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Estado de DireitoBelarus

As crianças dos protestos de Belarus

Tatyana Nevedomskaya
25 de setembro de 2020

Autoridades ameaçam retirar tutela de quem leva filhos para manifestações contra Lukashenko. Mas nem todos se deixam intimidar. Alguns pais explicam suas razões para a DW.

Protesto contra Lukashenko em Minsk
Mulher leva a filha para um protesto contra Lukashenko em Minsk, em BelarusFoto: Reuters/BelaPAN

As pessoas que participam dos protestos em Belarus contra mais uma reeleição do presidente Alexander Lukashenko passaram a ter algo mais a temer além de multas: autoridades bielorrussas recentemente ameaçaram os manifestantes com uma revisão de seus status familiares – ou, em outras palavras, com a retirada da custódia de seus filhos.

"A participação de crianças em manifestações será submetida a uma avaliação jurídica", anunciou o vice-primeiro-ministro de Belarus, Igor Petrishenko, também responsável pela observância dos direitos de menores. 

E, de fato, o Ministério Público de Minsk já enviou 140 advertências, embora muitas pessoas não se intimidem com isso. À DW, algumas famílias relataram sua experiência.

Veronika, jornalista

"Quando se quer colocar as famílias sob pressão, sempre se encontra uma maneira", diz Veronika. A mãe de três filhos enfatiza que até mesmo quem não fez nada de errado pode receber a visita das autoridades, tendo em vista a total arbitrariedade. Ela quer que seus filhos vivam num país livre. "Se não alcançarmos a democracia, a igualdade e o Estado de Direito agora, caberá a eles conseguirem isso", afirma a jornalista.

A vovó que desafia o ditador Alexander Lukashenko

02:24

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Veronika e seu marido levaram os filhos às manifestações várias vezes, mas ela diz que nunca se preocupou. "Com ou sem filhos, por razões de segurança recomenda-se andar em grupos grandes. Quando há milhares atrás e milhares à frente de você, fica claro que não há tantos policiais assim para conseguir fazer algo de ruim a essa massa de gente."

Alexey, funcionário do setor financeiro

"Se os manifestantes forem privados da guarda de seus filhos, isso aumentará ainda mais a insatisfação. As crianças ficarão em casa e protestarão mesmo assim", disse Alexey, pai de uma menina de 4 anos. "Mudamos de Brest para Minsk, onde não temos parentes. Não queremos que nossa filha fique com estranhos, por isso a levamos várias vezes aos comícios."

Para Alexey, os manifestantes agem com cautela: "A maioria dos protestos são formados por pessoas instruídas e inteligentes. Além disso, as manifestações acontecem em ruas largas, onde sempre é possível se afastar. No que diz respeito à polícia, não sei de nenhum caso onde pais com crianças tenham sido detidos."

Mas Alexey alerta que a situação está mudando. Segundo ele, está cada vez mais perigoso protestar, e grupos de manifestantes estão sendo presos. Por ora, portanto, Alexey decidiu ir sozinho aos protestos. Porém, ele se diz convencido de que as crianças devem saber qual a posição de seus pais como cidadãos: "Se não conseguirmos mudar algo agora, talvez eles obtenham sucesso."

Elena, médica

"Participamos de todos os grandes comícios", disse Elena, que tem dois filhos, de 14 e 16 anos. "Antes das eleições não tínhamos medo porque não tínhamos ideia do que poderia acontecer. Levávamos nossos filhos conosco."

Mas na noite de 9 de agosto, Elena presenciou o horror da repressão policial brutal aos manifestantes. "Nos dias seguintes, deixei as crianças em casa", lembra a médica, cujo maior medo é que seus filhos se tornem vítimas da violência policial. "Eles não parecem mais crianças", explica. "Nunca se sabe o que esperar da polícia."

Segundo ela, muitos alunos substituíram a bandeira verde e vermelha de Belarus nas capas de seus cadernos pela histórica bandeira vermelha e branca, que se tornou um símbolo dos protestos. Até agora, porém, ela diz não ter havido reclamações aos pais a esse respeito por parte dos professores.

Natália, contadora

Mas nem todos pensam assim. "Numa escola de Minsk, bandeiras vermelhas e verdes foram entregues às crianças, que tiveram então que marchar e ser filmadas com elas. Não sei como eu teria reagido", disse Natália, que é mãe de dois filhos.

Ela levou os filhos a um único protesto, quando eles tinham 8 e 15 anos. "O mais velho é alto e pode ser facilmente confundido com um adulto. Por isso me preocupo com ele", explicou a contadora. Ela própria participou dos protestos todos os dias durante a primeira semana após as eleições. Agora, ela só vai aos domingos. "Vejo muitos pais com filhos, inclusive com uns muito pequenos, em carrinhos de bebê. Não me atreveria a fazer isso. É mais seguro ir sozinha aos protestos. No tocante à retirada de custódia, vejo isso mais como uma forma de intimidação. Legalmente, trata-se de um processo muito difícil", aponta Natália.

Oleg, funcionário da educação

Oleg (nome alterado a pedido) é pai de um menino de 8 anos e de uma menina mais velha que não mora com ele. "Depois da votação, fomos ao local do pleito para ver o resultado, mas não havia nenhum aviso por lá. Os membros da comissão eleitoral fugiram pelo porão", lembra.

Posteriormente, ele e sua família acompanharam o que se passava em Minsk: "Quando voltamos do trabalho para casa na noite de 11 de agosto, vimos uma visão apocalíptica: não havia carros, nem transporte público; apenas polícia e veículos especiais. Não sabíamos o que responder às perguntas do nosso filho."

Oleg conta que o filho esteve presente em vários comícios: "No dia 16 de agosto, queria levá-lo para a casa da avó, mas ele disse que não nos deixaria ir sozinhos. Para a próxima manifestação, ele pintou uma bandeira vermelha e branca." Mas agora que os manifestantes arriscam perder a custódia de seus filhos, Oleg não quer mais levar o garoto com ele: "Isso não significa que nosso ânimo para protestar desmoronou. Continuaremos a criar nossos filhos para serem bons cidadãos, que têm direito a ter uma posição própria e de expressar livremente sua opinião."

Adaptação: Isadora Pamplona

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