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As questões não resolvidas da pandemia na Alemanha

Kay-Alexander Scholz
5 de novembro de 2021

Com a aproximação do inverno, o número de casos de covid-19 sobe novamente. O aumento era esperado, mas alguns aspectos poderiam ter sido mais bem planejados. E muitas perguntas ainda seguem sem resposta na Alemanha.

Deutschland Köln 2018 | Einkaufsstraße Hohe Straße
Zona de pedestres em Colônia: na Alemanha há mais de 12 milhões de maiores de 12 anos que não se vacinaramFoto: picture-alliance/Geisler-Fotopress

1. Como os idosos podem ser protegidos?

Das 70 mil mortes por covid-19 na Alemanha durante a segunda onda da pandemia, no inverno de 2020/21, 30 mil foram de residentes de lares para idosos ou locais de cuidados especiais, alertou Martin Scherer, presidente da Sociedade Alemã de Medicina Geral, numa entrevista coletiva em Berlim.

Para que novas mortes não venham a ocorrer agora, é importante concentrar-se neste grupo populacional. É necessário mais proteção contra a infecção e deve-se prevenir a entrada do vírus nos lares. Scherer estava visivelmente irritado na entrevista, devido aos relatos recentes de contágios e mortes em lares.

Em outros países, impôs-se a vacinação obrigatória para funcionários de lares de idosos, com o objetivo de reduzir o risco de infecção. Mas isso não ocorre na Alemanha. A chanceler federal Angela Merkel enfatizou repetidamente que não pretendia impor nenhum tipo de imunização obrigatória.

O ministro da Saúde Jens Spahn vem argumentando que imposições desse gênero podem provocar uma cisão na sociedade. Além disso, haveria o risco de profissionais de saúde que não se vacinaram abandonarem seus empregos, num momento em que há falta de pessoal em todo o país. No entanto, algumas autoridades estaduais e virologistas veem as coisas de forma diferente.

Diante da estagnação da taxa de vacinação – hoje, apenas 66% dos alemães estão totalmente vacinados – a testagem volta a ganhar importância. Mas até agora não existem regras uniformes, já que a responsabilidade é dos estados federais.

Algumas regiões, entretanto, já vêm reforçando regras nesse sentido. No estado de Brandemburgo, se o número de infecções continuar alto (incidência de mais de 100 casos por 100 mil habitantes nos últimos sete dias), funcionários não vacinados terão que se autotestar antes de cada dia de trabalho.

Outros estados ainda não têm estratégias de teste obrigatórias, disse Spahn numa coletiva de imprensa em Berlim. Regras uniformes ainda deverão ser discutidas numa reunião de cúpula entre autoridades federais e estaduais.

Possibilidade de nova onda de mortes por covid-19 em lares de idosos preocupa a AlemanhaFoto: Robert Michael/dpa/piucture alliance

2. Doses de reforço para todos ou não?

A aplicação de uma terceira dose ou dose de reforço é um dos maiores pontos de discórdia na Alemanha no momento. De um lado, o Ministério da Saúde defende a medida e quer relançar os postos de vacinação para aplicar doses de reforço (exceto em crianças). Isso já é permitido legalmente.

Mas a medida provoca oposição de representantes da classe médica e da Comissão Permanente de Vacinação (Stiko). Esses grupos argumentam que as doses de reforço no momento devem ser apenas voltadas para certos grupos de risco, e a aplicação dos imunizantes deve ser feita no máximo em clínicas ou consultórios.

Maiores de 70 anos precisam de uma terceira dose com maior urgência, diz o chefe da Stiko, Thomas Mertens. A proteção imunológica desses grupos cai drasticamente seis meses após a segunda injeção, e o risco de complicações graves aumenta. "Fazemos recomendações baseadas em evidências, sempre as seguimos e não nos permitimos ser influenciados", disse Mertens, em recado para a classe política.

A Comissão Permanente de Vacinação também recomenda uma dosede reforço para funcionários e residentes de lares para idosos, bem como para funcionários de instalações médicas que tenham contato com pacientes. A soma de todos os grupos já chegaria a 15 milhões de indivíduos. Destes, 2,2 milhões já receberam uma dose de reforço.

Mas também há dúvidas até mesmo sobre o estabelecimento de um sistema de notificação para informar aos grupos-alvo que eles devem tomar uma terceira dose. Até agora, de acordo com o ministro Spahn,  apenas dois estados federais enviam notificações de vacinação de reforço por escrito.

Há ainda um componente internacional nesse debate. Thomas Mertens, acredita que a vacinação deve ser aplicada apenas o necessário. Ele lembrou que países do terceiro mundo ainda sofrem com a escassez de vacinas e argumenta que os mais ricos não podem "absorver as doses completamente".

3. Quem continuará a aplicar as vacinas?

Centros de vacinação, clínicos gerais ou ambos? Esse também um ponto que gera discussão

Muitos clínicos gerais e médicos de família não desejam oferecer uma terceira dose, argumentando ser muito difícil de organizar entre seus pacientes.

Os consultórios têm que solicitar as doses de vacinação com duas semanas de antecedência. Eles não costumam receber doses únicas, mas sim seis ampolas. Como nada pode ser jogado fora, também é preciso organizar a aplicação num número adequado de vacinados no mesmo dia, o que nem sempre funciona.

Andreas Gassen, chefe da Associação Nacional de Médicos de Seguros Estatutários de Saúde, alertou para uma necessidade urgente de lidar com "distorções".

A situação dos postos de vacinação tampouco é fácil. A Associação Alemã de Municípios alertou que muitos dos centros de vacinação agora estão sendo usados ​​para outros fins. Afinal, no fim de setembro os governos federal e estaduais concordaram em fechar os centros ou reduzi-los. "Mesmo na pandemia, é necessário um grau mínimo de discernimento nas decisões”, observou Gassen.

Outros estão discutindo uma terceira via: "Temos que levar a vacina à população, e não o contrário", propõe o especialista em saúde do Partido Verde, Janosch Dahmen. Ele sugere reativar as equipes dos velhos postos de vacinação e utilizá-las integralmente em unidades móveis. Berlim já adotou iniciativas semelhantes, com sucesso.

Ministro da Saúde Jens Spahn tomou uma terceira dose no fim de outubroFoto: Jan Pauls/Bundesgesundheitsministerium/dpa/picture alliance

4. Quem realmente toma as decisões?

A chanceler federal Angela Merkel e os governadores dos 16 estados da Alemanha fixaram muitas das políticas de combate à pandemia contornando os legislativos estaduais. Isso foi possível porque havia um decreto de "emergência epidêmica" oficialmente estabelecido. Mas esse estado de emergência vai expirar em 25 de novembro.

Muitas das medidas podem continuar a ser executadas em nível estadual, sob a responsabilidade dos governos regionais. Mas, por razões legais, os estados sempre preferem seguir uma diretriz desenhada pelo governo federal.

A possível nova coalizão de governo federal composta pelos partidos Social-Democrata (SPD), Verde e Liberal Democrático (FDP) já concordou em estabelecer uma legislação nesse sentido, a ser elaborada no decorrer de novembro. Lockdowns ou toques de recolher devem deixar de existir. E o "domínio do Poder Executivo" nessa questão deve cessar, com as decisões voltando a caber às Assembleias estaduais.

Mas, como a situação voltou a deteriorar rapidamente, outra rodada de conversas entre o governo federal e líderes estaduais está novamente na pauta. Ainda não há um acordo, mas uma reunião pode ocorrer já na próxima semana.

5. O que vai acontecer com as escolas?

As férias de outono estão terminando nas escolas alemãs. Algumas semanas atrás, havia em muitos estados a previsão de que a exigência de máscaras nas salas de aulas seria eliminada. Mas agora alguns governos estaduais estão evitando passar para essa etapa. Cada estado federal tem poder para decidir isso numa base individual.

No entanto, muitos pais vêm pedindo a imposição de regras uniformes para toda a Alemanha, não apenas em relação às máscaras, mas também para medidas de quarentena. Só que não há nenhum plano nesse sentido.

Só há consenso sobre um ponto: as escolas devem permanecer abertas, mesmo que na Alemanha ainda não haja uma vacina aprovada para menores de 12 anos. Isso só deve mudar se as autoridades sanitárias da União Europeia decidirem. O assunto deverá ser analisado em dezembro.

Todas essas questões não resolvidas geram incerteza na Alemanha, onde a taxa de vacinação mal alcança 66%, uma cifra medíocre, em comparação com outros países.

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