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As crianças roubadas pelos nazistas na Polônia

Monika Sieradzka rw
1 de janeiro de 2018

Durante a Segunda Guerra Mundial, cerca de 200 mil crianças polonesas foram raptadas pelo regime nazista e "germanizadas" à força. Hoje, buscam suas raízes.

Zyta Suś quando criança e hoje
Zyta Suś quando criança e hoje: em busca da família

Apesar de seus 83 anos, Zyta Suś tem muita energia e mantém o bom humor. Mas sua voz muda quando fala sobre seu sequestro pelos nazistas. Em 1942, então com oito anos, ela foi raptada de um orfanato em Lodz, na Polônia, país para onde só retornaria aos 12 anos de idade.

Hoje, ela mora em um bairro operário em Varsóvia, com outro nome. Ela não quer que seus vizinhos conheçam sua trágica história. "Eu não quero ser chamada de bastarda alemã de novo", diz. Assim a chamaram quando ela retornou da Alemanha após a guerra.

A germanização forçada de crianças como Zyta era feita, em geral, com métodos brutais. Ela atingiu, acima de tudo, crianças levadas da Polônia ocupada para o Reich alemão ou tiradas dos trabalhadores forçados poloneses na Alemanha.

Já em 1938, o chefe da SS, Heinrich Himmler, declarou: "Eu realmente tenho a intenção de buscar, roubar e raptar sangue germânico onde eu puder". Nos países ocupados, as crianças foram tiradas dos pais ou tiradas de orfanatos. Os critérios de seleção eram olhos azuis e cabelos loiros, de acordo com o ideal "ariano" de Hitler. A associação da SS Lebensborn foi responsável pela germanização compulsória das crianças.

Luta pela indenização

Depois de raptada, Zyta foi proibida de falar a língua materna. Tanto na escola quanto no abrigo onde morava, as transgressões estavam sujeitas a severas penas, como passar fome ou ser presa no porão. Ao final, ela acha que teve sorte, pois foi adotada por uma família amável de Salzburgo, na Áustria.

Após a guerra, o governo polonês repatriou mais de 30 mil destas crianças. Zyta foi uma delas. Ela voltou para um orfanato, onde foi chamada de "alemã imbecil" porque só sabia falar alemão. Por isso, ela considera o tempo em Salzburgo como o mais belo de sua vida. Até hoje ela procura contato com a família austríaca.

Uma equipe de jornalistas poloneses e alemães da Deutsche Welle e o portal polonês Interia estão ajudando Zyta nesta busca.

Em vários arquivos na Alemanha e na Polônia estão sendo procurados vestígios de "parentes" na Áustria e especialmente da sua mãe polonesa. Mas como os nomes das crianças sequestradas frequentemente eram alterados pelas instituições alemãs, a busca muitas vezes dá em nada.

É o caso de Hermann Lüdeking, de 88 anos, que também foi raptado na Polônia ocupada. Hoje, ele mora no sul da Alemanha e também quer descobrir quem foram seus pais. Também ele tem a ajuda da ajuda a associação Geraubte Kinder - vergessene Opfer (Crianças roubadas – Vítimas esquecidas).

Desde 2012, a organização tenta em vão conquistar o interesse dos políticos alemães pelo tema. "Nós somos vítimas esquecidas. Outros grupos de vítimas receberam uma compensação da Alemanha, só nós não", diz Herrmann Lüdeking. Em 2017, ele entrou com um processo contra a Alemanha, sendo o primeiro a lutar na Justiça por uma indenização.

Projeto teuto-polonês

No ano passado, foi lançado o projeto teuto-polonês entre a Deutsche Welle e o Interia. Desde então, repórteres dos dois países estão visitando instituições, arquivos e fundações para conversar com sobreviventes. Foram visitados vários lugares históricos onde moraram as crianças raptadas: Hohenhorst, perto de Bremen; Kohren-Sahlis, nas proximidades de Leipzig, e na antiga Reichsschule für Volksdeutsche (escola imperial para alemães que nasceram fora do Reich), em Achern.

É a primeira vez que a mídia dos dois países trabalha em conjunto para divulgar o assunto e ajudar as vítimas. Eles sabem que o tempo urge, pois as vítimas estão em idade avançada.  

"Falar com essas pessoas que durante décadas procuraram sozinhas por suas famílias e que aos 80 anos ainda não sabem quem são" foi uma experiência difícil, diz a jornalista Ewelina Karpinska-Morek, do portal Interia. "Sempre sentimos a pressão do tempo, e sempre estivemos conscientes de que é o último momento possível para ainda ouvir as vítimas".

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