Movimento islâmico local fala em 21 mortes e responsabiliza organização extremista sunita Boko Haram pelo atentado. Segundo homem-bomba teria sido detido antes de detonar explosivos.
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Um atentado suicida atingiu uma procissão de centenas de muçulmanos xiitas moderados de Kano, a segunda maior cidade da Nigéria, para Zaria, comunicaram autoridades locais e um líder xiita, nesta sexta-feira (27/11).
Segundo um líder do Movimento Islâmico na Nigéria, Muhammad Turi, ao menos 21 pessoas foram mortas. "Perdemos 21 pessoas e várias outras foram feridas", disse.
Em comunicado, a organização afirmou que outro homem-bomba foi detido antes de conseguir executar a explosão e confessou que um segundo agressor estava na multidão. Este teria detonado sua bomba quando percebeu que seu cúmplice tinha sido detido.
"Estava vestido de preto como todos nós. O seu cúmplice tinha sido detido antes e tinha confessado que eles tinham sido enviados pelo Boko Haram. Eles faziam parte dos jovens raptados no estado de Borno, no ano passado, e foram levados para a floresta de Sambisa onde foram obrigados a passar por treino militar. Foram enviados para Kano há 11 dias e mantidos numa casa especificamente para realizarem este ataque", disse a organização.
A polícia informou apenas que houve mortes, mas sem precisar um número. "Foi em uma área de mata, numa área rural ao longo da rodovia. Nossa preocupação é assegurar todo o perímetro. A bomba foi feita de explosivo de alto calibre", disse o comissário da polícia local, Muhammad Musa Katsina. Ele afirmou que ainda não se sabe quem está por trás do ataque.
A suspeita provavelmente cairá sobre o grupo radical islâmico Boko Haram, que frequentemente utiliza homens-bomba para acertar alvos fáceis. como lugares de culto, mercados e estações de ônibus. Desde que perdeu neste ano a maior parte do território que controlava, a organização sunita voltou às táticas de guerrilha e jurou lealdade ao "Estado Islâmico" (EI). Na última semana, duas mulheres-bomba atingiram um mercado de celulares em Kano, matando ao menos 14 pessoas e ferindo outras cem.
Desde 2009, o Boko Haram tem tentando estabelecer um Estado islâmico nos moldes da sharia no nordeste da Nigéria. O grupo chegou a conquistar vastos territórios em 2014, antes de ser repelido por forças nigerianas e de países vizinhos.
Em seis anos de conflitos, ao menos 2,1 milhões de pessoas foram deslocadas e milhares mortas. A Anistia Internacional calcula que nesse período ao menos 20 mil pessoas tenham sido mortas pelo Boko Haram.
PV/lusa/afp/ap/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.