Guerra cibernética
28 de dezembro de 2010O Ministério do Interior da Alemanha está preocupado com o forte aumento dos ataques a computadores governamentais. O Departamento Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla em alemão) registrou entre janeiro e setembro 1,6 mil ataques, a maioria deles é proveniente da China. Em todo ano de 2009, foram registrados 900 ataques. "Há um aumento acentuado nos chamados ataques eletrônicos a redes do governo alemão", disse na segunda-feira (27/12) um porta-voz do Ministério do Interior alemão.
O governo alemão planeja, por isso, a criação no ano que vem de um "Centro Nacional de Defesa Cibernética". O porta-voz do ministério acrescentou que o centro deve ser acoplado ao Serviço Federal de Segurança em Tecnologia da Informação e deverá cooperar com o BfV, o Serviço Federal de Informações (BND, na sigla em alemão), e também com outros órgãos do governo, da indústria e de serviços de internet. "Não será criado um novo órgão estatal", ressaltou o porta-voz. "A ideia é agrupar todo o know-how já existente no domínio da defesa cibernética".
O porta-voz do ministério confirmou, em parte, um artigo publicado por um jornal do conglomerado alemão de mídia WAZ em que um porta-voz do BfV é citado, afirmando que os agressores tentaram ter acesso a dados internos de caráter político, militar e econômico. Segundo a reportagem, por trás da maioria dos ataques estão órgãos governamentais chineses. O BfV observa essa tendência desde 2005.
Tentativas chinesas
As tentativas chinesas de infiltração para espionagem de dados internos acontecem por e-mail. Quando anexos são abertos, um programa espião é instalado no computador alemão e estabelece uma conexão com a China, para transmitir os dados recolhidos. O mais recente relatório de inteligência admite indiretamente o sucesso dos atacantes. "Os ganhos para o lado chinês parecem predominar", diz o documento.
Os relatos de um aumento da espionagem eletrônica também devem ser do conhecimento do comissário para Indústria da União Europeia, Antonio Tajani. Ele propôs uma nova autoridade europeia para controlar a venda de tecnologias-chave para outros países. Assim, a Europa deve se proteger principalmente contra as companhias chinesas, que adquirem empresas na Europa para conseguirem acesso a tecnologias de ponta, segundo afirmou Tajani em entrevista publicada pela edição desta segunda-feira do jornal de economia alemão Handelsblatt O modelo para tal entidade seria o Comitê de Investimentos Estrangeiros (CFIUS, da sigla em inglês) dos Estados Unidos.
"Devemos proteger o nosso conhecimento", disse o comissário Tajani. Ele afirmou ser necessária cautela especial principalmente em relação a tentativas de incorporação de empresas de tecnologia. Nesses casos, segundo ele, é necessário que as autoridades desconfiem. O italiano vê por trás da aquisição seletiva de empresas de alta tecnologia por chineses ou fundos estatais árabes "uma estratégia política contra a qual a Europa também tem de responder politicamente".
Sobretudo a China mostra interesse
Especialmente alarmante é o interesse chinês em tecnologias-chave do Ocidente, afirmou Tajani. "Por isso, a venda de conhecimento de empresas europeias sempre é uma questão política", advertiu. A China dispõe de reservas cambiais de quase 2,6 trilhões de euros.
Os investimentos diretos da China no estrangeiro aumentaram neste ano em 12%, subindo para mais de 50 bilhões de dólares. Para o próximo ano, os especialistas esperam que os investimentos cheguem a 98 bilhões de dólares.
A China utiliza a maior parte dessa verba para garantir o acesso a matérias-primas importantes, seja na América Latina ou na África. Mas empresas ocidentais estão cada vez mais na mira dos chineses.
O planejado centro alemão de defesa cibernética deve, aliás, não apenas combater a espionagem industrial, mas também evitar os perigos de uma "guerra cibernética", ainda que nesse aspecto a Alemanha já esteja trabalhando em cooperação com seus aliados da Otan. Altos funcionários do setor de defesa em Berlim confirmaram que o governo alemão planeja erigir uma nova "linha virtual de defesa" com o centro de defesa cibernética.
Em maio passado, os EUA criaram um "Cyber Command" (cibercomando), responsável pela "quarta dimensão da guerra". O Reino Unido está se equipando cada vez mais no espaço virtual, segundo seu serviço de inteligência MI6. De acordo com o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, a aliança não apenas deve se defender em conjunto contra ataques militares convencionais por terra, ar ou mar, mas também contra ataques realizados através da internet.
Autor: Reinhard Kleber (md)
Revisão: Carlos Albuquerque