Em evento em Berlim para comemorar dez anos do Wikileaks, fundador da plataforma promete mais publicações envolvendo corrida pela presidência americana.
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O fundador do Wikileaks, Julian Assange, anunciou nesta terça-feira (04/10) que lançará nesta semana a primeira de uma série de novos vazamentos, que incluem material "significativo" para as próximas eleições nos EUA.
A declaração foi feita por videoconferência em um evento em Berlim para comemorar o aniversário de dez anos do Wikileaks. O plano, segundo Assange, é publicar um material novo a cada semana, nas próximas dez semanas.
Para o evento do décimo aniversário do registro de endereço na web do Wikileaks, eram previstas revelações sobre a candidata democrata Hillary Clinton. Mas elas não aconteceram. "Vocês têm que entender que, se desejamos publicar alguma coisa que diga respeito aos Estados Unidos, não o faremos às 3h da manhã", afirmou Assange, se referindo ao horário local nos EUA.
O Wikileaks havia publicado em junho e-mails de integrantes do Partido Democrata, que provocaram suspeitas de uma possível parcialidade de líderes a favor de Hillary. Nos EUA, especialistas em segurança de TI afirmaram que o servidor de e-mail foi invadido por hackers com conexão com os serviços de inteligência russos. O Wikileaks foi, então, acusado de ser instrumentalizado por Moscou, o que foi rejeitado por Assange.
Mais de 10 milhões de documentos vazados desde 2007
O Wikileaks foi lançado em janeiro de 2007, com Assange dizendo que iria usar a criptografia e um site à prova de censura para proteger fontes e divulgar informações secretas. Desde então, o site publicou mais de 10 milhões de documentos vazados.
A plataforma chamou a atenção do mundo pela primeira vez quando publicou manuais para os guardas da prisão de Guantánamo.
Mas o projeto realmente se tornou conhecido internacionalmente em 2010, ao revelar documentos secretos sobre operações militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão e um vídeo mostrando um helicóptero militar americano atacando um grupo de civis desarmados, incluindo dois jornalistas, em Bagdá.
Naquele mesmo ano, o portal também publicou uma série de mensagens das embaixadas dos EUA em todo o mundo, criando um episódio profundamente embaraçoso para a diplomacia americana.
Mas 2010 também trouxe revezes para a organização. Assange foi acusado de ter relações sexuais com uma mulher enquanto ela dormia, depois de conhecê-la em uma conferência em Estocolmo.
O fundador do WikiLeaks se refugiou na embaixada do Equador em Londres – que lhe concedeu asilo político em 2012 –, depois de perder uma batalha jurídica para bloquear sua extradição para a Suécia.
Assange, de 45 anos, tem afirmado que as acusações são falsas e se recusou a viajar a Estocolmo para interrogatório, devido a preocupações de que a Suécia o entregue aos EUA, para ser julgado por espionagem.
MD/dpa/efe/afp
Perseguidos e celebrados
O maior temor de serviços secretos, governos e empresas desonestas é a revelação de seus segredos pelos funcionários. Para desencorajar imitadores, os delatados perseguem os "whistleblowers", em certos casos até a morte.
Foto: picture-alliance/dpa
Herói ou traidor?
Para muitos, Edward Snowden é um herói – para o governo dos EUA ele é um traidor. O ex-consultor da CIA tornou público o programa sigiloso de vigilância da agência de segurança NSA. Snowden está foragido, vários países lhe negaram o asilo político, inclusive o Brasil. A história mostra que denunciantes ("whistleblowers") não devem esperar benevolência por parte das instâncias superiores.
Foto: Getty Images
Mal-estar entre amigos
O soldado dos Estados Unidos Bradley Edward Manning foi preso em maio de 2010, por publicar na plataforma Wikileaks vídeos e correspondência da embaixada norte-americana. Especialmente desagradável para Washington foi a divulgação de certos e-mails que criticavam e ridicularizavam governos parceiros. Manning foi condenado à prisão perpétua.
Foto: picture-alliance/dpa
Pai de todos os "whistleblowers"
Em 1974, ao longo de meses, Mark Felt, então vice-presidente do FBI, explicou detalhadamente a dois repórteres do jornal "Washington Post" como a equipe da campanha eleitoral de Richard Nixon teria espionado o escritório da oposição democrata. O relato levou à renúncia de Nixon, mas Felt consegui manter-se anônimo por mais de 33 anos.
Foto: AP
Proteção de repórteres leais
A revelação do caso Watergate é geralmente atribuída aos dois repórteres do jornal "Washington Post", Bob Woodward e Carl Bernstein. Contudo, seu principal mérito foi proteger o anonimato de Mark Felt, além de verificarem as informações em outras fontes. Assim o vice-presidente do FBI ficou livre de perseguições, só se revelando em 2005. Três anos mais tarde, ele falecia.
Foto: AP
Processo sumário na Rússia
Ao retornarem ao tribunal em 2013, os advogados do denunciante russo Serguei Leonidovitch Magnitsky se confrontaram com uma cela vazia. O réu morrera em 2009, numa prisão de Moscou, em circunstâncias não esclarecidas. Magnitsky revelara à imprensa certas práticas de corrupção dentro de empresas públicas russas. Ele foi preso por ter supostamente cometido fraude fiscal.
Foto: Reuters
Motivação complexa
Em 2011, o ex-gerente bancário Rudolf Elmer entregou ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, os dados de 2 mil presumíveis sonegadores de impostos. Assim como tantos outros "whistleblowers", o suíço foi movido por vingança, ganância, senso de justiça. Ele responde a inquérito por quebra de sigilo bancário; contra Assange corre um mandado de prisão por suposto crime sexual cometido na Suécia.
Foto: AFP/Getty Images
Lei da UE protege denunciantes
Em 1996, o funcionário da União Europeia Paul van Buitenen tentou informar seus superiores sobre certas irregularidades financeiras. Como estes preferiram ignorar as denúncias, ele recorreu a deputados da UE. No fim das contas, 17 comissários europeus tiveram que renunciar – mas Van Buitenen também foi coagido a deixar a Comissão. Desde 2000 existe na UE uma lei que protege os "whistleblowers".
Foto: Getty Images
Fim de viagem para uma denunciante
Karen Silkwood, que trabalhava numa unidade de tratamento de plutônio em Oklahoma, constatou graves falhas nas medidas de segurança para os operários. Ela preparou um dossiê para a imprensa contendo as irregularidades constatadas, mas, a caminho de entregar o documento, morreu num acidente de carro. Causa oficial do acidente: estafa.
Foto: picture-alliance/UPI
Lutador incorrigível
O artigo para o "Sunday Times", no qual Mordechai Vanunu denunciava o programa nuclear israelense, nem tinha sido impresso, quando o jornalista foi sequestrado pelo serviço secreto Mossad. Em Israel, foi condenado a 18 anos de prisão por traição da pátria. Libertado em 2004, declarou que iria continuar a luta pela paz e contra as armas nucleares. No entanto, está proibido de deixar Israel.
Foto: AFP/Getty Images
Vingança contra a indústria do cigarro
Uma das motivações de Jeffrey Wigand pode ter sido vingança contra seu antigo empregador. A empresa British-American Tobacco o havia demitido em 1993. Quatro anos depois, ele revelava na televisão que muitos cigarros contêm aditivos visando aumentar a dependência dos fumantes. Na foto, ele participa de um evento antifumo, ao lado do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
Foto: Getty Images
Destino final: zona de trânsito?
Desde que chegou de Hong Kong, Edward Snowden está confinado à zona de trânsito do aeroporto de Moscou. O governo norte-americano procura lhe barrar as possibilidades de asilo político. O denunciante expôs os EUA às críticas de todo o mundo, e é preciso desencorajar eventuais imitadores. Washington até ameaça o Equador com o fim das negociações de livre comércio, caso conceda asilo a Snowden.