ONU aprova resolução que condena negar o Holocausto
21 de janeiro de 2022
Texto diz que minimizar número de vítimas ou culpar outras nações que não a Alemanha pelos campos de concentração também são formas de negação. ONU insta empresas de mídia social a tomarem medidas contra antissemitismo.
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A Assembleia Geral da ONU adotou nesta quinta-feira (20/01), em reunião em Nova York, uma resolução que rejeita e condena qualquer negação do Holocausto. A proposta foi feita pelos embaixadores da Alemanha e de Israel.
Os 193 membros da Assembleia concordaram, sem votação, com a proposta – apenas o Irã se distanciou do texto. A ONU também instou as empresas de mídia social a tomarem medidas ativas para combater o antissemitismo online.
"A Assembleia Geral está enviando uma mensagem forte e inequívoca contra a negação ou a distorção desses fatos históricos", disse a embaixadora alemã na ONU, Antje Leendertse. "Ignorar fatos históricos aumenta o risco de que eles se repitam", acrescentou.
O ministro israelense do Exterior, Jair Lapid, e a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, divulgaram comunicado conjunto no qual destacaram que a negação do Holocausto é um tema em torno do qual a comunidade internacional está unida e fala de forma uníssona. "Comprometemo-nos a manter viva a memória das vítimas e a garantir que os horrores do passado nunca mais se repitam", ressaltaram.
"Esta resolução deve ser um sinal de esperança e inspiração para todos os Estados e sociedades que defendem a diversidade e a tolerância, lutam pela reconciliação e compreendem que lembrar o Holocausto é essencial para evitar que crimes do tipo se repitam", escreveram os dois diplomatas em texto publicado pelos jornais alemão Tagesspiegel e israelense Maariv.
Os dois embaixadores disseram que a negação do Holocausto é um ataque às vítimas e seus descendentes, ao povo judeu e à "condição básica de sociedades pacíficas e coexistência pacífica em todo o mundo".
Definição de negação do Holocausto
A resolução estabelece uma definição de negação do Holocausto, o que inclui tentativas de distorcer fatos históricos.
Também são considerados negação esforços intencionais para desculpar ou minimizar o impacto do Holocausto ou seus principais elementos, incluindo colaboradores e aliados da Alemanha nazista; minimização grosseira do número de vítimas do Holocausto em contradição com fontes confiáveis; tentativas de culpar os judeus por causarem seu próprio genocídio; declarações que consideram o Holocausto como um evento histórico positivo; tentativas de obscurecer a responsabilidade pelo estabelecimento de campos de concentração e extermínio planejados e operados pela Alemanha nazista, colocando a culpa em outras nações ou grupos étnicos.
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Um aniversário sombrio
O texto foi aprovado no dia em que se completam 80 anos da Conferência de Wansee, quando líderes nazistas se reuniram em Berlim para planejar o assassinato sistemático de até 11 milhões de judeus na Europa. Uma cópia da ata da reunião de janeiro de 1942 foi descoberta por acaso, em 1947, e está preservada até hoje, tornando-se um símbolo do genocídio que já estava em andamento na época.
Ao contrário do que se afirma frequentemente, o extermínio organizado dos judeus não começou naquele dia de 1942. Meses antes, centenas de milhares deles já haviam sucumbido vítimas da "solução final", em especial nos territórios da União Soviética ocupados pelas tropas alemãs desde meados de 1941. À época da conferência, 500 mil judeus, incluindo mulheres e crianças, já haviam morrido, a maioria por fuzilamento.
Alemanha "nunca esquecerá"
Baerbock disse que mesmo 80 anos após a Conferência de Wannsee é essencial lembrar como os diplomatas alemães se tornaram cúmplices dos crimes nazistas.
"Os funcionários do Ministério do Exterior que se colocaram a serviço dos crimes e do genocídio do regime nazista também são culpados pelo sofrimento", disse. Baerbock lembrou as vítimas do Holocausto e prometeu: "Nunca esqueceremos o que a Alemanha fez com elas".
A Assembleia Geral da ONU designou o dia 27 de janeiro, o dia da libertação do campo de concentração de Auschwitz, como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
le/as (AP, DPA, KNA, Reuters)
Dez filmes sobre o Holocausto
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
Foto: picture-alliance
Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.