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As lições do atentado de Berlim

5 de janeiro de 2017

Apesar de ser considerado ameaça terrorista e estar para ser deportado, Anis Amri continuava se deslocando livremente. Caso aponta para falha da aplicação consequente de leis, analisa o jornalista Marcel Fürstenau.

Policiais em Berlim
Foto: Reuters/F. Bensch

Continua a busca por potenciais financiadores ou cúmplices do presumível autor do atentado contra um mercado de Natal de Berlim, Anis Amri. A Procuradoria Geral da Alemanha diz estar agora convencida de que o tunisiano, morto em tiroteio com a polícia em Milão, cometeu o ataque de 19 de dezembro contra uma feira de Natal em Berlim. O órgão acrescentou, em declaração dada nesta quarta-feira (04/01), que suspeitas contra um compatriota de Amri não são suficientes para um pedido de prisão no âmbito das investigações sobre o atentado. No dia anterior, a polícia revistara as acomodações do homem de 26 anos num abrigo para refugiados berlinense. 

No entanto, as autoridades judiciárias da capital expediram mandado de prisão contra o conhecido de Amri, por suspeita de outros delitos. Ele teria usado pelo menos dois nomes diferentes, entre abril e novembro de 2015, para solicitar em diversas cidades benefícios sociais para requerentes de asilo. Por isso, estaria sendo investigado desde o primeiro semestre de 2016. 

O próprio Amri também era investigado há tempos por crimes semelhantes, e fora observado pela polícia durante meses, como já é conhecido. Por isso os investigadores do Centro Comum de Defesa contra o Terrorismo (GTAZ) já sabiam também que Amri cogitava realizar um ataque. Mas isso não foi suficiente para um mandado de prisão, pois faltavam de provas concretas. Hoje sabe-se que ele era uma bomba-relógio e que seu potencial foi mal avaliado. Por conseguinte, a opinião que impera é que autoridades de segurança falharam totalmente antes do ataque ao mercado natalino. 

Cerca de duas semanas e meia após o atentado, o meio político e a mídia tentam encontrar explicações para esse evento terrível, repetindo detalhes já conhecidos ou velhas acusações, na falta de novos dados. Mas que informações são realmente novas? Que Amri tinha contato com jihadistas e pesquisou na internet instruções para se construir bombas – isso se tornou conhecido já alguns dias depois do ataque. A razão de ele não ter sido preso já é conhecida também há algum tempo. 

A trajetória de Anis Amri

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O mesmo se aplica às críticas justificadas de que ele não teve que se submeter a restrições, mesmo após seu pedido de asilo ter sido negado e sua deportação ter fracassado. Existiria a possibilidade legal de restringir o raio de movimentação de Anis Amri, a exigência de comparecimentos regulares à polícia teria sido o mínimo. Esta falha e outros eventuais erros não têm nada a ver com a falta de leis. Faltou a aplicação consequente destas. É isso o que é especialmente trágico no caso. 

Portanto a discussão, que se intensificou na arena política desde o início do ano, passa ao largo do problema. Uma maior centralização da arquitetura de segurança alemã, tal como prevista pelo ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, não seria uma garantia de uma maior segurança. O caso Amri mostra que as autoridades tinham uma imagem multifacetada deste homem, considerado uma das 549 ameaças potenciais na Alemanha. No entanto o quebra-cabeça foi montado da forma errada, num ponto decisivo. 

Ameaça persiste 

A dimensão da ameaça de terrorismo existente antes e depois de Amri fica clara após um rápido olhar nos comunicados de imprensa da Procuradoria Geral da República das últimas semanas. No dia seguinte ao ataque ao mercado de Natal, o marroquino Redouane S. foi preso no estado da Baixa Saxônia, acusado de envolvimento em vários ataques, incluindo o de 13 de novembro de 2015, em Paris. Em 14 de dezembro, o tunisiano Charfeddine T., também conhecido como Ashraf Al-T. foi mais uma vez preso, por suspeita de planejar um ataque terrorista em nome do "Estado Islâmico" (EI). 

Após a prisão temporária no início de novembro, as suspeitas não eram suficientes para um mandado de prisão contra o homem de 24 anos. Seis semanas depois, a Procuradoria comunicava que "as investigações subsequentes reforçaram ainda mais as suspeitas". Ele é acusado de estar na Alemanha para "a realização de uma missão dada pelo EI". Ashraf Al-T. e Redouane S. são apenas dois dos muitos suspeitos de terrorismo que podem ter sido presos a tempo.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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