"As sementes do neonazismo estão germinando"
5 de abril de 2015No início de março, Markus Nierth renunciou ao cargo de prefeito de Tröglitz, no leste da Alemanha. Ele não se sentia mais seguro para exercer a função, depois de sofrer ameaças de radicais de direita que se opõem à construção de um centro de refugiados no vilarejo, de cerca de 2.700 habitantes.
No sábado (04/04), o edifício destinado a servir como abrigo foi incendiado, no que Nierth encara como um sinal de que a xenofobia chegou a novo patamar. Em entrevista à DW, ele diz que as "sementes do neonazismo estão germinando" e que é preciso reagir.
Deutsche Welle: Como você recebeu a notícia do ataque?
Markus Nierth: Há semanas vínhamos recebendo ameaças de que algo seria feito com o obrigo em Tröglitz. Mas pensamos que se tratava apenas de espalhar medo. Agora, está claro que eles levaram a coisa para um novo nível.
A polícia deveria ter vigiado melhor o local do futuro abrigo?
Sim. E, pior, havia pessoas vivendo ali. Um casal alemão estava na casa quando foi ateado fogo no telhado. Graças a Deus eles foram alertados por um vizinho e conseguiram fugir a tempo. Isso é terrível e mostra que essas pessoas não têm limites. Não havia presença policial do lado de fora da casa.
O vilarejo de Tröglitz não fica longe de Dresden, berço do movimento Pegida, que se autointitula contra a "islamização" da Europa. Você diria que muitos em sua cidade simpatizam com esse sentimento de hostilidade perante estrangeiros?
Minha experiência com as pessoas daqui mostra que, na maioria das vezes, não é esse o caso. Porém, é preciso dizer que atitudes xenófobas estão se tornando cada vez mais parte do que é aceitável aqui. Estamos começando a nos defrontar com um tipo de xenofobia latente que ameaça se espalhar.
O incêndio de sábado pode ser interpretado como um sinal: seres humanos invadem e ateiam fogo em um lugar onde refugiados deveriam ser protegidos. Estamos vendo que essa violência é real, que as sementes do neonazismo estão germinando bem aqui. É por isso que é o momento de reagir.
E o que pode ser feito?
Convocamos um ato no centro do vilarejo para mostrar que não temos medo. Nós vamos fazer todo o possível para reerguer esse abrigo de refugiados. E, se não conseguirmos, vamos oferecer nossas próprias casas a eles. Tenho uma propriedade em Tröglitz, onde eles podem ficar. E há também outras pessoas aqui preparadas para oferecer o mesmo. Isso não vai terminar por causa de um telhado queimado.