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Xenofobia

11 de julho de 2009

Morte de egípcia, esfaqueada por jovem xenófobo dentro de um tribunal alemão, desencadeia problemas entre Berlim e Cairo, depois que governo e mídia na Alemanha praticamente ignoraram o ocorrido.

Marwa El-Sherbini: a farmacêutica de 31 anos, esfaqueada na sala de um tribunal alemãoFoto: picture-alliance/ dpa

Uma semana e meia depois de um jovem alemão de origem russa esfaquear uma egípcia grávida de três meses, num tribunal de Dresden, foi organizada na cidade uma cerimônia de luto em memória da vítima do ataque xenófobo. Marwa El-Sherbini, uma farmacêutica de 31 anos, foi agredida na quarta-feira da última semana (01/07), tendo morrido pouco depois.

Marwa El-Sherbini havia entrado com uma queixa contra Alex W. em agosto de 2008, depois de ter sido insultada por este num parque infantil localizado numa praça da cidade. Ao acompanhar seu filho pequeno, Marwa El-Sherbini, que portava um lenço muçulmano, perguntou a Alex W., que se encontrava na praça com sua sobrinha, se este poderia se levantar de um balanço infantil para que seu filho pudesse balançar.

"Vadia, terrorista"

Alex W. começou então subitamente a chamar Marwa El-Sherbini de "vadia" e "terrorista", o que fez com que a egípcia procurasse as autoridades locais para entrar com uma queixa contra o agressor. O tribunal de Dresden condenou Alex W. por danos morais, exigindo do mesmo o pagamento de 780 euros. Durante as sessões do tribunal para o julgamento de Alex W., consta que este insultou a vítima outras vezes.

Foto do casal agredido: ela morta, ele gravemente feridoFoto: dpa

No dia 1° de julho último, em mais uma sessão do tribunal para julgar o caso, quando Marwa El-Sherbini encerrava seu depoimento, foi atacada por Alex W., que portava uma faca grande. A egípcia, segundo informação de testemunhas, foi morta com 18 golpes por seu agressor, tendo sido defendida no momento por seu marido, que a acompanhava no tribunal. Foi quando um policial que adentrou o recinto atirou erroneamente no marido de El-Sherbini, ferindo-o gravemente. O filho de três anos do casal presenciou toda a tragédia.

Silêncio inicial

No primeiro dia após o crime, grande parte da mídia alemã noticiou apenas em pequenas notas: "Réu mata testemunha" em tribunal de Dresden. Somente um dia depois é que o teor xenófobo do crime veio à tona. "Foi claramente o ato xenófobo de um fanático", afirmou Christian Avenarius, promotor de Dresden.

Representantes da comunidade islâmica na Alemanha publicaram um comunicado público lamentando a pouca atenção dada pelas autoridades e pela opinião pública ao assassinato da egípcia por motivos xenófobos, em pleno tribunal.

Seis dias depois, o conselho que congrega as quatro maiores organizações muçulmanas na Alemanha publicava: "Marwa foi vítima de perseguição e calúnia, que vem acontecendo desde a decisão pela proibição do lenço muçulmano em departamentos públicos e levada a cabo em diversos sites na internet. A política tem que levar a sério a islamofobia em nosso país".

Protestos no mundo islâmico

Milhares de pessoas no enterro de Marwa El-Sherbini, em AlexandriaFoto: dpa

Em meio às críticas de que o governo alemão havia praticamente ignorado o ocorrido, Marwa El-Sherbini foi enterrada no Egito num clima de consternação geral. Mais de mil pessoas foram às ruas de Alexandria, terra natal da vítima, numa marcha fúnebre em sua memória.

Manifestantes protestaram em frente à embaixada alemã no Cairo. Também em Teerã manifestantes atiraram ovos contra o prédio da embaixada da Alemanha, gritando palavras de ordem contra a "Europa racista".

"Tudo o que tem ligação com o crime só será divulgado depois do início de um processo", afirmou Avenarius em Dresden à agência de notícias DPA, quando questionado a respeito de uma informação publicada pela revista Focus de que o agressor haveria premeditado o homicídio.

Reação tardia do governo

Mais de uma semana depois do crime, a premiê Angela Merkel lamentou o fato perante o presidente egípcio, Husni Mubarak, durante o encontro do G8 em Áquila, na Itália. Segundo porta-voz do governo alemão, as autoridades em Berlim estão agora empenhadas em esclarecer o ocorrido "com a maior rapidez possível".

O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, assegurou a seu colega de pasta egípcio, Ahmed Abul Gheit, medidas mais severas que impeçam crimes como esse. "Insistimos que na Alemanha qualquer pessoa se sinta segura, independente de sua origem, nacionalidade ou crença religiosa", afirmou o ministro.

Alerta para o país

Manifestações também no Irã contra o ocorridoFoto: picture alliance / dpa

Maria Böhmer, encarregada do governo para questões de integração, visitou o marido da vítima num hospital de Dresden, onde este ainda se encontra gravemente ferido. Böhmer salientou após a visita que no país "não há lugar para a violência por motivos racistas ou religiosos".

Em comentário para a emissora de televisão ARD, a correspondente Esther Saoub diz que este caso deveria "servir de alerta" para todo o país. "Os egípcios se perguntaram: por que [na Alemanha] ninguém fala nada? Nós, alemães, deveríamos nos perguntar se a próxima mãe que chegar com um lenço muçulmano num parque infantil, e for xingada de terrorista, ainda vai ter a coragem de procurar a polícia. E se ela não fizer isso, quem é que o fará, então?"

SV/dpa/afp/epd/ap/dw
Revisão: Augusto Valente

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