Assad se lança à reeleição na Síria, em pleito contestado
22 de abril de 2021
No poder há 21 anos, líder sírio concorrerá em processo criado para barrar opositores e assegurar sua vitória. Guerra civil, que já dura dez anos, gerou devastação e forçou milhões de pessoas a fugirem do país.
Anúncio
A imprensa oficial da Síria anunciou nesta quarta-feira (21/04) que o presidente Bashar al-Assad, no poder há 21 anos, concorrerá à reeleição, em um pleito considerado por muitos observadores como uma farsa.
A votação, marcada para 26 de maio, será a segunda a ser realizada em meio à guerra civil que já dura dez anos, após uma reforma constitucional permitir que vários candidatos possam concorrer à presidência.
Mas, muitos acreditam que o líder de 55 anos deverá assegurar facilmente seu quarto mandato, apesar de concorrer contra pelo menos cinco outros nomes menos conhecidos, que incluem empresários e um ex-parlamentar. Estre os postulantes também está a primeira mulher a concorrer ao cargo mais alto do país.
Para serem elegíveis, os candidatos devem receber o apoio de ao menos 35 dos 250 membros do Parlamento, amplamente dominado pelo partido Baath, de Assad. Eles devem também ter vivido de modo permanente na Síria pelos últimos dez anos, o que exclui do processo os líderes da oposição exilados no exterior.
No pleito anterior, realizado em 2014, o atual incumbente concorreu contra dois outros nomes – os únicos que foram aprovados pelo Tribunal Constitucional do país, cujos membros foram nomeados pelo próprio Assad. Naquele ano, o líder sírio foi eleito com 88% dos votos, segundo resultados oficiais.
Vários países do Ocidente, que nos últimos anos colocaram Assad e seus aliados em listas de sanções internacionais, consideram as eleições como uma encenação, cujo único objetivo é tentar dar uma aparência de legitimidade ao presidente.
Anúncio
Guerra civil devastou a Síria
Assad assumiu o poder após a morte de seu pai, Hafez al-Assad, que governou o pais durante 30 anos. Depois de prometer uma série de reformas, ele acabou reforçando sua permanência no cargo.
Em 2011, inspirados por uma onda de transformações políticas na região durante a chamada Primavera Árabe, uma grande parte da população passou a protestar contra o governo, exigindo direitos e liberdades. Mas, os movimentos populares foram brutalmente reprimidos pelas forças de segurança.
As circunstâncias levaram a Síria a uma guerra civil que devastou o país e gerou enormes danos à sua infraestrutura, além de forçar quase a metade da população a buscar abrigo em outras partes do país ou no exterior.
Quase meio milhão de pessoas morreram nos conflitos, que deixaram 80% da população em situação de pobreza. Milícias estrangeiras e diversos grupos de oposição ainda controlam algumas regiões.
Segundo uma resolução da ONU criada para buscar uma solução política para a Síria, uma nova Constituição deveria ser redigida e aprovada em referendo, antes da realização de eleições presidenciais que seriam monitoradas por organismos internacionais.
A iniciativa, porém, não conseguiu avançar, enquanto Assad continua firme no poder com o apoio da Rússia e do Irã.
rc (AFP, AP)
Síria, imagens de dez anos de guerra
Sírios registram em fotos seu dia a dia em pleno conflito armado: admiráveis documentos históricos disponibilizados pelo Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Enucah).
Foto: Bassam Khabieh/OCHA
Lembranças destruídas
Rakka, 2019. Uma mulher empurra um carrinho de bebê pela paisagem urbana devastada no centro-norte da Síria. O fotógrafo Abood Hamam relata: "Em 2017, eu comecei a fotografar minha cidade natal. Lembranças me conectam a cada canto aqui. Eles destruíram tudo isso. Um dia minhas fotos vão ser documentos históricos."
Foto: Abood Hamam/OCHA
Luto infinito
Idlib, 2020. Dois irmãos pranteiam a mãe após um bombardeio. Ghaith Alsayed, autor da imagem, tinha 17 anos quando começou a guerra civil na Síria. Ele também perdeu o irmão num bombardeio. "Quando tirei a foto, senti voltar todo o horror de quando meu irmão faleceu. E, do nada, comecei a chorar."
Foto: Ghaith Alsayed/OCHA
Perdidas nas ruínas
Binish, abril de 2020. No instantâneo de Mohannad Zayat, a mulher e sua filha parecem criaturas minúsculas num deserto de destroços sem fim. Elas encontraram teto numa escola destruída. Um abrigo perigoso, mas melhor do que nada: no campo para deslocados internos nas proximidades não havia mais lugar para armar uma tenda.
Foto: Mohannad Zayat/OCHA
A bomba, o menino e a sede
Aleppo, junho de 2013. Um encanamento d'água é destruído por uma explosão, e imediatamente um garoto aproveita para beber da cratera inundada. O fotógrafo Muzzafar Salman lembra: "Na época, teve quem dissesse que a imagem não era realista. E que era melhor eu ter dado água limpa para ele. Mas acho que, para mudar a realidade, é importante primeiro apresentá-la como é."
Foto: Muzaffar Salman/OCHA
Fuga para a liberdade?
Ghouta, março de 2018. Fugindo em busca de paz e liberdade, um homem leva o filho numa mala. Omar Sanadiki comenta: "A guerra não transformou apenas o país, ela também transformou a nós, como olhamos os seres humanos e como fotografamos, para assim enviar mensagens humanitárias para o mundo."
Foto: Omar Sanadiki/OCHA
Resistir e seguir vivendo
Um subúrbio de Damasco, 2017. Umm Mohammed e o marido descansam em sua casa destroçada, como se tudo fosse normal. Segundo Sameer Al-Doumy, que os fotografou: "Esta mulher é uma das pessoas mais impressionantes que já encontrei: ela foi gravamente ferida, pouco depois, seu marido. E permaneceu na casa para continuar cuidando dele. A resiliência dela reflete para mim a verdadeiro cara dos sírios."
Foto: Sameer Al-Doumy/OCHA/AFP
Dor contagiante
Região de Daraa, 2017. É a Festa do Açúcar, mas não há nada para se comemorar. Mohamad Abazeed relata: "Eu acompanhei esta mulher quando ela visitava a sepultura do seu filho, no primeiro dia do Eid-al Fitr. Eu mesmo comecei chorar, mas sequei as lágrimas, senão não conseguiria fotografar."
Foto: Mohamad Abazeed/OCHA
Infância na cadeira de rodas
Damasco, dezembro de 2013. Aya, de cinco anos, espera na cadeira de rodas que o pai faça comida para ela. Ela estava a caminho da escola quando foi atingida por uma granada: "Naquele dia, eu estava com meus sapatos marrons. Primeiro vi o sapato voando pelos ares, e aí vi a minha perna indo atrás."
Foto: Carole Alfarah/OCHA
"Parkour" em cena de devastação real
Em Kafr Nouran, próximo a Aleppo, atletas sírios transformaram a paisagem de ruínas num "parkour" – um percurso de obstáculos para exercícios acrobáticos ousados. A fotografia de Anas Alkharboutli ilustra a capacidade de metamorfosear até um palco de guerra numa quadra de esporte de ação e "stunts".
Foto: Anas Alkharboutli/OCHA/picture alliance/dpa
Esperança de um recomeço
Ao sul de Idlib, 2020. Após a assinatura do cessar-fogo uma família retorna à casa. Ao tirar a foto, os sentimentos de Ali Haj Suleiman eram ambivalentes: "Eu me alegrava pela gente que voltava a seu lugarejo de origem. Mas estava triste porque eu também tinha sido expulso. E não posso voltar."
Foto: Ali Haj Suleiman/OCHA
Herança romana
Também isso é a Síria em guerra: o anfiteatro romano de Bosra, na Região de Daraa, inundado em 2018 por chuvas intensas. [Advertência: o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Enucah) disponibilizou todas as fotos desta galeria, mas não garante a exatidão das informações fornecidas por terceiros.]