Imagem do corpo de Aylan Kurdi, de três anos, estendido numa praia na Turquia, chocou o mundo. Pai da criança conta sobre naufrágio que matou a mulher e seus dois filhos. Família síria teve asilo negado no Canadá.
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"Todos gritavam na escuridão. Não podia fazer com que minha mulher e meus filhos me ouvissem". A mulher Rehan, de 35 anos, e os meninos Aylan, de três, e Galip, de cinco, escaparam das mãos de Abdullah Kurdi.
O sírio de Kobane, cidade assolada pelos extremistas do grupo "Estado Islâmico" (EI), foi o único sobrevivente do naufrágio de um barco com 12 refugiados, próximo à praia do resort de Bodrum, na Turquia. Eles tentavam chegar à ilha de Kos, na Grécia. Um outro bote com 16 pessoas, inclusive crianças, também virou.
A imagem do corpo do pequeno Aylan, estendido na areia à beira do mar, se tornou nesta semana um símbolo do drama enfrentado por refugiados que fogem de perseguições e tentam um recomeço na Europa.
"Queremos a atenção do mundo sobre nós para prevenir que o mesmo não aconteça com outras pessoas", disse Abdullah a jornalistas.
Depois de uma dura jornada na tentativa de proteger sua família, ele se prepara para voltar a Kobane e enterrar a mulher e os dois filhos.
Recusados no Canadá
Abdullah e a família tinham fugido para a Turquia, de onde tentavam conseguir refúgio no Canadá. A irmã de Abdullah, Teema Kurdi, que vive há 20 anos em Vancouver, fez o pedido de asilo em nome dos familiares em junho, mas as autoridades canadenses negaram a solicitação.
"Tentei me responsabilizar por eles, e tenho amigos e vizinhos que me ajudaram com os depósitos bancários, mas não consegui tirá-los da Turquia. Por isso, eles entraram no barco", afirmou à imprensa canadense. "Cheguei até a pagar o aluguel deles na Turquia, mas é horrível a forma como tratam os sírios por lá."
Apesar de o Canadá ter concordado em receber cerca de 20 mil refugiados sírios, apenas mil chegaram ao país até o final de julho. Abdullah disse que as autoridades canadenses lhe ofereceram a cidadania após o naufrágio, mas ele recusou.
Pânico a bordo da embarcação
Abdullah fez severas críticas ao tratamento recebido pelos refugiados na Turquia. "Queremos que o mundo todo veja as coisas que aconteceram para nós aqui, no país onde nos refugiamos para escapar da guerra em nossa terra natal", disse.
Em uma ação desesperada, Abdullah pagou duas vezes a atravessadores para embarcar clandestinamente para a Grécia, mas as tentativas fracassaram.
Junto com outros migrantes, a família decidiu encontrar um barco e remar por conta própria até a costa grega. A travessia teve o fim trágico. As pessoas entraram em desespero ao verem a água entrando na embarcação, que naufragou em seguida. "Que isso não aconteça mais. Que tenha sido a última vez", lamenta Abdullah.
KG/RC/rtr/afp
Fotos que chocaram o mundo
Uma imagem muitas vezes diz mais que mil palavras. Reveja fotos icônicas que documentaram os efeitos de guerras, revoluções e atentados terroristas mundo afora.
Foto: STAN HONDA/AFP/Getty Images
Guerra do Vietnã – 1972
Na foto icônica, crianças desesperadas correm após uma bomba de napalm atingir o vilarejo em que viviam, no sul do Vietnã. A menina nua – Phan Thi Kim Phuc, de nove anos – sobreviveu por ter tirado suas roupas em chamas. Ela vive hoje no Canadá. A foto influenciou a visão da opinião pública sobre o conflito no Vietnã. O fotógrafo, Nick Ut, ganhou o Prêmio Pulitzer pela imagem em 1973.
Foto: picture-alliance/AP Images
Atentado de 11 de setembro de 2001
Coberta de poeira, a mulher da foto, Marcy Borders, tentava fugir do World Trade Center, em Nova York, logo após um avião ter atingido a primeira das Torres Gêmeas. A imagem tornou-se símbolo do ataque terrorista. Borders morreu em 26 de agosto de 2015, aos 42 anos de idade. Ela sofria de câncer estômago, após ter vivido mais de uma década em depressão e como dependente de álcool e drogas.
Foto: picture-alliance/dpa/AFP
Praça da Paz Celestial – 1989
Em 5 de junho de 1989, este homem deteve uma fila de tanques de guerra. No dia anterior, o Exército chinês havia reprimido com violência protestos na Praça da Paz Celestial, em Pequim. A identidade e o destino do manifestante da foto nunca foram determinados com certeza. Ele foi retirado do local logo após o fotógrafo Jeff Widener ter registrado o corajoso momento.
Foto: Reuters/A. Tsang
Protestos estudantis em Berlim – 1967
No dia 2 de junho de 1967, a polícia reprimiu com violência um protesto contra a visita oficial do xá do Irã. O estudante alemão Benno Ohnesorg foi morto a tiros por um policial. A morte do jovem levou à radicalização do movimento de esquerda na Alemanha no fim dos anos 1960. À epoca, a esposa de Ohnesorg estava grávida do primeiro filho.
Foto: AP
Assassinato de John F. Kennedy – 1963
O presidente americano John F. Kennedy foi assassinado em Dallas, no Texas, em novembro de 1963, enquanto se locomovia num veículo presidencial. Abraham Zapruder registrou o momento por acaso, enquanto filmava a passagem do político. O frame 313 do vídeo mostra o tiro na cabeça de Kennedy. A notícia sobre o atentado ao presidente americano abalou profundamente a população.
Foto: picture-alliance/dpa
Massacre de Munique – 1972
Durante os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, 11 membros da equipe olímpica israelense foram feitos reféns e mortos pelo grupo terrorista palestino Black September. Um policial alemão também foi morto, assim como cinco dos terroristas. Esta foto icônica mostra um dos sequestradores.
Foto: dapd
Guerra do Afeganistão – 1972
O retrato tirado por Steve McCurry foi capa da revista "National Geographic" em 1985. A foto da jovem afegã refugiada no Paquistão se tornou um dos mais famosos símbolos da ocupação soviética de seu país natal e do destino de refugiados mundo afora. A identidade da garota de 12 anos permaneceu desconhecida até ela ser localizada novamente em 2002. Sharbat Gula nunca havia visto sua foto famosa.