Até 30 mil combatentes lutam pelo "Estado Islâmico", estima CIA
12 de setembro de 2014
Número é três vezes maior do que o estimado anteriormente e inclui milhares de estrangeiros. Grupo radical conseguiu novos adeptos após recentes sucessos no campo de batalha e proclamação de um califado.
Anúncio
Os terroristas do “Estado Islâmico” (EI) contam com cerca de 20 a 31,5 mil combatentes no Iraque e na Síria, segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (11/09) pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA). O número é muito maior do que as estimativas anteriores, que apontavam para aproximadamente 10 mil militantes do grupo na região.
A CIA acredita que haja 15 mil combatentes estrangeiros somente na Síria, incluindo 2 mil originários do Ocidente. A avaliação foi feita com base numa nova análise de relatórios do órgão referentes ao período de maio a agosto deste ano.
“Esse total reflete um aumento no número de membros por causa do forte recrutamento desde junho, após sucessos e maior atividade no campo de batalha e a proclamação de um califado”, disse em comunicado o porta-voz da Cia Ryan Trapani.
Autoridades americanas têm manifestado preocupação com a presença de militantes de outros países entre os radicais sunitas, sobretudo em relação àqueles que possuem passaportes ocidentais. Isso possibilitaria que eles retornassem dos campos de batalha com o objetivo de conduzir ataques terroristas na Europa e nos Estados Unidos.
A revelação da CIA foi feita no dia do 13º aniversário dos ataques do 11 de Setembro e poucas horas depois do presidente Barack Obama ter anunciado a ampliação da ofensiva americana contra os jihadistas, incluindo ataques aéreos à Síria.
Na guerra contra o terror, aumenta em Washington a esperança de contar com o apoio da Europa para os ataques aéreos. Um porta-voz do premiê britânico, David Cameron, disse que o Reino Unido não descarta uma intervenção na Síria. A França também se manifestou disposta a colaborar com ataques aéreos no Iraque “se necessário”, segundo o Ministro do Exterior francês, Laurent Fabius.
A Alemanha, por outro lado, não pretende se envolver. “Não fomos sequer solicitados para tal e nem o faremos”, disse o Ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier. Ele diz preferir apostar numa “estratégia política” para conter os extremistas, fazendo referência ao envio de armas da Alemanha para ajudar os curdos a se defenderem do EI no norte do Iraque.
Enquanto isso, dez países árabes comprometeram-se a colaborar com o Ocidente: Arábia Saudita, Iraque, Bahrein, Egito, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Catar e Emirados Árabes Unidos. Reunidos nesta quinta-feira numa conferência antiterrorismo em Jidá, na Arábia Saudita, eles se comprometeram a conter o fluxo de combatentes e o financiamento dos jihadistas e, caso necessário, se juntar a uma intervenção militar.
IP/afp/dpa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.