Até que o juiz os separe
13 de novembro de 2003O aumento do número de matrimônios fracassados não surpreende num país onde o chefe de governo está casado pela terceira vez e seu vice, ministro das Relações Exteriores, no quarto matrimônio. No ano passado, o número de casamentos desfeitos judicialmente ultrapassou os 204 mil na Alemanha, um número ─ com exceção de 1999 ─ em constante ascensão nos últimos dez anos.
Em relação a 1992, cresceu em 50% o número de separações decididas em cartório. Se continuar assim, os pesquisadores advertem que no futuro mais de um terço dos casamentos estará fadado ao fracasso.
A metade dos casais separados no ano passado tinha filhos menores de idade, uma problemática que ocupa cada vez mais sociólogos e psicoterapeutas. Os primeiros atribuem o aumento do número de divórcios ao maior individualismo na sociedade.
Uma tendência comprovada também pelo fato de a Alemanha estar se tornando cada vez mais um país de solteiros. Embora no ano passado tenha aumentado levemente o número de casamentos no país (2,3 mil a mais que em 2001), poucos pares optam pela vida comum com papel passado. A título de comparação: em 1950, houve 750 mil casamentos na Alemanha, enquanto 52 anos depois foram "apenas" 390 mil.
Pais separados, filhos divorciados
A fase crítica do casamento, segundo o estudo publicado pelo Departamento Federal de Estatísticas, é quando os filhos ainda são pequenos e os pais dos cônjuges, com o avanço da idade, necessitam de assistência. Por curiosidade: o maior número de matrimônios desfeitos na Alemanha no ano passado havia sido contraído seis anos antes.
As crianças já não são mais vistas pelos parceiros como empecilho para encaminhar uma separação. Por outro lado, muitos casais ainda tentam reverter a crise conjugal gerando filhos. "Um grande erro", adverte o professor de psicologia Hans-Georg Voss.
A metade dos casamentos desfeitos na Alemanha no ano passado envolveu filhos com menos de 18 anos de idade, atingindo um número 4,1% mais alto que em 2001. As causas das separações são diversas. Quanto mais filhos de casais separados contraem matrimônio, mais aumenta o número de divórcios, constata Bernd Böttger, do Instituto de Terapia para Casais, em Frankfurt. É que filhos de pais separados enfrentam mais dificuldades nas relações e têm mais presente a possibilidade de encerrar o casamento.
Menos relações duradouras
Um casamento fracassado já não é mais visto como um estigma. Além disso, as conseqüências financeiras já não são mais tão graves como antigamente, explica Voss. O individualismo e o imediatismo, característicos da nossa sociedade, diminuem a disposição por relações pessoais duradouras, complementa.
Outros dois fatores citados pelos pesquisadores como causas do grande número de separações na Alemanha são as carreiras profissionais de marido e mulher, que muitas vezes trabalham longe do local onde moram; e a idade dos noivos, que se decidem pelo casamento cada vez mais tarde. Em 2001, por exemplo, a idade média dos noivos era de 31 anos e, das noivas, de 28 anos.
O psicoteurapeuta Berend Groeneveld, entretanto, adverte que não se pode concluir deste estudo que os casais se separam de forma leviana. "O mais provável é que eles fracassem por perderem as esperanças em seus ideais", conclui.