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As estranhas vizinhas

7 de março de 2002

Com 3 milhões de fiéis, a comunidade islâmica é a segunda maior da Alemanha. De vários países e praticantes de diferentes formas da religião, eles sofrem o confronto com a sociedade alemã. Especialmente as mulheres.

Muçulmana em MuniqueFoto: AP

Dois terços dos muçulmanos que vivem na Alemanha são de origem turca, dos quais um quarto é adepto do islamismo alevita. Trata-se de uma modalidade religiosa que, embora siga uma tradição diferente, é registrada como xiíta, a mais ortodoxa.

À orientação xiíta pertencem os iranianos, muitos libaneses e alguns paquistaneses. O grande resto é da fração moderada, a sunita. Há ainda os alemães convertidos ao islamismo, em sua maioria mulheres, cujo número varia entre 100 mil e 300 mil, dependendo da fonte.

O número de muçulmanos na Alemanha começou a crescer especialmente nos anos 60, com a importação de mão-de-obra empreendida pelo governo alemão. Com estes imigrantes, e sem outra escolha, muitas mulheres acabaram se estabelecendo no país.

Sobre a maioria, pesava a responsabilidade pela manutenção da identidade familiar islâmica. A elas foi dada a tarefa de cuidar da casa e dos filhos. Até hoje, a maioria das mesquitas e associações vetam a entrada de mulheres. Mas isso está começando a mudar.

Associações de Mulheres –

Diversas organizações lutam pelos direitos da mulher muçulmana na Alemanha. Comum à maioria é o fato de serem lideradas por mulheres de alto nível educacional e familiarizadas com a cultura do país, o que lhes confere acesso tanto à comunidade muçulmana quanto à alemã.

O Centro para Pesquisa de Causas Femininas e Incentivo à Mulher, por exemplo, é uma união de acadêmicas islâmicas que procura interpretar trechos do Corão através do método hermenêutico. Além disso, o grupo dá conselhos terapêuticos e sociais para jovens muçulmanas com problemas de convívio na casa dos pais.

Para mulheres mais velhas e de nível de escolarização mais baixo, é ainda mais difícil lidar com seus novos direitos e sua nova identidade num país ocidental. Elas mal falam alemão e vivem no universo tradicional de sua terra natal, para onde sonham regressar.

Mesmo assim, o número de muçulmanas economicamente ativas é muito maior na Alemanha do que em seus países de origem. Elas trabalham sob más condições na indústria ou no setor de prestação de serviços e são sobrecarregadas pela dupla jornada de trabalho e dona-de-casa.

Lenço na cabeça –

Se usar o tradicional lenço para esconder os cabelos, a mulher costuma ser medida da cabeça aos pés. Caso viole estas regras, terá problemas em casa. Elas vivem entre o severo ambiente familiar e o liberal estilo de vida alemão. Que uma mulher possa ter direitos iguais aos do homem, por exemplo, é incompreensível para um muçulmano.

Uma mulher de lenço na cabeça, em geral, é vista como não integrada e nem disposta à integração. Como estudos recentes têm mostrado, um novo processo de islamização está tomando forma, especialmente entre jovens mulheres na sociedade alemã.

Apesar de adaptadas aos valores alemães, o lenço na cabeça automaticamente as faz serem taxadas de "estrangeiras". Em reação a isso, muitas retornam às raízes islâmicas, sem desistir da nova vida, uma espécie de contracultura que vem sendo chamada de "islamismo racional". (ra)

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