Ataque químico deixa mais de 50 mortos na Síria, diz ONG
4 de abril de 2017
Suposto bombardeio atinge província de Idlib, no noroeste do país. Crianças estariam entre mortos, e há relatos de feridos com sintomas de asfixia. Oposição fala em "massacre" e responsabiliza regime de Bashar al-Assad.
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Ao menos 58 pessoas, entre elas crianças, morreram num ataque aéreo envolvendo gás tóxico no noroeste da Síria, comunicou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) nesta terça-feira (04/04).
Citando fontes médicas e ativistas, o OSDH afirma que o ataque, executado por aviões não identificados, atingiu a cidade de Khan Cheikhoun, na província de Idlib. A ONG indicou que muitos dos feridos apresentaram sintomas de asfixia, vômitos e dificuldade de respirar.
O opositor Conselho Local de Khan Cheikhoun declarou via comunicado que houve quatro bombardeios com bombas termobáricas que continham gás cloro e gás sarin, deixando cerca de 200 feridos.
Ataque químico deixa dezenas de mortos na Síria
01:02
O conselho publicou fotos de várias vítimas, algumas menores de idade, deitadas no chão. Uma delas mostra uma equipe médica jogando água no corpo de um jovem. Ativistas também publicaram fotos nas redes sociais de crianças mortas empilhadas.
A Coalizão Nacional Síria, um grupo de oposição ao regime do presidente do país, Bashar al-Assad, descreveu o ataque como um "massacre". A aliança acusa o regime de executar o ataque e convocou o Conselho de Segurança da ONU a realizar uma reunião de emergência sobre o assunto.
A maior parte da província de Idlib está sob controle de facções rebeldes e islâmicas, entre elas a organização Libertação do Levante, aliança formada em torno da ex-filial síria da Al Qaeda.
Nos últimos dias foram registrados vários bombardeios, alegadamente com gases, no norte da Síria. Em 30 de março, mais de 50 pessoas ficaram feridas ou com sintomas de asfixia devido a ataques com aviões e helicópteros não identificados, alguns com substâncias químicas, na província de Hama, vizinha de Idlib.
PV/lusa/efe/dpa/rtr
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.