Assad promete retomar o controle sobre toda a Síria
12 de fevereiro de 2016
Em entrevista à AFP, presidente sírio diz que ataques contra rebeldes com apoio militar da Rússia vão continuar. Ofensiva ameaça acordo internacional de cessar-fogo, que deve entrar em vigor em uma semana.
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Um dia após um acordo internacional de cessar-fogo ser alcançado em Munique, a Rússia continuou nesta sexta-feira (12/02) a efetuar bombardeios na Síria, em apoio ao presidente Bashar al-Assad. A trégua deve entrar em vigor somente em uma semana. Enquanto isso, forças do governo intensificam a ofensiva contra os rebeldes.
Arrefecendo as esperanças de um cessar-fogo iminente, Assad afirmou nesta sexta-feira, em entrevista à agência de notícias AFP, que pretende retomar o controle de toda Síria e continuar a combater o terrorismo paralelamente às negociações de paz para por fim ao conflito.
De acordo com o presidente sírio, o principal objetivo da ofensiva na província de Aleppo, apoiada por Moscou e que já deixou mais de 500 mortos, é interromper a rota de abastecimento dos rebeldes através da Turquia.
"Não faz sentido dizer que iremos desistir", disse Assad ao ressaltar que o problema deve ter um fim "em menos de um ano", caso as rotas de abastecimento da oposição através da Turquia, Jordânia e Iraque forem cortadas.
Nesta sexta-feira, rebeldes afirmar que a cidade de Tal Rifaat, no norte da província de Aleppo, foi alvo de um bombardeio intenso efetuado por aviões russos pela manhã. Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, aeronaves de guerra supostamente russas também atacaram cidades ao norte de Homs.
Trégua não vale para o EI
Nesta quinta-feira, após concordar com o cessar-fogo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que os bombardeios contra o grupo "Estado Islâmico" (EI) e a Frente al-Nusra, afiliada à Al Qaeda, não vão parar.
O secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg, critica a postura de Moscou. "A Rússia tem tido principalmente grupos de oposição como alvo, e não o EI. Ataques aéreos de aviões russos contra diferentes grupos da oposição têm minado os esforços para se alcançar uma solução pacífica", afirmou.
O secretário de Estado americano, John Kerry, quer reunir governo e oposição sírios "o quanto antes", em Genebra, para a assinatura de um acordo de paz.
Em entrevista à DW, o enviado especial da ONU para a crise síria, Staffan de Mistura, diz que é necessário cautela para saber se os compromissos do acordo de cessar-fogo serão cumpridos. "A próxima semana será crucial", afirmou.
O plano definido em Munique também prevê a ampliação da ajuda humanitária, primeiro em áreas onde a necessidade é mais urgente, e, depois, a locais sitiados e de difícil acesso.
KG/rtr/afp
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.