelo o fato de que o artista, que começou como filósofo, tenha criado uma nova arte e desenvolvido novas teorias. "Muitos filósofos vivem dizendo um monte de coisas, mas não criam nada de novo. Kawano é completamente diferente. Acho isso singular", conclui Abe.
Autora: Kate Hairsine/KG (sv)
Revisão: Nádia Pontes