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Museu Ilha Hombroich

Simone de Mello23 de maio de 2009

A utopia da integração entre natureza e arte, realizada na Baixa Renânia por um especulador imobiliário na década de 1980, foi ampliada com um museu do arquiteto japonês Tadao Ando. Um trajeto pelo Museu Ilha Hombroich.

Arte em meio à paisagem: Hombroich recebe 70 mil visitantes por anoFoto: dpa

O inusitado já começa pelo nome: Museu Ilha Hombroich. Mas de ilha este singular complexo de arte e natureza em meio à Renânia não tem nada – pelo menos geograficamente. Em 1983, o especulador imobiliário, colecionador e mecenas Karl-Heinrich Müller comprou uma área de 72 hectares nas imediações de Neuss, a oeste de Düsseldorf, e ali criou não apenas espaços de exposição para suas coleções de arte – gravuras e desenhos de Dürer a Klimt, arte oriental e africana, além de uma seleção bastante individual das vanguardas modernistas até a arte contemporânea –, mas também espaço de atuação para artistas convidados a residir na "ilha".

Exposição permanente: tríptico de Gotthard Graubner, artista residente em Hombroich, e diversas esculturas do Império KhmerFoto: dpa

Espaço de dentro e de fora

Visitar Hombroich – 70 mil pessoas o fazem todo ano – significa descobrir possíveis formas de integração entre arte e natureza, mesmo que seja uma natureza já "domada" pela civilização e pelos artistas. Os edifícios cravados na paisagem, em grande maioria projetados pelo escultor e desenhista Erwin Heerich (1922–2004), são esculturas percorríveis, permeáveis ao espaço exterior e em diálogo com o que abrigam. Na "Torre", por exemplo, uma construção quadrada, vazia, com portas para os quatro pontos cardeais, o objeto de exposição é a luz e o próprio transeunte.

Em seu percurso, o visitante atravessa pontes em meio à região pantanosa, cruza jardins entremeados por esculturas – sejam obras dos "insulanos" de Hombroich ou estátuas do século 12 ou 13 originárias do Império Khmer –, abrindo os olhos para o quanto a natureza tem de artificial e a arte, de natural.

O projeto insular de Hombroich é mais que um museu ao ar livre e menos que uma residência de artistas, embora haja pontos de contato. Nas tradicionais colônias de artistas, que começaram a ser criadas na Europa em reação à crescente industrialização, a idéia era se manter próximo da natureza, sem perder o contato com o ambiente de criação artística.

Nem tanto uma "colônia de artistas"

Mathildenhöhe, Darmstadt: vista sobre a colônia de artistas, com capela russa (dir.) e a chamada Torre do Casamento (esq.)Foto: dpa

Um exemplo clássico disso é a colônia art nouveau na Mathildenhöhe de Darmstadt, construída em 1899 e habitada até o início da Primeira Guerra. Foi lá, no alto de uma colina sobre a cidade, que artistas e arquitetos como Joseph M. Olbrich e Peter Behrens criaram sua torre de marfim coletiva, um verdadeiro manifesto art nouveau e art déco sobre a cidade. O traçado da colônia geralmente corresponde a uma utopia de convivência e socialização criada pelos artistas e materializada através de suas obras de arte. Nenhuma separação entre vida e arte.

Com o desenvolvimento do turismo, as colônias também se tornaram um negócio lucrativo, rompendo a reclusão dos artistas e transformando-os em peças de exposição para visitantes interessados e curiosos. Este é o caso de Worpswede, por exemplo, uma vila no norte da Alemanha conhecida por seu ambiente idílico e artesanato típico.

Hombroich está longe disso. Os artistas lá instalados não formam nenhuma "confraria", simplesmente dividem o mesmo ambiente de trabalho. Eventos e encontros com convidados de fora possibilitam uma troca maior. "Arte paralela à natureza": este era o lema do fundador. E artistas paralelos.

Entre ermidas e bunkers

Vidro entre trincheiras: museu projetado por Tadao AndoFoto: dpa

Por mais que a paisagem natural seja essencial na concepção de Müller, ele não hesitou em ampliar sua ilha, em 1994, através da compra de uma antiga estação de mísseis da Otan. Esta paisagem pós-industrial, separada da ilha por uma estrada e um campo de plantio, também é habitada por artistas, alguns dos quais preferiram a solidão de um bunker à dispersão da cidade grande.

Justamente nas imediações da estação de mísseis, cujos edifícios originais foram em parte mantidos, se situa o museu projetado pelo arquiteto japonês Tadao Ando.

Os iniciadores do projeto foram o casal Viktor e Marianne Langen, cuja coleção de 500 peças de arte japonesa desde a Idade Média e 300 obras de arte moderna e contemporânea pode ser apreciada em exposições temporárias entre as paredes de concreto e vidro de Ando. A primeira mostra, intitulada Imagens do Silêncio, expôs rolos caligráficos japoneses, da Idade Média ao século 18, e uma série de highlights de Cézanne a Rothko, de Schiele a Tàpies.

Oásis japonês na planície

Visto de fora, o museu de Tadao Ando, uma de suas poucas construções na Europa, leva em consideração, em sua discreta elevação em relação ao solo, a paisagem das planícies renanas. Aproveitando o entorno da estação de mísseis, Ando situou o edifício de vidro entre trincheiras, impedindo que a construção ficasse perdida no descampado.

Museu Fundação Langen, HombroichFoto: Tomas Riehle/artur

O museu do arquiteto japonês dialoga com a arquitetura dos arredores, com seus bunkers e estufas, desdobrando-se – sob o discreto e reduzido abrigo de vidro – em amplas salas de concreto subterrâneas, arejadas e iluminadas pelas frestas e escadas íngremes que as ligam à superfície.

A idéia da ilha se faz presente no caminho de entrada, a ser percorrido sob um portal semicircular através de uma passarela sobre um espelho de água. Uma arquitetura que, mais que todo o projeto Hombroich, vive da intensa interação de arte e natureza.

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