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Israel e Berlim

27 de janeiro de 2012

Com ateliês baratos, uma vida cultural respeitável e espaço para a criatividade, a capital alemã atrai artistas de todo o mundo, entre estes também israelenses. Um lugar predileto por causa (ou apesar) do passado.

Berlim é lugar seguro para israelenses, diz artista
Berlim é lugar seguro para israelenses, diz artistaFoto: dapd

A mudança de Benyamin Reich para Berlim não transcorreu de todo tranquila. Seu pai, uma pessoa que já esteve em diversos lugares do mundo, negava-se a pôr os pés na Alemanha, tendo percorrido até mesmo, para evitar o país, caminhos mais longos em suas viagens. O peso do passado e as atrocidades cometidas contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial o impediam de visitar a Alemanha. Benyamin Reich mudou-se, apesar disso, para Berlim, livrando-se das amarras familiares, deixando Israel e a vida em uma comunidade judaica ortodoxa.

Ele é fotógrafo e vive desde 2009 na capital alemã. Filho de um rabino, Reich tem dez irmãos e cresceu em uma comunidade religiosa – um "gueto", como ele próprio descreve. Hoje, não é ele quem usa chapéus pretos nem tem os cachos típicos dos judeus ortodoxos, mas sim os homens em suas fotos. "Sempre tento me desprender disto, mas minhas vivências como criança adentram meus trabalhos. Elas são parte de mim", diz o artista de 34 anos.

Fotografia de Benyamin Reich em mostra do Museu Judaico de BerlimFoto: Benyamin Reich

Suas fotos mostram, com um olhar ambíguo, judeus ortodoxos, com o tórax nu, usando tefilins [correias de couro e duas caixinhas, uma atada à cabeça e outra ao coração. Dentro de cada caixa encontram-se escritos quatro parágrafos da Torá]. "Precisei primeiro ir para longe de casa, para, de fora, a partir de uma nova perspectiva, poder olhar para essa vida", diz Reich. Sua fotos fazem parte da mostra Heimatkunde, uma exposição atual da coleção do Museu Judaico de Berlim.

"O lugar mais seguro para os judeus"

Benyamin Reich gostar de viver em Berlim. "Essa cidade é tão crua, que se tem a impressão de poder moldá-la". Além disso, continua ele, os aluguéis são baratos e o custo de vida baixo.

"Por este ateliê, eu pagaria certamente três vezes mais em Tel Aviv ou em Nova York", fala o artista, que divide um amplo estúdio com outros fotógrafos em um bairro central de Berlim. "Esse sentimento de liberdade é o que atrai, no momento, artistas de todo o mundo para Berlim, entre estes também israelenses. Acho que muitos deles nem sequer pensam no passado. Isso só acontece quando eles já estão aqui", acredita Reich.

Benyamin Reich: artista israelense radicado em BerlimFoto: DW/N.Wojcik

Este foi um processo que o fotógrafo percebeu também em sua própria história. Desde que se mudou para a capital alemã, ele tem forçosamente se debatido com a temática da Segunda Guerra Mundial e se perguntado como o Holocausto pôde ocorrer. Seus avós, que fugiram da Hungria e da Polônia, nunca falaram a respeito, mas alertaram seus filhos e netos a nunca pisarem na Alemanha.

O passado da guerra está muito mais presente em Berlim que em Israel, observa Reich, embora ele não se sinta incomodado com isso. "A Alemanha é o lugar mais seguro para os judeus", brinca ele, mas com determinação. "O pior já aconteceu aqui". Um opinião dividida também por Gabriel S. Moses, quadrinista e ilustrador israelense. "A pior fase imaginável, pela qual um país pode passar, ficou por sorte para trás. E os alemães tiveram que aprender uma lição bastante dura com isso", diz Moses.

O passado ficou para trás

Da mesma forma que Benyamin Reich, o quadrinista e ilustrador israelense também se sentiu magicamente atraído por Berlim, principalmente porque ele não havia encontrado, em Israel, nenhuma editora interessada em seu primeiro trabalho: uma novela gráfica experimental. "Quando um artista quer se mudar para a Europa, Berlim é o ponto de partida perfeito", fala Moses. Hoje, ele já conseguiu publicar na cidade sua segunda nova gráfica, intitulada Subz – um volume autobiográfico sobre o cotidiano de um adolescente na linha de trégua israelense.

Gabriel S. Moses: quadrinista e designer gráficoFoto: DW/N.Wojcik

Moses não consegue, no momento, imaginar-se vivendo em Israel novamente. "Tudo o que se fala ou que se faz em Israel é uma declaração política. Mesmo se você vai fazer festa, é preciso se justificar", comenta o artista. Sua criatividade, diz ele, acabou sofrendo sob a pressão dos conflitos sociais e políticos. "Meus pensamentos pareciam tomados. Em Israel, eu tinha a impressão de que estavam sempre gritando comigo". Em Berlim, ao contrário, sinto uma grande tolerância e um interesse por visões artísticas. O presente, continua Moses, é o que me liga, em primeira linha, a esta cidade. O passado fica em segundo lugar.

Por fim, até os pais de Benyamin Reich acabaram dando uma chance à Berlm contemporânea e visitaram o filho na cidade. "Foi difícil para eles, pois meus avós os haviam proibido de ir para a Alemanha algum dia na vida. Mas acho que foi uma viagem importante para os dois", conta o fotógrafo. Sua mãe ficou positivamente impressionada com a cidade, sobretudo com a sinagoga, que fica a poucos metros do ateliê do filho. E é visitada por ele com regularidade.

Autora: Nadine Wojcik (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque

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