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"As sementes do neonazismo estão germinando"

Gabriel Borrud (rpr)5 de abril de 2015

Ex-prefeito diz que ataque incendiário a futuro abrigo de refugiados em Tröglitz, vilarejo no leste da Alemanha, é sinal de que xenofobia chegou a novo patamar. Em entrevista à DW, ele afirma ser momento de reagir.

Manifestação de repúdio à xenofoibia em Tröglitz, após o ataque incendiário
Manifestação de repúdio à xenofoibia em Tröglitz, após o ataque incendiárioFoto: picture-alliance/dpa/F.Bensch

No início de março, Markus Nierth renunciou ao cargo de prefeito de Tröglitz, no leste da Alemanha. Ele não se sentia mais seguro para exercer a função, depois de sofrer ameaças de radicais de direita que se opõem à construção de um centro de refugiados no vilarejo, de cerca de 2.700 habitantes.

No sábado (04/04), o edifício destinado a servir como abrigo foi incendiado, no que Nierth encara como um sinal de que a xenofobia chegou a novo patamar. Em entrevista à DW, ele diz que as "sementes do neonazismo estão germinando" e que é preciso reagir.

Deutsche Welle: Como você recebeu a notícia do ataque?

Markus Nierth: Há semanas vínhamos recebendo ameaças de que algo seria feito com o obrigo em Tröglitz. Mas pensamos que se tratava apenas de espalhar medo. Agora, está claro que eles levaram a coisa para um novo nível.

A polícia deveria ter vigiado melhor o local do futuro abrigo?

Sim. E, pior, havia pessoas vivendo ali. Um casal alemão estava na casa quando foi ateado fogo no telhado. Graças a Deus eles foram alertados por um vizinho e conseguiram fugir a tempo. Isso é terrível e mostra que essas pessoas não têm limites. Não havia presença policial do lado de fora da casa.

O vilarejo de Tröglitz não fica longe de Dresden, berço do movimento Pegida, que se autointitula contra a "islamização" da Europa. Você diria que muitos em sua cidade simpatizam com esse sentimento de hostilidade perante estrangeiros?

Markus Nierth, que renunciou ao cargo de prefeito de Tröglitz, no leste da Alemanha, por medo de neonazistasFoto: picture-alliance/L. Schulze

Minha experiência com as pessoas daqui mostra que, na maioria das vezes, não é esse o caso. Porém, é preciso dizer que atitudes xenófobas estão se tornando cada vez mais parte do que é aceitável aqui. Estamos começando a nos defrontar com um tipo de xenofobia latente que ameaça se espalhar.

O incêndio de sábado pode ser interpretado como um sinal: seres humanos invadem e ateiam fogo em um lugar onde refugiados deveriam ser protegidos. Estamos vendo que essa violência é real, que as sementes do neonazismo estão germinando bem aqui. É por isso que é o momento de reagir.

E o que pode ser feito?

Convocamos um ato no centro do vilarejo para mostrar que não temos medo. Nós vamos fazer todo o possível para reerguer esse abrigo de refugiados. E, se não conseguirmos, vamos oferecer nossas próprias casas a eles. Tenho uma propriedade em Tröglitz, onde eles podem ficar. E há também outras pessoas aqui preparadas para oferecer o mesmo. Isso não vai terminar por causa de um telhado queimado.