As propostas de López Obrador para combater o crime
José Ospina-Valencia av
7 de dezembro de 2018
Novo presidente mexicano anunciou plano abrangente para proporcionar mais segurança ao país. Com legalização da maconha, mobilização militar e programas sociais, ele quer enfraquecer cartéis do narcotráfico.
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Andrés Manuel López Obrador, também conhecido como "Amlo", foi empossado como presidente do México em 1º de dezembro. Porém já em novembro ele anunciara o Plano Nacional para Paz e Segurança 2018-2024, com que pretende combater o crime organizado, a corrupção e a violência.
Trata-se de uma tarefa hercúlea que nenhum de seus antecessores conseguiu realizar. Amlo assume um país que, em 2017, registrou 31.174 homicídios, o número mais alto das últimas duas décadas. Segundo Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), o Plano Nacional "tem três elementos: social, ético e de política de segurança".
O novo presidente afirma que o programa já começou a funcionar no dia seguinte à sua posse. "Em 2 de dezembro, 35.745 soldados das polícias militar, marítima e federal foram deslocados para 150 postos de coordenação. Além disso, esses grupos contam com o apoio da polícia estatal e comunal", anunciou na primeira das coletivas de imprensa que passarão a se realizar sempre às 7:00h, a fim de, segundo Obrador, garantir "o direito à informação".
No entanto, também já no dia seguinte à posse, um jornalista foi assassinado: Alejandro Márquez era diretor do diário Orión Informativo, do estado de Nayarit. Fotografias o mostram junto a Amlo, durante a campanha presidencial.
Será esse um mau agouro para a legislatura do político de centro-esquerda? "Os efeitos das medidas que Amlo propôs em seu plano de segurança só serão visíveis no médio prazo", afirma Maihold. No entanto, o próprio chefe de Estado elevou ao máximo as expectativas dos cidadãos em relação a seu governo, e estes "contam que a segurança melhorará o mais rápido possível".
O programa para a paz e segurança prevê, entre outros pontos, a criação de uma Guarda Nacional e o combate à corrupção. Ao mesmo tempo, menciona o fim do foro privilegiado para funcionários públicos e ex-presidentes, assim como o desarmamento dos cartéis do narcotráfico. Também o cultivo de maconha deverá ser legalizado, como estratégia na luta contra as drogas. Uma "revolução" estatal visa dar fim à impunidade e aos desaparecimentos.
Para uma Guarda Nacional – talvez a proposta mais importante –, Obrador teria que alterar a Constituição mexicana, e para tal conta com a maioria em ambas as câmaras do Parlamento. Essa corporação se comporia de membros das polícias militar, marítima e federal, estando subordinada ao Exército.
"A sugestão difere da de [presidente mexicano anterior Enrique] Peña Nieto e de outros países da região, em que são alistados civis", explica o brasileiro Leonardo Bandarra, especialista em América Latina do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga) de Hamburgo.
Ele considera absolutamente plausível a ideia de recrutar civis para a luta contra a criminalidade, enquanto o governo, em contrapartida, oferece educação, saúde, apoio e segurança. "Os 'narcos' têm o controle sobre as regiões porque controlam a população, ao fazer ofertas que o Estado não dá a eles."
No Brasil, "enquanto o Rio de Janeiro se ocupou em aplicar a força, mandando o Exército às favelas" como em 2014, antes dos Jogos Olímpicos, e novamente em 2017, "o governo estadual ofereceu apoio social", explica o especialista do Giga. Amlo havia criticado a presença de militares nas ruas, uma decisão tomada pelo ex-presidente Felipe Calderón (2006-2012) - o que, para alguns, "detonou a guerra contra o narcotráfico" e fez disparar o número de assassinatos.
"A estratégia de López Obrador, porém, parece ser associar pressão estatal e assistência social, numa força única, no combate ao crime organizado", explica Bandarra.
Já Günther Maihold, que atuou no México, considera "preocupante" que o novo presidente não mencione em nenhum momento a polícia, nem proponha sua reforma. Ele adverte que os policiais devem ser levados em conta como parte da solução e não do problema. Segundo ele, apostar numa completa militarização de luta contra o crime organizado pode gerar "sérios problemas de direitos humanos", avalia o especialista que, por outro lado, não quer fazer um prognóstico de fracasso: "Amlo ainda tem tempo para aprender com a realidade cotidiana".
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Em seu mandato, o ex-presidente americano Donald Trump prometeu construir um muro entre EUA e México. Mas, muito antes disso, esta fronteira já havia sido foco de filmes espetaculares. Veja a lista.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
John Wayne em guerra
Em meados do século 19, EUA e México entraram em guerra sobre o estado do Texas, que pertencia aos mexicanos, mas foi anexado pelos americanos. A longa disputa foi muitas vezes retratada por Hollywood nos faroestes que detalhavam os violentos conflitos entre colonos americanos e o Exército mexicano. Entre os mais espetaculares está "Álamo" (1960), estrelado por John Wayne e Richard Widmark.
Foto: picture-alliance/United Archives/TBM
Dietrich e a fronteira
Em 1958, Marlene Dietrich fez uma breve aparição no brilhante suspense "A marca da maldade". O diretor Orson Welles, que teve o papel principal no filme, fez da região fronteiriça entre México e EUA o cenário para falar sobre corrupção, tráfico de drogas e outros crimes.
Foto: picture-alliance/United Archives/IFTN
"Rio Bravo"
Quando John Wayne apareceu em "Álamo", a grande era do faroeste americano estava quase no fim. Mas, quando o gênero cresceu na década de 1950, muitos faroestes se passaram na fronteira entre Texas, Novo México e Arizona de um lado, e o México, do outro. Um marco simbólico era o rio Grande que, localizado nesta fronteira, rendeu o título do legendário filme do diretor John Ford, de 1950.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
A fronteira em faroestes posteriores
No entanto, a fronteira entre os dois países conseguiu manter sua importância em numerosos faroestes lançados posteriormente. A região desempenhou um papel de destaque em "Meu ódio será tua herança" (1969), do diretor Sam Peckinpah, um épico do faroeste selvagem com muito sangue e que enfoca a ilegalidade em uma terra esquecida.
Foto: Imago/Entertainment Pictures
Variações modernas
O diretor americano Robert Anthony Rodriguez tem uma paixão pela região de fronteira, o que talvez se deva às suas raízes mexicanas. Muitos de seus filmes reproduzem o choque de culturas nesta região fronteiriça. Seu filme "Um drink no inferno", de 1996, viu Quentin Tarantino e George Clooney encenando irmãos que roubam bancos e que tentam fugir para o México.
Foto: picture-alliance/United Archives
Não há lugar para envelhecer
Ganhador de vários Oscars em 2008, entre eles o de melhor filme e direção, "Onde os fracos não têm vez" foi dirigido pelos irmãos Joel e Ethan Coen. A produção aborda as drogas, máfia, assassinatos e fraudes. O filme se passa na fronteira entre EUA e México – um lugar perigoso, onde a morte é comum e poucos envelhecem.
Foto: picture-alliance/dpa/Paramount Pictures
Ao sul de Albuquerque
Albuquerque, no Novo México, é o cenário da extremamente popular série de televisão "Breaking Bad", que foi produzida entre 2008 e 2013. Ela enfoca histórias na região envolvendo drogas. Ao sul de Albuquerque, fica a lendária fronteira entre Estados Unidos e México.
Foto: Frank Ockenfels 3/Sony Pitures
O lado obscuro do comércio
No filme "Desaparecidos" (2007), o diretor alemão Marco Kreuzpaintner escolheu contar a história de crianças mexicanas que atravessam a fronteira para os Estados Unidos como parte do tráfico de escravos sexuais. A estrela de Hollywood Kevin Kline desempenhou o papel principal.
Foto: picture-alliance/kpa
Guerra de drogas na fronteira
"Sicario: terra de ninguém" examina o impacto das guerras do narcotráfico na área de fronteira entre Arizona e México. O cineasta canadense Denis Villeneuve fez o agitado suspense em 2015, tendo Benicio del Toro no papel principal. A obra foi filmada no sul do Arizona.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Lionsgate/Richard Foreman Jr.
Filmes sobre drogas
A questão do narcotráfico parece atrair diretores de forma mágica. Em 2013, o cineasta britânico Ridley Scott filmou um suspense também nesta região fronteiriça. "O conselheiro do crime", estrelado por Brad Pitt e Michael Fassbender, foi filmado em El Paso, no Texas, e na Espanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Crime e política
Há 17 anos, o diretor Steven Soderbergh lançou o renascimento dos filmes sobre a guerra das drogas. Em "Traffic", ele retrata a complexa relação entre polícia, traficantes e políticos – cujos laços uns com os outros estão indissociavelmente interligados para além das fronteiras geográficas.
Foto: picture-alliance/United Archives
Histórias de detetive
Além de faroestes e suspenses sobre drogas, inúmeras histórias de detetives e assassinatos misteriosos decorrem na fronteira entre EUA e México. Um clássico do gênero é o filme "O perigoso adeus" (1973), de Robert Altman, baseado em um romance de Raymond Chandler. O filme foi gravado na Califórnia, mas também em Tepoztlán, no México.
Foto: picture-alliance/United Archives/Impress
A fronteira em tempos de globalização
Em 2006, o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu filmou o drama narrativo múltiplo "Babel". A obra traça os destinos entrelaçados de várias pessoas de diferentes regiões do mundo, e é uma parábola cinematográfica sobre a questão do significado da fronteira para as pessoas em tempos de globalização.
Foto: picture alliance/kpa
Comédia de fronteira
Não há muito o que rir quando se trata de uma fronteira. A maior parte dos filmes que lida com os laços entre EUA e México tendem à seriedade. Mas, em 2004, James L. Brooks fez a comédia "Espanglês" sobre um encontro com muito clichê entre um americano rico (Adam Sandler) e uma faxineira mexicana (Paz Vega).
Foto: picture-alliance/United Archives
Drama sobre imigração
Nos últimos anos, mais e mais filmes foram produzidos sobre imigração e pobreza na região. No ano passado, a coprodução Alemanha-França-México "Soy Nero" estreou na Berlinale. O diretor Rafi Pitts, com raízes iranianas, conta a história de um jovem mexicano que atravessa a fronteira para os EUA em busca de uma vida melhor.
Foto: picture-alliance/dpa/Neue Visionen
Um clássico moderno
Talvez o filme mais impressionante sobre a imigração do Sul para o Norte tenha sido feito por Cary Fukunaga, em 2009. "Sem identidade" retrata o destino de vários jovens do México que estão tentando chegar aos EUA. Enquanto alguns estão tentando escapar de bandos criminosos de suas cidades, outros procuram o paraíso na Terra.