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ReligiãoAlemanha

As diferenças entre as Igrejas Protestante e Católica

Klaus Krämer rw
Publicado 27 de outubro de 2017Última atualização 31 de outubro de 2017

Passados mais de 500 anos da Reforma introduzida por Martinho Lutero, diferenças entre as duas Igrejas persistem, passando pelo celibato, a adoração de santos e a eucaristia.

Cruz vista de baixo sob um fundo de céu noturno com estrelas em movimento
Movimento iniciado em 1517 mudaria para sempre o cristianismoFoto: picture-alliance/dpa/D. Karmann

Na Alemanha, onde nasceu a Reforma da Igreja, católicos e protestantes ainda viviam em profunda hostilidade até algumas décadas atrás. Agressões mútuas, condenações doutrinais, conflitos e guerras de motivação religiosa acompanharam essa cisão.  

A razão para isso aconteceu em 1517, com a separação da Igreja em Católica e Protestante. A ideia inicial do monge Martinho Lutero (1483-1546), de reformar a Igreja Católica, acabou não se concretizando. Pelo contrário, a publicação de suas 95 teses em 31 de outubro de 1517 contra o que considerava teologicamente inoportuno na Igreja de seu tempo é considerada a base da Igreja Protestante e o ponto de partida da divisão em confissão católica e evangélica luterana na Alemanha.

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Apesar dos esforços de ambos os lados pela superação das diferenças, não há perspectiva de que algum dia as duas confissões voltem a se unificar. As duas Igrejas definem sua relação como "diferença conciliada".

Muito do que Lutero quis reformar na Igreja católica diferencia e divide as duas confissões até hoje. Estas são as oito principais diferenças:

1. Interpretação da Bíblia

O catolicismo e o protestantismo têm diferentes pontos de vista sobre o significado e a autoridade de fé da Bíblia. Desde Lutero, está claro para os protestantes: a Bíblia é "sola scriptura", ou seja, ela é a única palavra inspirada por Deus, com revelações que nos permitem a comunhão com Ele.

Edição da Bíblia impressa em Nuremberg em 1700Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance

Já os católicos questionam a validade dessa doutrina de quase 500 anos. Eles não acham que a Bíblia, por si só, seja suficiente. Por isso, além da Sagrada Escritura, também a tradição católica romana é vinculativa para os cristãos.

2. A Igreja

Católicos e protestantes têm uma visão diferente da natureza da Igreja. A Igreja católica (do grego katholikós, universal) se vê como a única Igreja verdadeira, em todo o mundo, sob a liderança do papa.

Para as Igrejas que emergiram da Reforma (evangélica, derivada do Evangelho), não há uma única no que tange a denominações, mas há várias denominações cristãs que compõe a única Igreja Cristã (católicos, luteranos, calvinistas, batistas, etc.), espalhadas pelo mundo. Oficialmente, todas elas se consideram equivalentes.

3. Papado

Os protestantes não são tolerantes em relação ao papado, pois alegam que ele não condiz com a Bíblia. Os católicos veem no Sumo Pontífice o sucessor do apóstolo Pedro e, portanto, o chefe de sua Igreja, nomeado por Jesus Cristo. Isso é explicado por uma cadeia de consagrações que supostamente nunca foi interrompida, desde o século 1º até o presente.

4. O cargo de sacerdote

Segundo o catolicismo, ao receberem o sacramento da Ordem, bispos, sacerdotes e diáconos ganham para sempre a legitimação de servir a Deus. Por isso, o cargo de sacerdote é superior ao de leigos católicos. Essa ordenação, aliás, é reservada aos homens.

Já o Protestantismo não vê na profissão religiosa uma consagração da pessoa. O cargo é uma função pretendida por Deus que, em princípio, pode ser transferido para qualquer cristão, mesmo para mulheres, ainda que algumas igrejas luteranas também não as ordenem.

5. Eucaristia ou Santa Ceia

Na Eucaristia católica, fica evidente a autoridade do sacerdote e o quanto isso influencia a convivência ecumênica. A Eucaristia, ou Santa Ceia, em um culto religioso representa a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Ela remonta à última refeição de Jesus com seus discípulos na véspera de sua crucificação.

A Eucaristia católica pode ser ministrada somente por um sacerdote ordenado. Apenas ele, em nome de Jesus, pode transformar pão e vinho no corpo e no sangue de Cristo. Não é permitida a participação de não católicos.

Na igreja evangélica, qualquer pessoa batizada pode tomar a Santa Ceia. Também é permitido que leigos auxiliem o pastor na distribuição do pão e do vinho. Esta é uma das razões pela qual o lado católico rejeita a Santa Ceia conjunta com protestantes.

Os católicos veem a Eucaristia como uma constante repetição do sacrifício de Jesus Cristo. Em sua interpretação, a hóstia se transforma no corpo de Jesus e pode ser adorada. Já para os luteranos, a Santa Ceia é o verdadeiro corpo e sangue de Jesus, no pão e no vinho. Algumas igrejas luteranas exigem que, além de batizados, os membros tenham tido instrução prévia nas doutrinas da igreja para serem admitidos à Comunhão do Altar.

6. Sacramentos

Na Igreja Católica Apostólica Romana, há sete atos sagrados, os chamados sacramentos: o batismo, a crisma, a Eucaristia, a confissão, o casamento, a ordenação dos sacerdotes e a extrema-unção. O catolicismo crê que Deus salva através destes sacramentos.

Na Igreja Protestante existem apenas dois sacramentos: o Batismo e a Eucaristia (Santa Ceia).

7. Maria e os santos

A Igreja Católica reverencia Maria, a mãe de Jesus, como "rainha celestial" e, em alguns aspectos, a equipara a Ele. Como não há evidências bíblicas para dogmas marianos da Igreja Católica como a salvação de Maria do pecado original e sua glorificação corporaleles são rejeitados pelo lado protestante.

A Igreja católica pratica a veneração dos santos. Os modelos de fé canonizados ao longo da história da Igreja são vistos como mediadores para interceder junto a Deus a favor do crente. Há mais de 4 mil santos, os quais os fiéis podem adorar através de relíquias.

O culto aos santos é categoricamente rejeitado pela Igreja Protestante, por não condizer com os escritos bíblicos. Segundo a fé luterana, todo ser humano pode e deve recorrer a Deus diretamente, em oração, apenas em nome de Jesus.

 8. Celibato

O compromisso de não se casar e manter abstinência sexual é obrigatório para sacerdotes católicos. O celibato sacerdotal é compreendido como sinal da sucessão de Cristo, que segundo a Bíblia era virgem e solteiro.

As igrejas evangélicas rejeitam que o celibato seja um dever, pois não há mandamento de Jesus nem dos apóstolos nesse sentido. Já em 1520, o ex-monge Martinho Lutero exigiu sua abolição e, cinco anos mais tarde, casou-se com a ex-freira Katharina von Bora. Por seu casamento, fundaram o "presbitério protestante", que se tornou uma característica da paróquia luterana ao longo dos séculos.

 

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