EUA dizem que ataque químico do regime sírio matou mais de 1.400
30 de agosto de 2013Sem o aval da ONU, o apoio britânico e ante uma resistência crescente do Congresso e do povo americano, o secretário de Estado John Kerry foi a público nesta sexta-feira (30/08), na aparente busca por uma justificativa moral para a cada vez mais iminente intervenção militar dos Estados Unidos na Síria.
Durante cerca de 20 minutos, Kerry deixou claro que, para a inteligência americana, não há mais qualquer dúvida de que o regime de Bashar al-Assad usou armas químicas contra civis. E afirmou que o ataque da semana passada matou mais de 1.400 pessoas, pelo menos 400 delas crianças.
"Sabemos de onde foram lançados os foguetes e a que horas. Sabemos que foram lançados de zonas controladas pelo governo sírio, zonas às quais os rebeldes não têm acesso", disse Kerry. "Esse é o horror indiscriminado e inconcebível das armas químicas. É isso o que Assad fez a seu próprio povo."
O secretário de Estado discursou após o presidente francês, François Hollande, garantir que seu país está preparado para atacar a Síria, mesmo após o surpreendente recuo britânico. O apoio de Hollande pode fazer justamente da França, país que virou as costas para os EUA na invasão do Iraque, o principal aliado americano na intervenção na Síria.
Ação limitada
Nesta sexta, Kerry voltou a ressaltar que uma ação americana seria limitada e uma resposta pontual ao uso de armas químicas.
"O povo americano está cansado de guerras. Mas cansaço não nos exime de responsabilidade", disse Kerry. "O presidente foi claro que qualquer decisão será limitada e será focada em responder ao uso de armas químicas."
Logo após a divulgação do relatório, o presidente Barack Obama reiterou a veracidade das provas, apresentadas com base num relatório da CIA, e criticou indiretamente a inércia no Conselho de Segurança.
"Não podemos aceitar um mundo onde mulheres e crianças são vítimas de gás", disse Obama. "Se não houver uma ação militar, estaremos enviando sinais de que as normas de segurança internacionais não têm sentido."
Em breve pronunciamento antes de receber na Casa Branca os líderes de Estônia, Letônia e Lituânia, Obama reforçou ainda que os EUA "não estão considerando o envio de tropas", mas sim uma ação militar limitada contra a Síria.
Recuo britânico
Na quinta-feira (29/08), por 285 votos contra 272, a câmara baixa do Parlamento britânico vetou a moção do premiê David Cameron por uma participação do país na eventual ofensiva contra o regime de Bashar al-Assad.
Durante o debate que antecedeu a votação em Londres, Cameron enfatizara não se tratar de uma invasão nem de uma substituição do regime na Síria, e sim de uma operação punitiva por um ataque já perpetrado. No entanto, não só o Partido Trabalhista, da oposição, como também os conservadores aliados ao primeiro-ministro exigiram provas conclusivas do uso de gás tóxico pelo regime de Assad.
Aliada da Síria, a Rússia reiterou nesta sexta-feira a sua oposição a uma ação militar internacional: "A Rússia é contra toda resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que preveja o uso da força [contra o regime sírio]", afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores, Guennadi Gatilov, citado pela agência noticiosa oficial Itar-Tass.
Tanto a França quanto a Alemanha aguardam, porém, os resultados da investigação realizada por inspetores da ONU que deverão deixar a Síria no sábado. A Alemanha disse que não vai participar de uma intervenção militar contra a Síria.
Segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a equipe de inspetores deverá divulgar suas conclusões preliminares para ele já neste sábado. As provas coletadas serão analisadas por laboratórios europeus em seguida.
RPR/ ap/ afp/ rtr