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Como funciona a Superterça das primárias nos EUA

Conor Dillon av
3 de março de 2020

Como candidatos vencem as primárias estaduais americanas? Semelhantes a jogo de tabuleiro, prévias culminam na Superterça, com votações em 14 estados. Meta é obter máximo de votos para definir adversário de Trump.

Mike Bloomberg, Elizabeth Warren, Bernie Sanders e Joe Biden no debate em Nevada (19/02/2020)
Mike Bloomberg, Elizabeth Warren, Bernie Sanders e Joe Biden no debate em Nevada (19/02/2020)Foto: Reuters/M. Blake

Nos últimos meses, membros de um mesmo partido político americano, o Democrata, debateram, ridicularizaram-se e até se humilharam mutuamente ao vivo na televisão – tudo na esperança de se tornarem o candidato presidencial de sua legenda em 2020.

Eles também gastaram dezenas de milhões de dólares em campanhas difamatórias na TV, até usando as respectivas contas das redes sociais, para citar um exemplo recente, com o fim de criar citações fictícias danosas um sobre o outro (mais precisamente, no caso de Bloomberg sobre Sanders).

É um festival de pancadaria estranho e feio – parecido com "assistir a um esquadrão de fuzilamento circular", como formulou um estrategista político americano –, que alcança seu clímax na assim chamada "Super Tuesday", ou "Superterça". Até o fim deste 3 de março, o mundo terá uma ideia muito mais clara sobre quem poderá ser a pessoa que desafiará o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na eleição de novembro.

Mas como um candidato vence a Superterça, ou o jogo das primárias estaduais americanas em geral?

Como ganhar o jogo das primárias

O democrata que consiga 1.991 "pontos" (na verdade denominados "delegados", mas a ideia é a mesma) se torna o candidato indicado à presidência americana pelo partido. Isso é o que se chama "ganhar o jogo".

Onde entra a Superterça?

Mais ou menos 1.350 "pontos" estão em jogo na Superterça, o que faz dela a maior "cesta de frutas" a ser abocanhada num só dia. É o período de 24 horas em que o maior número de estados, territórios e jurisdições americanos realizam eleições primárias. Mas, óbvio, 1.350 "pontos" não bastam para vencer o jogo todo.

"Bês" na dianteira

As projeções mais recentes mostram que o primeiro dos "Três Bês" (Bernie, Biden, Bloomberg), o senador Bernie Sanders, deverá conquistar o maior número de delegados nesta Superterça: mais de 500. O ex-vice-presidente Joe Biden ficaria com cerca de 300, contra 200 para o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, e 100 para a senadora Elizabeth Warren. O restante se distribuiu entre os demais candidatos.

Sistema de pontos

Embora alguns estados possuam mais delegados do que outros – como a Califórnia com 415, o Texas com 228, até Maine (29), Vermont (16), ou o território da Samoa Americana (6) –, durante as primárias todos são mais ou menos iguais.

Isso porque...

O vencedor não leva tudo

Numa primária, os pontos são distribuídos de acordo com a percentagem de votos de cada candidato num determinado lugar. Assim, quem obtém 20% dos votos da Califórnia fica com mais de 80 delegados – um bom passo em direção a 1.991. Isso incentiva os candidatos a quererem ser atraentes para muita gente em muitos lugares. E anula a ideia de que alguns estados sejam azuis (democratas) ou vermelhos (republicanos), expressa em tantos mapas eleitorais dos EUA.

E depois da terça-feira?

O show continua, para alguns.

Para os candidatos com mau desempenho na "Super Tuesday", o destino estará selado pela matemática. É estatisticamente improvável que obtenham uma indicação, portanto: fim de jogo. Assim, os americanos que votarem num estágio posterior terão um campo de escolha bem mais reduzido: por exemplo, dois candidatos em vez dos 20 iniciais.

Os "sobreviventes" continuarão tentando obter o máximo possível dos 2.500 pontos, ou votos de delegados, restantes. Isso ocorrerá nos próximos meses, e em dias esparsos – nada comparável à Superterça. Esse processo se encerra numa nuvenzinha de fumaça em 6 de junho, com o caucus (misto de convenção partidária e votação) das Ilhas Virgens Americanas, que concederá os últimos 11 pontos.

A Convenção Nacional Democrata

Esta é a parte mais estranha do processo pré-eleitoral, que faz muitos americanos jurarem que nunca mais vão jogar o jogo das urnas. Se, até o fim das primárias democráticas, nenhum candidato tiver obtido o mínimo de 1.991 pontos, ocorre uma segunda rodada.

Só que a população não vota novamente, como seria de esperar: é aqui que entram em cena os "superdelegados". Como anjos de glória – ou da morte, dependendo do ponto de vista – eles descerão à Convenção Nacional Democrata em Milwaukee, Wisconsin, em julho. E fazem aparecer 750 "pontos bônus". É o elemento "coringa" do jogo, pois os superdelegados podem dar seus votos ao candidato que quiserem, desequilibrando totalmente a balança.

Com os novos pontos no jogo, o mínimo para um candidato vencer passa para 2.376. Mas, com seus "bônus" para distribuir à vontade, os superdelegados são quem coroa o rei – ou a rainha. A única certeza é que até 16 de julho haverá apenas um/a candidato/a democrata de pé, e ainda mais ferido/a do que nas eleições primárias da Super Terça.

E aí é melhor ela ou ele deixar para trás "esquadrão de fuzilamento circular", para enfrentar um mês de partida de boxe na eleição presidencial de 2020, desafiando o presidente Donald Trump.

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