1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Assessor de Zelenski diz que fala de Lula distorce a verdade

5 de maio de 2022

Em entrevista à revista "Time", brasileiro afirmou que presidente ucraniano "quis a guerra" e tinha "comportamento um pouco esquisito". Conselheiro presidencial da Ucrânia afirma que petista ecoa a narrativa de Moscou.

Mykhailo Podolyak
Podolyak: "É simples: a Rússia atacou traiçoeiramente a Ucrânia, a guerra é apenas no território da Ucrânia, a Rússia mata civis de forma maciça"Foto: Emin Sansar/AA/picture alliance

O conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak, reagiu nesta quinta-feira (05/05) às declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia, dadas em entrevista à revista Time.

Na entrevista, Lula fez severas críticas ao presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, afirmando que o líder ucraniano "quis a guerra" e que os países ocidentais deveriam pressionar Kiev a negociar.

Podolya escreveu no Twitter: "O ex-presidente do Brasil Lula da Silva fala sobre a culpa da Ucrânia ou do Ocidente na guerra. Isso são tentativas da Rússia para distorcer a verdade. É simples: a Rússia atacou traiçoeiramente a Ucrânia, a guerra é apenas no território da Ucrânia, a Rússia mata civis de forma maciça. Guerra clássica de destruição e ocupação".

Na quarta-feira, a embaixada da Ucrânia também havia reagido à entrevista de Lula, e afirmado que tinha a intenção de solicitar uma reunião com o ex-presidente para esclarecer a posição do país no conflito.

"A embaixada planeja solicitar formalmente uma audiência do estimado ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva com o encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, para esclarecer a posição da Ucrânia", afirmou o órgão em nota.

O que Lula disse

Na sequência de perguntas mais longas sobre um mesmo tema da entrevista à Time, Lula criticou Zelenski e desaprovou a forma como as potências ocidentais vêm lidando com a guerra de agressão russa no leste da Europa. O petista também criticou as ações do presidente russo, Vladimir Putin, mas afirmou que o líder do Kremlin não é o único "culpado".

"Às vezes fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado. O Saddam Hussein era tão culpado quanto o Bush. Porque o Saddam Hussein poderia ter dito: 'Pode vir aqui visitar e eu vou provar que eu não tenho armas'. Ele ficou mentindo para o seu povo. Agora, esse presidente da Ucrânia poderia ter dito: 'Olha, vamos deixar para discutir esse negócio da Otan e esse negócio da Europa mais para frente. Vamos primeiro conversar um pouco mais'."

"Eu não conheço o presidente da Ucrânia. Agora, o comportamento dele é um comportamento um pouco esquisito, porque parece que ele faz parte de um espetáculo. Ou seja, ele aparece na televisão de manhã, de tarde, de noite, aparece no Parlamento inglês, no Parlamento alemão, no Parlamento francês como se estivesse fazendo uma campanha. Era preciso que ele estivesse mais preocupado com a mesa de negociação."

Lula: "Era preciso que ele [Zelenski] estivesse mais preocupado com a mesa de negociação" Foto: Daina Le Lardic/EP

"Ele [Zelenski] quis a guerra. Se ele [não] quisesse a guerra, ele teria negociado um pouco mais. É assim. Eu fiz uma crítica ao Putin quando estava na Cidade do México, dizendo que foi errado invadir. Mas eu acho que ninguém está procurando contribuir para ter paz. As pessoas estão estimulando o ódio contra o Putin. Isso não vai resolver!", disse o petista.

Lula ainda afirmou que é preciso "estimular um acordo". "Mas há um estímulo [ao confronto]! Você fica estimulando o cara [Zelenski] e ele fica se achando o máximo. Ele fica se achando o rei da cocada, quando na verdade deveriam ter tido conversa mais séria com ele: 'Ô, cara, você é um bom artista, você é um bom comediante, mas não vamos fazer uma guerra para você aparecer'. E dizer para o Putin: 'Ô, Putin, você tem muita arma, mas não precisa utilizar arma contra a Ucrânia. Vamos conversar!'", argumentou Lula.

Críticas aos Estados Unidos e à União Europeia

Durante seu governo (2003-2010), Lula foi um dos articuladores, junto com Putin, da formação dos Brics, o mecanismo de cooperação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sob Lula, o Brasil também reforçou sua tradicional posição diplomática de "honest broker", mantendo uma política independente de cultivar boas relações com países rivais.

"Putin não deveria ter invadido a Ucrânia. Mas não é só Putin que é culpado, são culpados os Estados Unidos e é culpada a União Europeia. Qual é a razão da invasão da Ucrânia? É a Otan? Os Estados Unidos e a Europa poderiam ter dito: 'A Ucrânia não vai entrar na Otan'. Estaria resolvido o problema", disse Lula.

No entanto, a candidatura da Ucrânia à Otan já havia sido efetivamente bloqueada pela Alemanha e pela França ainda em 2008, ainda que diferentes governos em Kiev tenham insistido em continuar a buscar se juntar à aliança, especialmente depois da anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

Lula também argumentou que a União Europeia deveria ter feito o mesmo em relação à Ucrânia para aplacar Putin. "Os europeus poderiam ter resolvido e dito: 'Não, não é o momento de a Ucrânia entrar na União Europeia, vamos esperar'. Eles não precisariam fomentar o confronto!"

O ex-presidente ainda avaliou que a diplomacia ocidental falhou em negociar com Putin. "Não tentaram. As conversas foram muito poucas. Se você quer paz, você tem que ter paciência. Eles poderiam ter sentado numa mesa de negociação e passados 10 dias, 15 dias, 20 dias, um mês discutindo para tentar encontrar a solução. Então eu acho que o diálogo só dá certo quando ele é levado a sério", disse Lula.

"Eu, se fosse presidente hoje, teria ligado para o [Joe] Biden, teria ligado para o Putin, para a Alemanha, para o [Emmanuel] Macron, porque a guerra não é saída. Eu acho que o problema é que, se a gente não tentar, a gente não resolve. É preciso tentar."

bl (ots)

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque