Publicado 13 de junho de 2025Última atualização 14 de junho de 2025
Grande ofensiva israelense a alvos iranianos tem potencial para sabotar de vez anos de esforços por acordo nuclear, liderados pelos EUA. Consequências podem envolver toda a região.
Segundo o embaixador do Irã na ONU 78 pessoas morreram e 320 ficaram feridas na primeira onda de ataques israelenses contra o Irã, a maior parte civis.Foto: MEGHDAD MADADI/TASNIM NEWS/AFP/Getty Images
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Chamar o Oriente Médio de "barril de pólvora" é minimizar a situação. E em meio a essa região altamente explosiva, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acaba de lançar uma granada, nesta sexta-feira (13/06): uma ofensiva maciça a mais de 100 alvos no Irã, justificada como "ataque preventivo" contra o possível desenvolvimento de armas nucleares. Netanyahu anunciou que as investidas, inclusive em áreas residenciais da capital Teerã, deverão continuar durante vários dias.
Os efeitos sobre a região e mais além são imprevisíveis, porém algumas consequências já se anunciam: o Irã suspendeu as negociações sobre seu programa nuclear, iniciadas pelo governo dos Estados Unidos por mediação de Oman.
A República Islâmica também lançou duas ondas de mísseis contra cidades israelenses, atingindo pontos de Tel Aviv e Jerusalém.
A ofensiva israelense ocorreu dois dias antes do início da próxima rodada de diálogo. O presidente americano, Donald Trump, havia instado Tel Aviv expressamente a não torpedear as negociações. E ainda logo antes que caíssem os mísseis, postara que confiava na continuação das conversações.
Uma das mortes em consequência dos ataques mostra, em especial, o descaso de Netanyahu pelas negociações nucleares: a vítima foi Ali Shamchani, designado expressamente pelo líder religioso iraniano Ali Khamenei para encabeçar o comitê encarregado dos diálogos com os americanos.
Uma das questões em aberto é se em seus atos de retaliação o Irã também vai visar alvos dos EUA. O país é considerado o mais importante aliado militar de Israel, cujo apoio é o que possibilita ofensivas dessa ordem de grandeza.
No passado, Teerã já ameaçou retaliar contra bases militares dos EUA no Oriente Médio. Por sua vez, há dias Washington iniciou a evacuação do pessoal não imediatamente necessário na região, e dos familiares de seus militares. Os alvos potenciais são muitos: entre o Egito e os Emirados Árabes Unidos há oito bases americanas permanentes e diversas outras temporárias, com um total estimado de 50 mil soldados estacionados.
Embora os iranianos não tenham interesse num confronto armado com os EUA, uma eventual abstenção por parte de Teerã dependerá de se – e com qual grau de credibilidade – a Casa Branca vai se distanciar dos ataques israelenses. Na plataforma X, o secretário de Estado Marco Rubio já assegurou que seu país não participou em absoluto da ofensiva, complementando com a advertência de que o Irã "não deve visar interesses ou pessoal americano".
Em retaliação, Irã atingiu pontos de Tel AvivFoto: Tomer Neuberg/AP/picture alliance
Perspectivas desoladoras para paz no Oriente Médio
No Oriente Médio, em geral, o nervosismo é grande. Os países da região condenaram severamente a ofensiva israelense, até mesmo a Arábia Saudita, até há pouco inimiga declarada do Irã.
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A pretendida aproximação entre Israel e o mundo árabe, iniciada durante o mandato de Trump na forma dos Acordos de Abraão, deverá ficar congelada. Porém a conduta de guerra israelense na Faixa de Gaza já se encarregara de esfriar seriamente o clima diplomático.
Por sua vez, faz apenas dois anos que Teerã e Riad se reaproximaram, sob mediação chinesa, após anos de hostilidade radical. Desde então, as relações bilaterais se intensificaram, havia até planos de cooperação militar e de manobras conjuntas. O sinal de aproximação mais recente foi em abril, quando o ministro saudita de Defesa, Khalid bin Salman – irmão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman – viajou até a capital iraniana, onde também se encontrou com o líder Khamenei.
Assim como os demais Estados árabes da região, a Arábia Saudita não quer de modo algum ser implicada no conflito israelo-iraniano, muito menos com os EUA estando envolvidos. Diante da superioridade de seu oponente, o Irã poderá apelar para táticas de guerra assimétrica, por exemplo obstruindo a extração e transporte de petróleo.
Em 2019, ataques com drones por houthis iemenitas interromperam temporariamente o transporte de petróleo saudita, e nos anos seguintes instalações petroleiras do país foram igualmente alvo de ofensivas do Iêmen. Assim, não é surpresa que as ofensivas israelenses tenham gerado uma forte alta dos preços do petróleo.
Questionável é se com esses ataques Israel alcançará sua meta oficialmente declarada: impedir o desenvolvimento de uma bomba atômica iraniana. No momento, a maioria dos especialistas duvida que seja possível destruir o programa nuclear do país por meios militares. Em contrapartida, os atuais bombardeios poderão motivar o Irã a, agora sim, apostar no armamento nuclear. Isso possivelmente resultaria numa corrida armamentista no Oriente Médio – o que não é no interesse de ninguém.
O mês de junho em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Agência para refugiados da ONU demitirá 3,5 mil funcionários
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) anunciou que cortará 3,5 mil empregos – quase um terço de seus custos com a força de trabalho – devido à escassez de recursos, e reduzirá a escala de sua ajuda em todo o mundo após uma queda no financiamento à ajuda humanitária, principalmente dos recursos vindos dos EUA sob Donald Trump. (16/06)
Foto: Florian Gaertner/IMAGO
Milhares protestam nos EUA contra Trump
Uma multidão tomou as ruas de 2 mil cidades americanas em oposição à gestão de Donald Trump, acusado de autoritário pelos manifestantes. O envio de forças federais para reprimir protestos em Los Angeles na última semana e a convocação de um desfile militar que acontece neste sábado em Washington também pautaram as críticas nos atos apelidados de "No Kings" (Sem Reis). (14/04)
Foto: Yuki Iwamura/AP/dpa/picture alliance
Israel e Irã trocam agressões em escalada militar
Israel lançou um ataque contra instalações nucleares do Irã, matando 78 pessoas, incluindo três dos chefes militares do país e dezenas de civis. A ofensiva desencadeou uma troca de agressões sem precendentes entre os países. Em retaliação, a República Islâmica disparou dezenas de mísseis contra Tel Aviv e Jerusalém, furando o Domo de Ferro israelense e ferindo 34 pessoas. (13/06)
Foto: Leo Correa/AP/picture alliance
Queda de avião na Índia deixa mais de 200 mortos
Um avião da Air India com 242 pessoas a bordo caiu em uma área residencial logo após decolar perto do aeroporto de Ahmedabad, no oeste da Índia. Apenas um dos passageiros a bordo sobreviveu. A polícia indiana contabiliza ainda outras 24 vítimas que estavam no solo e morreram no momento do acidente. A causa do acidente está sendo investigada (12/06)
Foto: Ajit Solanki/AP Photo/picture alliance
Ajuda humanitária em Gaza na mira de militares israelenses
Pelo menos 21 palestinos morreram enquanto se dirigiam a locais de distribuição de ajuda humanitária em Gaza. Entidades denunciam, além da violência, quantidade insuficiente de alimentos, após meses de bloqueio à entrada de itens básicos por Israel. O exército israelense alegou que disparou "tiros de advertência". O número de palestinos mortos em 20 meses de guerra já supera 55 mil. (11/06)
Foto: Saeed Jaras/Middle East Images/AFP/Getty Images
Réu no STF, Bolsonaro é interrogado em processo da trama golpista
Ao longo de dois dias, ex-presidente e outros sete ex-auxiliares acusados de integrar "núcleo crucial" da trama golpista depuseram na Primeira Turma. Político negou ter discutido planos de golpe após perder a eleição e disse que só debateu medidas constitucionais com militares, mas que não editou "minuta do golpe". (10/06)
Foto: Fellipe Sampaio/STF
Israel detém barco que levava Greta Thunberg e o brasileiro Thiago Ávila
A Marinha de Israel interceptou um barco que tentava levar ajuda humanitária a Gaza. O veleiro Madleen, da iniciativa internacional Flotilha da Liberdade, levava 12 ativistas a bordo. Eles foram escoltados até um porto e, segundo o governo israelense, serão deportados. (09/06)
Trump chama militares para reprimir protestos na Califórnia contra prisão de imigrantes
O presidente americano Donald Trump enviou militares da Guarda Nacional a Los Angeles para conter protestos que eclodiram na esteira de uma série de operações de detenção de supostos migrantes irregulares. A medida não tem apoio do governo do estado da Califórnia, que acusou Trump de tentar provocar uma crise. (08/06)
Foto: Frederic J. Brown/AFP
Rússia amplia ataques contra 2ª maior cidade da Ucrânia
A Rússia executou diversos ataques no centro de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixando cinco civis mortos e mais de 61 feridos, incluindo um bebê e uma adolescente de 14 anos. Bombas planadoras, um míssil e 53 drones atingiram prédios residenciais. O prefeito do município classificou a ação como o ataque mais severo desde o início da guerra. (07/06)
Foto: Sofiia Gatilova/REUTERS
Marcelo livre
Um juiz americano determinou a libertação do estudante brasileiro Marcelo Gomes da Silva, de 18 anos, que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) a caminho de um treino de vôlei. Ele ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a chuveiro, acompanhado de homens com o dobro da sua idade. (06/06)
Foto: Rodrique Ngowi/AP
Musk e Trump trocam insultos e rompem relações
Bilionário que atuou como conselheiro da Casa Branca criticou projeto de lei de Orçamento de Trump que prevê cortes de impostos e aumento de gastos batizado pelo presidente como "Big Beautiful Bill". Musk chegou a endossar impeachment de Trump e associou presidente ao pedófilo Jeffrey Epstein. Trump reagiu dizendo que Musk "enlouqueceu" e ameaçou cortar contratos da SpaceX com governo. (05/06)
Foto: Nathan Howard/REUTERS
Moraes ordena prisão de Carla Zambelli após deputada deixar o país
O ministro do STF acatou pedido da PGR de prisão preventiva contra a deputada federal e determinou a inclusão dela na lista de procurados da Interpol. Moraes determinou bloqueio de salários, bens, contas bancárias e perfis em redes sociais. Parlamentar deixou o país após ser condenada a 10 anos de prisão e à perda de mandato por envolvimento na invasão do CNJ. (04/06)
Foto: Adriano Machado/REUTERS
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista
Alegando insatisfação com a política migratória, Gert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – e seu partido deixaram coalizão de governo, levando primeiro-ministro Dick Schoof (foto) à renúncia após menos de um ano de mandato. Sem maioria no parlamento, Schoof permanecerá interinamente no cargo até a realização de novas eleições e formação de um novo gabinete. (03/06)
Foto: Peter Dejong/AP/picture alliance
Conservador Karol Nawrocki vence eleição presidencial na Polônia
Resultado é derrota para o governo do primeiro-ministro Donald Tusk e deve dificultar andamento de políticas pró-União Europeia. Apoiado pelo partido ultraconservador Lei e Justiça (PiS), Nawrocki poderá vetar leis e desgastar o governo com bloqueios no Parlamento. Aliança frágil de Tusk pode não resistir até 2027. (02/06)
Foto: Czarek Sokolowski/AP/dpa/picture alliance
Ucrânia destrói aviões de guerra da Rússia em ataque massivo de drones
Na véspera de uma nova rodada de negociações de paz, Ucrânia e Rússia intensificaram sua ofensiva militar e protagonizaram ataques sem precedentes. Enquanto, Kiev destruiu 41 aviões militares na Sibéria, ofensiva de maior alcance no território russo em três anos de guerra, Moscou lançou número recorde de drones contra território ucraniano. (1º/06)