Aliados do grupo "Estado Islâmico" atacam posto de controle militar com carros-bomba e artilharia pesada. Atentado é o mais grave em dois anos na região. Exército egípcio relata contra-ataque e morte de jihadistas.
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Militantes islâmicos atacaram um remoto posto de controle do Exército egípcio na Península do Sinai com dois carros-bomba e artilharia pesada, nesta sexta-feira (07/07), resultando na morte de ao menos 23 soldados e ferindo pelo menos outros 33. O ataque mais sangrento contra forças de segurança em dois anos na instável região foi reivindicado por uma filial local da organização extremista "Estado Islâmico" (EI). Exército relatou ter contra-atacado e que matou cerca de 40 jihadistas suspeitos.
Os extremistas estão travando uma insurgência na pouco povoada Península do Sinai. Eles mataram centenas de soldados e policiais desde 2013, quando os militares derrubaram o então presidente muçulmano Mohamed Morsi depois de protestos em massa contra o seu governo e repreenderam os simpatizantes da Irmandade Muçulmana.
Os dois carros-bomba explodiram em dois pontos do lado de fora de um complexo militar ao sul de Rafah, na fronteira do Egito com a Faixa de Gaza, segundo fontes egípcias de segurança. Num comunicado, o "Estado Islâmico" disse que seus aliados atacaram o complexo porque os militares estariam se preparando para lançar operações contra o grupo militante sunita da região.
O ataque é o mais grave no Sinai desde ao menos julho de 2015, quando jihadistas do "Estado Islâmico" atacaram simultaneamente uma série de postos de controle e localidades do Exército egípcio em torno do Sinai do Norte. De acordo com dados oficiais, 17 soldados foram mortos na época.
Fontes de segurança descreveram o ataque como um atentado coordenado, com os carros-bomba destruindo os pontos de controle enquanto homens armados em veículos disparavam contra soldados que correram buscando refúgio. Além disso, os extremistas dispararam foguetes e granadas em direção a instalações militares além do posto de controle.
O Exército egípcio realizou um contra-ataque quase imediatamente, enviando aviões de combate para matar cerca de 40 jihadistas suspeitos de envolvimento e destruindo seis de seus veículos, segundo um vídeo divulgado pelos militares que mostra imagens aéreas do ataque militar.
"As forças de segurança no norte do Sinai conseguiram frustrar um ataque terrorista em alguns postos de controle ao sul de Rafah", limitou-se a divulgar um comunicado militar.
Os atentado desta sexta-feira representam um desafio ao presidente Abdel Fattah al-Sisi, que descreveu a militância islâmica como uma ameaça existencial e a si próprio como um baluarte contra o extremismo numa região atingida pela violência e pela guerra. Jihadistas têm se deslocado cada vez mais para a região central do Egito, muitas vezes visando a minoria dos cristãos coptas.
PV/efe/ap/afp
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.