Andreas Knobloch, de Havana (av)20 de março de 2016
O mercado cubano, comparável ao da Guatemala ou Porto Rico, torna-se cada vez mais interessante para turistas e investidores – também dos EUA. Mas o que isso está significando de fato para a população local?
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Sol Martínez está sentada à sombra de sua casa, no bairro havanês de Vedado. Pensativa, ela observa o casal de turistas espanhóis que vai arrastando a mala barulhenta pelo asfalto.
A aposentada – que não quer ver seu nome real publicado nem no jornal, nem na internet – está contente. Há já alguns anos ela aluga dois quartos no andar superior da casa. "Mas uma procura como esta agora, nunca vi. Em seguida, já vêm os próximos, um casal da Alemanha", comenta.
Tampouco Fran – que pega e leva com o táxi os hóspedes de Sol ao aeroporto – tem motivos para se queixar de falta de trabalho. "Ontem mesmo tive uma excursão até o norte da ilha, em Cayos. Depois de amanhã é em Viñales", conta, enquanto coloca a bagagem no porta-malas. O automóvel não é dele, que só o "opera", mas mesmo assim ele ganha tanto quanto um acadêmico com cargo fixo estatal.
Aluguel particular de quartos e dirigir táxi estão entre as atividades comerciais permitidas aos cubanos desde 2011. Ao todo, a lista contém quase 200 ramos profissionais – inclusive alguns exóticos, como recarregador de fluido de isqueiros.
Porém é nos setores relacionados ao turismo que se pode ganhar bom dinheiro. Ainda mais desde dezembro de 2014, quando os presidentes americano, Barack Obama, e cubano, Raúl Castro, anunciaram um reinício das relações entre os dois países.
Euforia com entraves
O Estado insular no Caribe representa um mercado comparável ao da Guatemala ou Porto Rico. "Vamos para Cuba, antes que cheguem os americanos", é o lema do momento. Visitantes de todo o mundo confluem para a ilha caribenha, também cada vez mais americanos dão um pulinho ao território até então proibido.
Só nos primeiros dois meses e meio de 2016, já foram registrados mais de 1 milhão de turistas, uma cifra recorde. Está difícil encontrar até hospedagem privada, por toda Havana novos bares e restaurantes parecem brotar do solo.
Há alguns anos Cuba vem realizando um cauteloso processo de abertura econômica: permitiu-se mais iniciativa privada e foi aprovada a lei que permite a empresas estrangeiras investirem em todos os setores empresariais cubanos.
O catálogo elaborado pelo governo inclui 326 possíveis projetos de investimento, com um volume total de 8,2 bilhões de dólares – da criação de galinhas à construção de parques de energia eólica, passando pela produção de vacinas. O interesse é imenso: há meses delegações governamentais e empresariais de todo o mundo fazem uma verdadeira ciranda em Havana.
O momento parece propício para o retorno de Cuba ao palco da economia mundial, quando o restante da América Latina se debate com escândalos de corrupção, desvalorização monetária e índices econômicos despencando. Mas, apesar de toda a euforia, investir em Cuba continua envolvendo dificuldades, e as empresas se queixam de entraves burocráticos e falta de segurança legal.
Mariel como figura de proa
Na cidade portuária de Mariel, às portas de Havana, concretizaram-se 12 projetos desde a abertura da zona econômica especial, há dois anos. Lá ficam as sedes de três firmas que trabalham com capital nacional: uma companhia de logística, um banco e o terminal de contêineres de Mariel, erguido com créditos brasileiros e operado para PSA International, de Cingapura.
Além disso, até agora lá se estabeleceram um produtor de carne e um de tintas, mexicanos; uma firma de transportes belga; uma espanhola de gêneros alimentícios; uma construtora brasileira; e uma joint venture cubano-brasileira.
Pouco antes da visita de Obama, neste domingo (20/03), o fabricante de tratores Cleber LLC, do Alabama, recebeu sinal verde para construir uma central de produção em Cuba, como primeira empresa americana em meio século. Assim, a partir de 2017 cerca de mil pequenos tratores sairão a cada ano de Mariel, para abastecer agricultores independentes e cooperativas.
Regras locais, capitalismo global
Além da agricultura e do turismo, a biotecnologia e a farmácia parecem ser os setores com mais potencial. No entanto, medicamentos e produtos biotecnológicos cubanos ainda não podem ser exportados para os Estados Unidos, devido ao embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelo país e ainda em vigor.
No geral, a política de embargo de Washington é o maior obstáculo aos investimentos no Estado insular. Sol Martínez é uma que não confia cem por cento nos americanos: "Eles que não fiquem pensando que podem fazer o relógio andar para trás 60 anos. Chegar e fazer dinheiro rápido – a coisa não é assim! Eles vão ter que obedecer às nossas regras."
Como turistas, os americanos são bem-vindos, é claro. "Se a demanda continuar crescendo, em breve nós vamos aumentar os nossos preços", diz a anciã, piscando o olho.
Cuba: o clã dos Castro
A árvore genealógica de Fidel Castro é vasta e ramificada. A família ganhou destaque nesta semana após a morte de Ramón Castro, irmão mais velho do ex-dirigente. Conheça nessa galeria os rostos do clã
Foto: picture-alliance/dpa
Onde tudo começou
Ángel Castro Argiz nasceu nesta casa em Láncara, na província galega de Lugo, no noroeste da Espanha. Em 1899 ele chegou a Havana. Após ser bem-sucedido em vários negócios, se converteu em latifundiário e casou-se com sua primeira mulher, María Luisa Argota Reyes. A união fracassou, e Angel casou em 1943 com Lina Ruz González. Eles tiveram sete filhos, entre eles Fidel e Raúl Castro.
Foto: picture-alliance/dpa/J.M. Castro
Lina Ruz
A mãe de Fidel Castro. Com ela, Ángel Castro Ariz manteve uma relação extraconjugal e teve uma primeira filha, Ángela, quando ainda estava casado com María Luisa Argota, com quem já tinha dois filhos. Nesta imagem, uma funcionária da Casa Museu Fidel Castro mostra uma fotografia de Fidel, Raúl e Ramón Castro. Ao lado, um retrato da mãe do trio, Lina Ruz.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Soler
Fidel Castro
Foi primeiro-ministro (1959-1976) e presidente de Cuba (1976-2008) e se manteve como primeiro-secretário do Partido Comunista até 2011, quando transferiu todos os poderes ao seu irmão Raúl. Fidel tem dez filhos conhecidos: o mais velho, Fidel Ángel, é fruto do casamento com Mirta Díaz-Balart; outros cinco, da união com Dalia Soto del Valle; outros quatro foram gerados em casos extraconjugais.
A segunda mulher de Fidel Castro, com quem ele se casou em 1980. O casal tem cinco filhos. Todos têm nomes iniciados com a letra "A". Alexis, Alexander, Antonio, Alejandro e Ángel. Discreta, Dalia sempre viveu sob a sombra do "comandante". Em 2015, durante uma visita do presidente François Hollande a Fidel, em Havana, muitos a confundiram com uma assessora.
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Raúl Castro
É presidente de Cuba desde 2008. Raúl casou-se com Vilma Espín em 1959 e teve quatro filhos. Dois são bem conhecidos: Mariela Catro, uma política e sexóloga de renome que atua como diretora do Centro Nacional de Educação Sexual de Cuba; e Alejandro Castro, que ostenta a patente de coronel e atua como assistente pessoal do pai.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Boylan
Vilma Espín
A falecida mulher de Raúl Castro foi uma destacada dirigente política da Revolução Cubana e membro do Movimento 26 de Julho. Ela estudou engenharia química e foi membro do Comitê Central do Partido Comunista cubano de 1965 até a sua morte. Ela se casou com Raúl em 1959. O casal teve quatro filhos: Deborah, Mariela, Nilsa e Alejandro. Vilma morreu em consequência de um câncer em junho de 2007.
Foto: Imago/GranAngular
Ramón Castro
O irmão mais velho de Fidel e Raúl Castro faleceu no dia 23 de fevereiro de 2016 em Havana, aos 91 anos. Nascido em 14 de outubro de 1924, Ramón Castro cooperou com a guerrilha liderada pelo seu irmão Fidel e o Movimento 26 de Julho. Após o triunfo da revolução, ele desempenhou diferentes atividades no setor agropecuário.
"A última vez que falei com meu irmão Raúl foi em 18 de junho de 1964, um dia antes da minha partida." Após descobrir em primeira mão os excessos da Revolução, Juanita exilou-se no México e depois em Miami. Em 1965, ela obteve a nacionalidade americana. Crítica da política cubana, ela admitiu ter colaborado com a CIA em 1963. Em 2009, publicou "Fidel e Raúl, meus irmãos – a história secreta".
Foto: picture-alliance/dpa/G. De Cardenas
Alina Fernández
Uma das filhas que Fidel teve em seus relacionamentos extraconjugais e que foi reconhecida pelo comandante. Ela passou a sua infância junto com a mãe, Natalia Revuelta, e foi registrada com o sobrenome do marido dela. Por causa da sua crescente insatisfação política, Alina abandonou o país em 1993, contra a vontade do pai. Em 1997 ela publicou o livro "Memórias da Filha de Fidel Castro".
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Fidel Ángel Castro Díaz-Balart
É o filho de Fidel com sua primeira esposa, Mirta Díaz-Balart. Após se formar na Universidade de Lomonosov, em Moscou, Fidel Ángel esteve ligado ao Instituto Kurchatov, uma instituição soviética para pesquisa de energia atômica. Na década de 1980, ele esteve vinculado ao desenvolvimento do setor atômico em Cuba, onde fundou o Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Nucleares de Havana.
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Alex Castro
Nascido em 1963, é um dos três filhos de Fidel com mais exposição pública. É artista e atua como fotógrafo oficial do seu pai. Há algumas semanas, declarou em entrevista que compreende a retomada das relações de Cuba com os Estados Unidos como "algo lógico". Também afirmou que Fidel "sempre esteve de acordo com a reaproximação e o restabelecimento das relações entre os dois países".
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Antonio Castro
É filho de Fidel Castro com Dalia Soto. É um cirurgião que atua como médico da equipe nacional de beisebol de Cuba e presidente da federação cubana desse esporte. Ao longo da sua vida foi protagonista de vários escândalos.