As críticas à candidatura de Berlim às Olimpíadas de 2036
Andreas Sten-Ziemons
24 de novembro de 2023
Se capital alemã for escolhida como sede, Jogos ocorreriam exatamente 100 anos depois da edição organizada pelo regime nazista de Adolf Hitler. Alguns críticos consideram isso um desrespeito
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Berlim está preparada para sediar os Jogos Olímpicos de 2036 ou de 2040. Foi o que informou esta semana o prefeito da capital alemã, Kai Wegner, e a secretária de Esportes, Iris Spranger, à Federação Alemã de Esportes Olímpicos (DOSB, na sigla em alemão).
"Queremos Jogos não apenas para, mas acima de tudo com o povo de Berlim", disse Wegner.
A ideia, porém, não agrada todo mundo.
Se a candidatura de Berlim for bem sucedida e a capital alemã sediar os Jogos Olímpicos de 2036, eles ocorreriam exatamente 100 anos após a edição de 1936, organizados pelo regime nazista de Adolf Hitler.
Muitos críticos consideram isso um desrespeito. "Dá a estranha impressão de uma comemoração de 100 anos", disse o historiador Oliver Hilmes ao jornal alemão Tagesspiegel. De acordo com Hilmes, seria necessário sempre uma espécie de acompanhamento com contexto histórico.
Mas a realização dos Jogos Olímpicos enfrenta, também, outros obstáculos. O Senado de Berlim criticou o projeto por outros motivos: Os Verdes apontam para a condição às vezes precária das instalações esportivas da capital e a grande necessidade de reforma de quadras esportivas, ginásios e piscinas.
"Antes de investir bilhões em um grande evento esportivo, precisamos nos concentrar em colocar nossas instalações e clubes esportivos em forma", disse Klara Schedlich, porta-voz de política esportiva do Partido Verde de Berlim.
Como os Jogos de 1936 foram vistos?
Os visitantes internacionais dos Jogos de 1936 vivenciaram um grande evento esportivo perfeitamente organizado. Na época, ele teve o recorde de participantes: 4.000 atletas de 49 nações. O número de visitantes também foi sem precedentes. Nos cafés e salões de dança da capital alemã, as pessoas se divertiram e aproveitaram a vida por 16 dias.
Ao mesmo tempo, os Jogos foram um grande espetáculo de encenação e propaganda para os nazistas. Pela última vez durante seu período no poder, que durou até 1945, eles se apresentaram pacificamente ao mundo exterior. No verão europeu de 1933, Adolf Hitler e o governo nazista emitiram uma declaração, conforme exigido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), de que os Jogos estavam abertos a "todas as raças e confissões".
No entanto, os eventos que antecederam os Jogos já mostravam que o verdadeiro espírito dos nazistas era outro: em 1935, foram aprovadas as Leis Raciais de Nuremberg, que enfatizavam sua ideologia antissemita e racista. No mesmo ano, a Wehrmacht (forças armadas da Alemanha nazista) aumentou de 100.000 soldados para mais de 500.000. Além disso, a Renânia foi ocupada militarmente em 1936, quebrando assim acordos internacionais.
Os Jogos foram concedidos a Berlim em 1931, ainda durante a democrática República de Weimar.
Muitos críticos dizem que eles deveriam ter sido retirados dos alemães depois que Hitler e os nazistas ascenderam ao poder, em janeiro de 1933. Mas isso não aconteceu - um boicote olímpico discutido pelos americanos e outras nações também acabou não vingando. Hitler conseguiu seu grande palco e o aproveitou ao máximo.
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Que oportunidades Berlim 2036 ofereceria?
Cem anos após os "jogos nazistas sob a suástica", a cidade poderia mostrar o quão diversificada e aberta é a metrópole esportiva de Berlim hoje em dia, argumenta o prefeito Wegner. Sua antecessora no cargo, a atual secretária de Economia de Berlim, Franziska Giffey, também vê a organização dos Jogos Olímpicos como uma grande oportunidade.
"Já vimos o efeito positivo na cidade com os Jogos Olímpicos Especiais[para pessoas com deficiência intelectual e múltipla] deste ano, mesmo que apenas em termos dos muitos visitantes que impulsionam o turismo", disse ela. "Se os Jogos Olímpicos forem realizados com sucesso, o efeito econômico poderá ser sentido em toda Berlim."
E os apoiadores não são apenas da política local. Jens-Christian Wagner disse à emissora de rádio Mitteldeutscher Rundfunk (MDR) que é a favor da ideia. Wagner é o diretor da Fundação Memorial de Buchenwald, o maior campo de concentração em território alemão de 1937 a 1945.
Entretanto, de acordo com Wagner, um exame intensivo da apropriação dos Jogos de 1936 pelos nazistas também é essencial. "Por um lado, as instalações esportivas que já foram utilizadas em 1936 também serão usadas". E, segundo Wagner, elas teriam que ser rotuladas de acordo. "Isso tem que ser tratado com muita consciência e também é preciso abordar a questão de como o esporte pode ser mal utilizado para fins políticos".
Qual é a probabilidade dos Jogos Olímpicos ocorrerem na Alemanha?
Recentemente, o presidente do COI, Thomas Bach, diminuiu as expectativas de cidades ou regiões alemãs sediarem os Jogos.
Ele disse que ficaria "muito feliz" com a realização do evento em seu país natal. Entretanto, devido às restrições de entrada em resposta à guerra de agressão russa contra a Ucrânia, a Alemanha não seria uma opção como anfitriã - pelo menos por enquanto.
"O COI só pode organizar Jogos em que suas regras sejam respeitadas", disse Bach. "Isso inclui garantir que todos os participantes credenciados pelo COI tenham permissão para entrar."
Os próximos três Jogos Olímpicos foram concedidos a Paris (2024), Los Angeles (2028) e Brisbane (2032), enquanto os próximos Jogos Olímpicos de Inverno serão realizados em Milão/Cortina d'Ampezzo em 2026.
Os anfitriões dos Jogos de 2030 e 2034 serão conhecidos no próximo ano. Assim, seria possível organizar os Jogos de 2036 com bastante antecedência.
A competição já está acirrada. De acordo com Bach, há um número "de dois dígitos de partes interessadas". Até o momento, a Índia é a grande favorita.
As mascotes dos Jogos Olímpicos
Os Jogos tiveram mascotes a partir de 1972, em Munique. Animais e figuras reais ou fantasiosas representam cada edição e motivam atletas e espectadores.
Foto: kyodo/dpa/picture alliance
Munique 1972: cão-salsicha Waldi
A primeira mascote da história dos Jogos Olímpicos foi o dachshund (cão-salsicha) Waldi. O famoso designer alemão Otl Aicher, que o concebeu para Munique 1972, escolheu esta raça canina porque ela se caracteriza pela resistência, tenacidade e agilidade, atributos importantes dos atletas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Montreal 1976: o castor Amik
O castor preto Amik representa, para os canadenses, trabalho árduo. O nome significa castor na língua algonquin, a mais difundida entre os indígenas canadenses. A escolha pelo animal, nativo do Canadá, se deveu a características importantes para um atleta: paciência e trabalho duro para construir as barragens onde vive.
Foto: Sven Simon/imago
Moscou 1980: o urso Misha
Em 1980, os Jogos em Moscou tiveram o animal nacional da Rússia como mascote. Ele foi concebido pelo caricaturista e ilustrador de livros infantis russo Viktor Chizhikov, que alcançou fama internacional com Misha. A imagem da mascote chorando na cerimônia de encerramento emocionou o mundo.
Foto: Sven Simon/imago
Los Angeles 1984: a águia Sam
Outro animal símbolo nacional: a águia Sam. Idealizado pelo desenhista Robert Moore, dos estúdios Disney, o animal tinha um chapéu cartola e gravata borboleta nas cores da bandeira dos Estados Unidos.
Foto: Tony Duffy/Getty Images
Seul 1988: o tigre Hodori
Nos Jogos na capital da Coreia do Sul, o escolhido foi o tigre Hodori, um animal enraizado na cultura e mitologia coreanas, e que representa vigor e espírito de luta. Em sua cabeça, a mascote usa um sangmo, chapéu típico de músicos populares sul-coreanos. Seu criador foi Kim Hyun. O nome é uma mistura de horangi, que significa tigre, e dori, diminutivo de garoto.
Foto: Sven Simon/imago
Barcelona 1992: o cão pastor Cobi
A mascote espanhola idealizada pelo designer Javier Mariscal no estilo do cubismo foi uma homenagem ao pintor espanhol Pablo Picasso. O nome vem do comitê organizador dos Jogos de Barcelona.
Foto: Pressefoto Baumann/imago
Atlanta 1996: Izzy
Izzy foi a primeira mascote olímpica que não representava um animal típico do país. O designer americano John Ryan criou uma criatura puramente imaginária. O difícil era dizer do que se tratava, tanto que o nome é uma abreviação de "Whatizit", forma informal da pergunta "What’s it?" (O que é isso?, em inglês).
Foto: Michel Gangne/AFP/Getty Images
Sydney 2000: Olly, Syd e Millie
Pela primeira vez, os Jogos tiveram três mascotes numa edição. Criadas pelo designer Matthew Harton, elas representam animais nativos australianos. Olly, cujo nome vem de Olimpíada, é um pássaro kookaburra; Syd, versão reduzida de Sydney, é um ornitorrinco; e Millie, batizada em homenagem ao novo milênio, é um equidna, espécie de porco-espinho.
Foto: Arne Dedert/dpa/picture-alliance
Atenas 2004: Athena e Phevos
As mascotes dos Jogos Olímpicos de Atenas foram uma homenagem à mitologia grega. Athena e Phevos receberam os nomes de irmãos do Olimpo. Athena era a deusa da sabedoria e deu o nome à cidade onde se realizaram os Jogos. Phevos era o outro nome de Apolo, deus da luz e da música. A inspiração para o desenho, feito por S. Gogos, foi uma "aitala", boneca de terracota encontrada em escavações.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Image
Pequim 2008: Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini
Os Jogos na capital chinesa tiveram cinco mascotes, cada um numa cor dos anéis olímpicos: Beibei, um peixe; Jingjing, um panda; Huanhuan, o fogo olímpico; Yingying, um antílope tibetano; e Nini, uma andorinha. Os nomes foram derivados de "Beijing huanying ni", que significa "Pequim lhe dá as boas-vindas".
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
Londres 2012: Wenlock e Mandeville
Wenlock e Madeville – esta última mascote dos Jogos Paralímpicos – lembram gotas de aço. Elas têm na cabeça um escudo laranja que lembra os sinais luminosos sobre os táxis ingleses. O olho, uma câmera, simboliza a era digital. Um nome vem de Much Wenlock, que teria inspirado o Barão de Coubertin a criar os Jogos da Era Moderna, e o outro vem de Stoke Mandeville, berço do Movimento Paralímpico.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Rio 2016: Vinícius e Tom
A mascote Vinícius é uma mistura de macaco e gato selvagem e representa a fauna brasileira. Já a mascote paralímpica Tom combina várias plantas e representa a flora brasileira. Os nomes foram inspirados em Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Foto: Sebastiao Moreira/dpa/picture alliance
Tóquio 2020: Miraitowa e Someity
Miraitowa significa "futuro" (mirai) e "eternidade" (towa), em japonês. O projeto do artista Ryo Taniguchi foi escolhido por estudantes japoneses e combina futurismo com o tradicional estilo mangá. Já Someity, mascote dos Jogos Paralímpicos, mistura o termo "Someiyoshino", um tipo popular de flor de cerejeira, e a expressão "so mighty" (tão poderoso, em inglês).
Foto: picture-alliance/Kyodo/Maxppp
Paris 2024: os barretes Les Phryges
As mascotes dos Jogos de Paris também vêm em dupla: Les Phryges, em versão olímpica e paralímpica. Sua forma é inspirada no barrete frígio, "uma peça de vestuário que é um simbolo de liberdade, tem sido parte de nossa história há séculos e data a tempos remotos", "um símbolo de revoluções" e onipresente na França, explica o website do evento.